Até onde você iria pra realizar um sonho seu? O quanto você estaria disposto a arriscar pra ver ele se tornando realidade? Quanto tempo você dedicaria a ele? Todas essas perguntas estão profundamente relacionadas com Clive ‘N’ Wrench, um jogo de plataforma 3D desenvolvido por uma única pessoa. O exército de um homem só se chama Rob Wass, o idealizador do projeto. Mais de uma década depois, será que Clive and Wrench se sustenta em meio aos recentes lançamentos do gênero? Me acompanha em mais um review!
Combatendo o Mal
Assim como nas aventuras do nosso querido marsupial Crash, em Clive and Wrench também temos como papel impedir que um doutor maligno destrua o mundo. Apesar de ter esse componente narrativo, a proposta do jogo é ser um collect-a-thon leve e divertido onde coletamos relógios de bolso que estão ligados à viagem no tempo. Um recurso fantástico embutido em Clive é seu detector de relógios, fazendo com que a atividade de coleta se torne mais agradável.
Com 11 mundos principais ao todo, onde cada um coloca o jogador em uma época diferente, os estágios apresentam missões secundárias que concedem uma Pedra Antiga, um dos quatro tipos de coletáveis da aventura. São eles:
⁃ Relógios de Bolso
⁃ Pedras Antigas
⁃ Chaves de Ouro
⁃ Pergaminhos
Cada estágio apresenta 5 chaves de ouro que quando obtidas abrem um cofre com uma pedra. Os cenários possuem um pergaminho que pode ser trocado por uma pista de um segredo da fase com uma Lhama. No final de cada aventura temos um trecho que termina ou em uma perseguição frenética ou uma batalha contra chefes. Por sinal, cada estágio pode ser acessado através de um hub único que serve como ligação para todos.
As mudanças temáticas funcionam muito bem e trazem uma boa diversidade na jogabilidade. Além de mudar a estética de Clive ‘N’ Wrench, a trilha sonora também se adequa pra fazer mais sentido ao local visitado no momento. Isso permite que os jogadores tenham um excelente nível de imersão.
Caso você queira fazer 100% dos 11 estágios, pode ir separando entre 6 a 8 horas, uma quantia bem satisfatória de tempo para um jogo com essa proposta!
Chocolate Amargo
No que diz respeito ao gameplay, o jogo segue a linha padrão do gênero. Clive consegue rodopiar para bater nos inimigos, dar pulos duplos e planar ao girar seu escudeiro Wrench. Dois problemas que incomodam no jogo: muitas vezes o personagem acionava o pulo duplo “sozinho”, o que acabou ocasionando em morte ou fazendo com que eu caísse de plataformas, tendo que refazer todo o percurso. Algo extremamente irritante. O outro problema é que os controles não são tão responsivos quanto deveriam. Esse é um defeito gravíssimo em um jogo de plataforma. Muitas vezes fiquei com a sensação de que existia um lag tremendo entre o momento em que eu acionava os botões até Clive realizar a ação em questão.
Outro elemento defeituoso é o hit box, gerando muitos momentos de raiva durante as batalhas contra os chefes. Em diversas ocasiões os inimigos estavam consideravelmente longe e mesmo assim conseguiam causar dano em mim sem a menor explicação. Antes que você fale, bom, o que é que funciona no jogo? Já cito o level design. Outra estrela importante do gênero plataforma. Os colecionáveis estão muito bem escondidos e demandam um ótimo senso de exploração por parte do jogador. Fora isso, o trecho a ser percorrido é bem intuitivo e cheio de mecanismos que transportam o jogador ainda mais pra aventura, incentivando a imersão.
Como citei mais acima, temos diversas fases temáticas que vão desde um mundo da máfia inspirado em Poderoso Chefão até a terra do Papai Noel. Rob pensou muito bem em uma maneira de trazer diversificação pra obra e ele conseguiu com maestria!
Milagre Cibernético
Clive ‘N’ Wrench é um projeto de paixão de um único desenvolvedor que passou quase 11 anos de sua vida trabalhando no jogo. Ele batalhou contra muitas adversidades pra ver o jogo sendo lançado ao mundo e isso tem valor demais. Contudo, é uma faca de dois gumes.
Por ser um indie extremamente “raiz”, o projeto não teve um orçamento alto e durante boa parte de sua caminhada foi financiado exclusivamente por Rob. Por conta disso, temos visuais que lembram a era do PS2, uma jogabilidade “truncada” e um desempenho que poderia ser muito melhor no PS5. O jogo é super leve e mesmo assim roda apenas em 30 FPS na geração atual. Outro ponto que incomoda é a câmera. Ela é bem “dura” e até o momento de escrita desse texto, não existe nenhuma opção pra aumentar a sensibilidade na movimentação.
Como expliquei acima, precisamos ter em mente de que se trata do projeto de paixão de um único desenvolvedor, portanto, muitos desses problemas já eram esperados, mesmo com uma publisher apoiando a iniciativa.
Clive ‘N’ Wrench: Vale a Pena?
Eu sou um grande fã das aventuras de “bichos fofos que saem por aí coletando coisas”. Tendo jogado quase todos os exemplares do gênero, fico triste em afirmar que não recomendo a compra de Clive ‘N’ Wrench em seu estado atual. Penso que o melhor a se fazer é aguardar um pouco até o jogo receber alguns patches de melhorias e aí sim será o momento ideal pra mergulhar nesse mundo fantástico idealizado por um único criador.
PS: Este review foi feito com um código para PlayStation 5 cedido pela assessoria da Numskull Games.