Quando pensamos em distopia, diversos mundos vêm à nossa mente. Nos games eles existem em grande número, com múltiplas construções de universo. Mas será que há espaço para mais histórias com este tema ou já temos uma grande saturação no mercado?
A COWCAT Games, estúdio independente francês, financiou por meio do Kickstarter o seu segundo projeto: BROK: The InvestiGator. O game traz uma premissa que mistura futuro, mistério e humor em uma narrativa muito interessante. Mas será que o jogo é tudo isso mesmo? Vamos descobrir.
Visuais
O final dos anos 90 e o início dos anos 2000 foi marcado por uma série de animações com estilo próprio e desenhos em 2D, apresentando novos personagens e criando histórias assistidas por muitas pessoas. Este estilo se mantém aqui, dando um toque nostálgico e muito bem-vindo. Há a sensação de se estar em um game do início do milênio, em uma época na qual diferentes visuais imperavam como regra.
Os personagens são muito bem desenhados, assim como o mundo ao seu redor. O estilo de arte realmente é muito simpático e convidativo, sendo um excelente ponto positivo para o game.
A jogabilidade de BROK the InvestiGator
BROK the Investigator possui uma jogabilidade maravilhosa, sendo este provavelmente o seu ponto alto. O game mistura elementos de beat ‘em up e point and click, com o jogador respectivamente batendo em inimigos e investigando o mundo ao redor. O título mistura elementos 2D e 3D em fases lineares que podem ser acessadas com certa liberdade a partir de um mapa.
Brok, nosso protagonista, é um jacaré que possui dois modos à disposição. O primeiro deles é o de aventura, baseado em investigar locais e pistas. Brok anota as pistas importantes que ver e pode usá-las, posteriormente, em sessões de interrogatório que juntam informações para obter conclusões. Outro elemento presente são puzzles bem elaborados. O jogador também encontra por todo o jogo panfletos que nada mais são do que dicas em potencial que podem auxiliar caso ele esteja empacado em uma seção do game.
Já no modo de combate Brok pode dar golpes, combos e se defender. Existem lutas contra chefes, as quais podem ser difíceis e testam as habilidades do jogador em se movimentar no tempo certo. As lutas, no geral, são muito satisfatórias com sensação de peso nos golpes. O jogador também pode comer ou beber, aumentando ou diminuindo suas estatísticas. Ao subir de nível é possível escolher entre evoluir força, vida ou ataque especial.
Uma coisa que é espetacularmente incrível é a liberdade no game. Existem obstáculos, mas estes podem ser resolvidos por mais de uma maneira. As abordagens em relação aos NPCs também ficam à escolha do jogador. Há soluções mais criativas e outras que envolvem apenas lutar. Esse grau de liberdade é surpreendente, aumentando o fator replay. Soma-se a isso o fato de Graff também ser jogável.
Narrativa
BROK the InvestiGator pode até enganar em um primeiro momento, mas fica claro desde o seu prólogo que não é um jogo para crianças. Logo no início já temos uma cena mais pesada, indicando o que podemos esperar do tom do título.
O jogo se passa em um mundo distópico que passou por um evento conhecido como “O Dia do Autarquismo”, o qual o transformou em um lugar que acirrou divisões de classes e aprofundou problemas. Habitantes mais ricos possuem mais recursos e vivem sob um domo de vidro que os protege da poluição. Dentro deste domo há uma ostensiva fiscalização por parte de robôs agressivos controlados pelo Triângulo, a autoridade máxima. Moradores mais pobres vivem em regiões periféricas e estão sujeitos a péssimas casas, violência e outros tipos de problema.
O mundo também é habitado por animais antropomórficos, que podem variar entre diversos tipos como aves, gatos e répteis. O mundo do game possui características próprias, como máquinas que dão banho e lavam roupas, geladeiras que guardam roupas e alimentos e canos com pílulas e pacotes. É um conceito “light cyberpunk”, onde as transformações do gênero ainda não aparecem de forma completa, mas já se mostram em estado de progresso. Estas informações não são jogadas de repente ao jogador, sendo necessário realizar um trabalho de investigação nesse sentido — além, claro, de se atentar aos diálogos.
Diversos temas ganham importância: democracia, desigualdade social, Estado policial entre outros. Há espaço até para tópicos mais recentes como Inteligência Artificial. Tudo é polvilhado com uma grande dose de humor ácido.
Temos Brok e Graff, dois personagens com suas próprias particularidades. Brok é um detetive bobalhão e que muitas vezes parece ser menos inteligente do que realmente é. Já Graff, seu filho adotivo, é um adolescente rebelde. Algo comum a ambos é o grande coração e também a incapacidade de se adaptar a um mundo montado em autoritarismo e aparências.
A história é muito interessante e apresenta reviravoltas inesperadas, não subestimando a inteligência do jogador e prendendo a atenção muito bem. Temos elementos ótimos e que fazem muito sentido neste mundo.
Desempenho, localização e trilha sonora
No que se refere ao desempenho, o game roda no PlayStation 5 sem nenhum problema. Na localização, temos um excelente acerto da COWCAT: embora BROK seja seu segundo projeto, ele possui textos do game e dos diálogos traduzidos para PT-BR. O trabalho nesse sentido é bom e permite que mais pessoas joguem o game. Localização para o nosso idioma é sempre um diferencial enorme e, nesse caso, BROK acerta em cheio.
Quanto à trilha sonora, ela não se destaca tanto. Apesar disso, é competente e faz seu papel em apresentar o mundo e os personagens.
BROK the InvestiGator vale muito a pena!
BROK the InvestiGator é uma joia na indústria. O cuidado da desenvolvedora em criar um game nostálgico e impressionante é bem-sucedido e nos traz um título de altíssima qualidade. A jogabilidade, o combate e a localização são elementos louváveis e tornam o game uma excelente experiência. Embora o uso do tema de distopia possa estar sendo levado à saturação, ainda assim há espaço para inovações e BROK traz muitas para justificar-se como jogo. É uma aventura imperdível que merece reconhecimento e muitas horas jogadas.
Obs: A análise foi feita em um PlayStation 5 com uma cópia cedida pela COWCAT Games, a quem agradecemos.