No dia 27 de Fevereiro fui convidado pela A2 Filmes para assistir O Pastor e o Guerrilheiro na Reserva Cultural localizada na Avenida Paulista. Embora o filme tenha sido apresentado inicialmente no Festival do Rio 2022, o cineasta José Eduardo Belmonte entregou um longa-metragem dramático e emocionante com base nos horrores causados pela ditadura militar brasileira no ano de 1964. Baseado na história do livro ‘Relato de um Guerrilheiro’, a vida caótica do comunista João muda por completo após ser capturado por soldados do exército brasileiro. Ao ser alvo de inúmeras torturas, João conhece Zaqueu na prisão, um rapaz evangélico e de bom coração que foi preso injustamente durante o período da ditadura.
Obs: Esta crítica foi produzida graças a um convite de cabine de imprensa da A2 Filmes!
Pode ficar tranquilo(a), esta análise é totalmente livre de SPOILERS!
Linhas do tempo e descobertas angustiantes
Dividido em linhas cronológicas, a história de O Pastor e o Guerrilheiro se passa respectivamente durante o período da ditadura militar brasileira e a virada do milênio nos anos 2000 (1999-2000). Nossa protagonista Juliana é um grande ponto de virada para a narrativa, onde a jovem descobre as verdades sobre o passado terrível de seu pai já falecido. Essa movimentação cronológica constante pode gerar um certo incômodo para o espectador mesmo com a atualização das datas em todas as transições de cena.
Embora o longa apresente este salto temporal, os personagens são carismáticos e esbanjam emoções espontâneas de dor, sofrimento e angústia, tornando a experiência ainda mais imersiva e profunda. Enquanto isso, os diálogos dos prisioneiros Zaqueu e Miguel mostram uma verdadeira amizade mesmo com todas as circunstâncias que aquilo poderia ter causado para ambos.
Todos estes aspectos de sobrevivência podem ser complementados com a atuação impecável de Johnny Massaro (Miguel), no qual passou por um processo de emagrecimento para dar vida ao personagem e demonstrar seu sofrimento. É claro que não poderia deixar de mencionar a atuação de César Mello (Zaqueu) em seus momentos pregando a palavra para os fiéis da igreja ou durante seus diálogos particulares com Miguel. Senti falta de mais trechos que explorem essa amizade, cortando momentos desnecessários e irrelevantes para a trama principal. Vale ressaltar que isso não ofusca o brilho do projeto final!
O Pastor e o Guerrilheiro vale a pena?
Partindo do lado emocional para o lado técnico, O Pastor e o Guerrilheiro é um filme importante para reconhecer um marco histórico e cruel presente na vida do brasileiro. A sensação de angústia e dor é perceptível de acordo com a incrível atuação dos personagens, apresentando a realidade nua e crua de todos aqueles que sofreram com as consequências da ditadura militar. A história real por trás de O Pastor e o Guerrilheiro apresenta um cenário ainda mais catastrófico e movimenta debates diários sobre a luta de pessoas que não tem voz e são caladas sem a chance de expressar seus sentimentos. Mesmo com alguns furos em seu roteiro e cenas que poderiam ter sido expandidas para dar destaque aos prisioneiros, o filme aborda assuntos rotineiros e preconceitos expostos na cara da sociedade. Resumindo… O Pastor e o Guerrilheiro é uma aula de cultura e aprendizado para aqueles que pretendem conhecer a histórial real por trás das dificuldades da ditadura militar.