No mundo de Chicory, os Pintores são as “pessoas” mais importantes que existem. Eles são responsáveis por dar cor ao mundo, tornando a vida de todos mais prazerosa. Os Pintores também dão formas às coisas e auxiliam as pessoas, se tornando uma espécie de Guardião do mundo.
Em Chicory: A Colorful’s Tale, jogamos com um Faxineiro que acaba se tornando o novo Pintor do pedaço. Embora este início faça com que o game pareça ter mais uma história clichê de ascensão social, este não é o caso aqui. Chicória, uma coelha Pintora, era a detentora do Pincel, objeto mágico e extremamente poderoso responsável por emitir as cores do mundo.
Embora Chicória tenha sido a escolhida para desempenhar o papel, as coisas não vão bem com ela. Descrente de si mesma e de seu merecimento, uma Escuridão misteriosa começa a se espalhar pelo mundo, fazendo com que a Pintora descarte o Pincel, dando motivo para a chegada do protagonista, o Faxineiro.
Chicory: Um jogo com Alma
Chicory apresenta doses cavalares de identidade e alma. O jogo contém diversos sistemas que o tornam único, contribuindo para que a experiência seja inesquecível. Similar a Concrete Genie, exclusivo do PlayStation, os jogadores também precisam usar o Pincel pra colorir o mundo, completando tarefas secundárias enquanto lida com a expansão da Escuridão. A diferença entre os dois games reside na profundidade do sistema de pintura, além da importância dada ao Pincel.
Logo no começo da aventura precisamos escolher o nome do nosso personagem. O game nos pergunta qual é o nome da nossa comida favorita, criando uma conexão instantânea com quem joga. Pizza, meu personagem, me proporcionou momentos fantásticos, além de ensinamentos extremamente valiosos.
A melhor definição para o título é a de que Chicory é um jogo íntimo. Ele conversa com a nossa alma. Os diálogos do game, extremamente inteligentes, abordam coisas como depressão, autodescoberta, propósito, vício em trabalho e por aí vai. Ele é quase um espelho da nossa sociedade e das engrenagens que permeiam nossa interação no dia a dia.
Tornando-se Da Vinci
Há quem diga que tudo na vida são ciclos. Logo, sempre existe um começo. Em Chicory é assim também. O protagonista cai de paraquedas nesse mundo dos Pintores, logo, ele não possui nenhuma habilidade especial. Lembrando a estrutura de Metroidvanias, os jogadores precisam progredir na história principal para desbloquear habilidades incríveis de travessia como Pulo e Nado, permitindo que áreas até então bloqueadas sejam alcançadas.
Além da possibilidade de aumentar a afinidade com o Pincel, que concede as habilidades ao personagem, o título também possui os Estilos de Pintura, trazendo um incrível grau de personalização para a aventura. Ao todo são 25 Estilos de Pinturas distintos, ressaltando a enorme variedade presente no jogo.
Esses Estilos de Pinturas são tratados como colecionáveis, mas eles não são os únicos. Durante sua jornada você vai coletar Sucata, limpando as áreas do jogo. Essas Sucatas podem ser usadas para comprar Decorações, objetos usados para enfeitar o mapa e concluir certas missões secundárias. Além desses dois tipos de colecionáveis, temos os Itens Visuais, que nada mais são que roupas e acessórios para o personagem. Parte dessas roupas estão espalhadas pelos cenários como Presentes. Já outras são concedidas ao completar missões secundárias.
Por fim, mas não menos importante, temos os colecionáveis chamados de Filhotes Perdidos. São filhotes de gatos que se perderam de casa e ficam se escondendo em árvores. Em suma, o conteúdo secundário de Chicory é tão substancial e significativo quanto o principal, estendendo a duração da obra de maneira inteligente e sem cansar o jogador.
Expondo o Talento
A arte é uma peça importantíssima em Chicory. Graças a isso, os desenvolvedores reservaram um espaço bastante especial para a pintura em si dentro do jogo. É possível tomar aulas na Academia de Arte e conhecer quadros “clássicos” e seus pintores. O mecanismo é fantástico por que os quadros são analisados da mesma forma que na vida real. Além disso, a Academia dá a oportunidade aos jogadores de criarem quadros virtuais belíssimos. Uma pena que eu definitivamente não tenho o talento necessário para tal.
Todas as criações do protagonista podem ser vistas ao visitar as diferentes cidades do mundo. Além disso, as representações dos clássicos ficam expostas em um Museu. Ao interagir com a Curadora do lugar, ganhamos réplicas dos quadros clássicos. Todo esse aspecto artístico é reforçado pela trilha sonora sublime que ajuda a construir momentos inesquecíveis. Não darei spoilers aqui, mas, existe uma cena na montanha que facilmente vai arrancar algumas lágrimas de você.
Chicory: Criatividade e Depressão
Surpreendentemente, Chicory possui lutas contra chefes. Embora existe a necessidade tradicional de “golpear” o inimigo com tinta, o que mais chama a atenção são as histórias e motivações por trás desses chefes. Através deles, o jogo passa uma lição poderosa sobre esgotamento mental, criatividade e a necessidade de cuidar da nossa saúde psicológica.
A negatividade e consequentemente a depressão costumam gerar buracos extremamente fundos que são bem difíceis de sair. É durante esses momentos que a família e principalmente os amigos fazem toda a diferença, servindo como uma rede de apoio para espantar a escuridão. Essa é uma das principais lições de Chicory.
Recursos do PS5
O jogo brilha ainda mais graças ao PlayStation 5. O áudio fica fantástico ao usar o Pulse 3D, e, como já era de se esperar, o DualSense eleva bastante o grau de imersão na aventura. Embora estes elementos sejam importantes, quem rouba o brilho mesmo é o Game Help.
Pra quem não sabe, o recurso, disponível para assinantes da PS Plus, concede diversas dicas do que fazer durante a campanha e em atividades secundárias. Como o jogo apresenta inúmeros puzzles e centenas de colecionáveis, o Game Help ajuda demais, principalmente os jogadores que assim como eu, decidirem ir atrás do troféu de platina!
Chicory: A Colorful Tale – Vale a Pena!!!
Eu poderia passar mais algumas horas escrevendo sobre os elementos positivos de Chicory e os motivos que o tornam um jogo imperdível. Mas, não existe muita necessidade nisso. O jogo é, sem nenhuma sombra de dúvida, um dos melhores indies que já tive o prazer de jogar em minha vida. Não somente isso, o impacto dele é tanto que o levarei pra sempre comigo na memória e no coração. Se você busca por uma experiência mais íntima, cheia de valor e que vai te transformar em uma pessoa melhor, Chicory: A Colorful Tale é um jogo obrigatório.
Greg Lobanov (Diretor), Lena Raine (Compositora), Em Halberstadt (Designer de Som), Alexis Dean-Jones (Artista e Animadora) e Madeline Berger (Artista de Ambiente), vocês ganharam um fã!
OBS: Esta análise foi feita com um código do jogo para PS5 cedido pela assessoria da Finji, publisher do game.