Endling: Extinction is Forever é muito mais do que um jogo. É uma mensagem poderosa para a humanidade. Mensagem não, aviso: logo pode ser tarde demais. Desenvolvido pelos maestros da Herobeat Studios, a aventura conta a história de uma raposa que precisa dar luz, criar e proteger seus filhotes enquanto o mundo está acabando. Apesar da premissa já entregar que a história reserva momentos com uma carga emocional gigantesca, acredite, você não está preparado pro que Endling: Extinction is Forever te reserva!
Endling e a maternidade
A abertura do game já causa um impacto tremendo. Estamos em uma floresta pegando fogo e os animais que vivem nela começam a correr em desespero. Os jogadores assumem o controle de uma raposa que está grávida e precisa urgentemente de um abrigo para dar luz aos seus filhotes. Com visuais belíssimos, que exaltam a beleza do mundo em decadência e o que estamos perdendo, aliados a uma trilha sonora fantástica, o pontapé da nossa história começa com um susto e depois com segurança. Ao encontrar um abrigo, a Raposa faz dali sua primeira morada, começando de fato o jogo. Nossos filhotes ainda não conseguem sair para o mundo, demandando que a mãe vá buscar um pouco de comida para eles. É a partir disso que temos o contato com as primeiras estruturas de gameplay da obra.
Extremamente pautado no realismo, a narrativa é contada em dias. Ao anoitecer, precisamos voltar rapidamente para casa pois o medidor de fome começa a cair mais rápido. A consequência da fome? A morte de um ou mais filhotes. São quatro ao todo. Após dois dias de calmaria, que introduzem aos mecanismos básicos da caça e da movimentação, um dos filhotes é raptado, dando início a nossa história de verdade.
A história completa conta com 30 dias. Em alguns desses dias, nada vai acontecer, teremos apenas que coletar comida para os filhotes. Nos outros, iremos sentir o cheiro do filhotinho raptado e teremos que coletar três fragmentos de memória para saber o que aconteceu com ele. A coleta dos fragmentos faz com que a história avance e consequentemente cause mudanças no mundo.
As estações se alteram e a devastação causada pelos homens só aumenta. Florestas inteiras são desmatadas em prol do comércio e da ganância e essa é a principal mensagem que o jogo quer passar. Contudo, diferente do efeito que sentimos ao ver notícias na TV sobre o desmatamento, o jogo torna tudo muito real, colocando o jogador no controle de uma família de animais ao mesmo tempo que gera conexão emocional com eles.
Sobrevivendo em um mundo hostil
A principal mecânica de sobrevivência do game é a barra de fome. Os filhotinhos precisam comer constantemente, contudo, os alimentos são escassos e demandam um leve senso de estratégia. As vezes, você está com sua barra de fome na metade e encontra uma lata de comida. É melhor comer agora ou deixar a lata no caminho e pegar em outra Noite? Aliado a isso, temos a mudança de estações e de tempo em geral. Alguns animais desaparecem para sempre, dificultando ainda mais o processo de encontrar comidas. Em última instância, sempre dá pra vasculhar lixos e entregar restos de peixes para os filhotes comerem. Vale tudo para não morrer de fome!
O peso da mensagem do jogo é um pouco atenuado através da natureza casual em que os sistemas dele foram criados. Ao morrer ou perder um filhote, o jogador pode simplesmente recomeçar a Noite em questão, fazendo com que seus erros sejam “perdoados” e ele adote uma nova rota ou estratégia.
Seguindo o que acontece no mundo real, o universo de Endling é cheio de perigos que estão em cada esquina ou trecho das florestas. Aves sedentas para lanchar um filhote de raposa, armadilhas de caçadores, humanos cruéis e um cambista de peles sádico são algumas das ameaças que a Raposa precisa driblar para manter seus filhos a salvo. Quando a ameaça se aproxima, a trilha sonora muda completamente, dando um toque mágico de urgência que reforça o desespero sentido pelos animais quando estão sendo caçados. Vale destacar que alguns predadores podem ser evitados usando uma abordagem furtiva. O botão R1 permite que a Raposa e seus filhotinhos ande de maneira sorrateira. Já para outros, a única solução é correr o mais rápido possível.
Reforçando o realismo, os danos sofridos pela Raposa geram consequências graves (mas temporárias). A criatura fica mancando, fazendo com que ela se torne uma presa fácil. Isso injeta uma dose de adrenalina inexplicável, fazendo com que o jogador esqueça tudo ao redor e bole uma estratégia para chegar na Toca mais próxima o mais rápido possível!
Família em ação
Além de se preocupar com a sua sobrevivência e a de seus filhotes, a Raposa precisa educá-los. A medida que eles crescem e os eventos se desenrolam, os filhotinhos vão aprendendo habilidades cruciais que aumentam suas chances de permanecerem vivos. Eles aprendem a escalar árvores, cavar buracos para pegar minhocas e caçar pequenos roedores, ajudando na coleta de alimentos.
O jogo é tão poético que essas habilidades são aprendidas após os filhotes passarem por experiências relativamente traumáticas, fazendo com que eles se tornem mais fortes e cientes do mundo em que vivem.
Por falar em trauma, os filhotes também ficam assustados e começam a andar devagar, tornando-os alvos fáceis para os caçadores e outros seres. Para acalmar a situação, a Raposa pode agir de maneira carinhosa, brincando com eles ou simplesmente de maneira protetora, pegando o filhote medroso com a boca e saindo correndo. A interação da mãe com os filhos obviamente é uma presença constante em toda a jornada e eu garanto que você vai se maravilhar com todas as interações!
Aproveitando a deixa, o mundo de Endling se assemelha a nossa vida real em mais vias do que poderia imaginar. Extremamente cruel, em pequenos momentos também podemos encontrar doses de esperança e apoio. Molly, uma criança importantíssima para a trama, representa a juventude e o anseio por dias melhores.
Endling: Extinction is Forever é essencial
É uma pena que o lançamento de Stray tenha tirado todo o buzz da Raposa e de seus filhotes. Com uma mensagem muito mais real, urgente e necessária, o jogo não vale a pena, ele é essencial e escancara uma realidade que insistimos em negar que existe. Com um ótimo tom poético, desempenho perfeito e uma visão de mundo apuradíssima, o Herobeat Studios conseguiu entregar um dos melhores indies que já joguei em minha vida e, sem nenhuma sombra de dúvida, o melhor indie de 2022 já lançado até agora!
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