Desenvolvido e publicado pela Raw Fury agora em 2023 e disponível para PC, Switch e Xbox One e Series, Cassette Beasts se trata de um JRPG, ou RPG por turno, como queira chamar, que em sua mecânica ele se baseia em elementos da cultura pop dos anos 80 e 90 para compor seu universo e regras.
Direção artística primorosa
Primeiramente há de se destacar seu gráfico feito em pixel arte que lembra muito os jogos de RPG ali da época do PS1, Game Boy e Game Boy Advanced, principalmente Pokémon, sua inspiração mais clara em vários aspectos, mas ainda assim conta com atualizações que ao mesmo tempo também fazem lembrar de Minecraft em seus cenários feitos de blocos.
Por conta disso o jogo não é pesado e pode rodar bem em qualquer notebook com configurações razoáveis hoje em dia, além de apresentar uma paleta de cores bem viva e diversa, o que acaba funcionando como uma atualização de uma estética vintage, sendo visualmente agradável.
A narrativa de Cassette Beasts
Em seu enredo ele se usa de uma estrutura típica de animes ISEKAI, que pra quem não conhece, explico:
Imagine que um certo personagem está vivendo sua vida normalmente em dias ordinários quando um acontecimento excepcional o transporta para um mundo completamente diferente do seu, que possui outras regras, outros costumes, cultura e até mesmo outras criaturas. Fez você lembrar de animes como Digimon, InuYasha ou um mais recente: Sword Art Online? Pois é, esse é um gênero bem conhecido no ocidente e muito popular em mangás e animes que vez ou outra também dá as caras nos games, o próprio Final Fantasy X, por exemplo, faz um espécie de releitura do “isekai” na história do Tidus.
Após criar seu personagem, você acorda na ilha de Nova Murta (sugestivo) e logo descobre que é uma terra repleta de criaturas um pouco hostis, mas você também pode se transformar nesses monstros. NPCs que entram na sua party logo lhe ensinam que você pode meio que fazer uma cópia desses monstros se usando de FITAS CASSETES, isso mesmo, para fazer uma cópia e poder se transformar.
Então vocês partem em uma jornada para ajudar o protagonista a se lembrar de onde veio ao mesmo tempo que procura um meio de voltar pra casa. É muito simples e familiar a muitas obras em vários sentidos, mas a intenção aqui é essa mesma, e funciona.
Túnel do Tempo
Nesse ínterim os elementos do jogo vão sendo apresentados organicamente com várias referências aos anos 80 e 90 espalhados pelo jogo, seja em diálogos, cenários, e até mesmo itens. Eu mesmo soltei uma leve risada quando recebi um item chamado REBOBINADOR, que na verdade era um lápis! (GENIAL) E se você não entendeu, provavelmente você tem menos de 20 anos…
Mas essa não é a única referência às músicas dos anos 80 e 90, diversos golpes dos personagens também o fazem, mas a mais clara fica mesmo por parte da trilha sonora SEMPRE PRESENTE e bastante marcante. As canções originais evocam muito daquele clima de aventura dos anos 80 ou mesmo da rebeldia mais pop dos anos 90, mas sempre com uma sensação de descoberta e animação.
Fora que todo o design de som de iterações e menus também são bastante coerentes com a proposta do jogo de ser, não saudosista, mas abertamente nostálgico no melhor sentido que se possa empregar a essa palavra.
A jogabilidade
A movimentação no mapa é simples, ela te coloca em um ambiente 3D estilizado em pixel art, mas a movimentação é toda 2D, ou seja, cima, baixo, esquerda e direita, e em alguns momentos ou passagens escondidas no cenário o jogo brinca com a perspectiva e vira a câmera pra te lembrar que ele homenageia muito uma época mas é um jogo recente.
Ao andar pelo mundo você verá diversas criaturas que podem ser “Capturadas”, aliás, essa não é a palavra correta, porque diferente de Pokémon, você não pega os monstrinhos para si, na verdade vc cria uma cópia deles em uma fita virgem e quando vc escuta essa fita, você pode se transformar nesse monstro (O PODER DA MÚSICA!)
Isso durante uma batalha por turnos, que também usa um conceito que se aproxima do monitoramento e administração de estamina, parece confuso mas não é explico, novamente:
A cada turno as personagens da sua party recebem dois pontos de ação (PA) que podem ou não ser utilizados em seu turno. Os ataques simples não gastam nenhum PA, então será sempre possível atacar, porém habilidades requerem diferentes quantidades de PA, seja 1, 3, 5, etc, fazendo o jogador ficar atento a esses pontos para utilizar na hora certa.
Além dos PAs, outra mecânica que chama a atenção e traz um diferencial é a sincronia, ou seja, fusão momentânea! (É MUITO LEGAL!) Quando você e algum outro membro da sua PARTY desenvolvem uma certa amizade a opção de sincronia fica disponível e vocês podem fundir suas criaturas no meio da batalha dando origem um novo monstro com todas as habilidades dos monstros usados na fusão e com um numero maior em seus status, sendo uma opção muito viável contra chefes!
Fora que você sempre vai ficar muito curioso pra ver o resultado das diferentes fusões, porque o jogo possui mais de 100 monstros! É muito monstro! É muita fusão! A medida que você avança na história e vai liberando o mapa, mais monstros e mais possibilidades vão aparecendo, naturalmente. Além disso pode parecer ser um jogo fácil pelo seu visual fofinho, mas não se engane, Cassette Beats possui uma dose considerável de desafio!
A progressão
Apesar do sistema de batalha lembrar muito Pokémon, como já comentado anteriormente, sua maior e mais clara inspiração, as formas de evoluir seu grupo são bem diferentes. Além dos tradicionais níveis, aqui cada monstro gravado numa fita adquire estrelas junto da experiência, e quando sua fita atinge 5 estrelas é possível evoluir seu monstrinho, além disso alguns possuem linhas de evolução, fazendo o player se basear em uma descrição bem subjetiva do que o espera na próxima forma de seu monstro, fazendo assim aumentar sua curiosidade e trazendo um elemento surpresa para os que pensam que é apenas uma homenagem vazia. Não, Cassette Beasts possui bastante alma! (garanto que o trocadilho não foi proposital!)
Essa possibilidade de evoluir de forma diferentes seus monstros faz lembrar na verdade outra anime muito popular nos anos 90: Digimon, que possui essa marca registrada não apenas nos animes, mas também em seus jogos, sendo possível começar com um digimon e fazê-lo evoluir para diferentes formas, nesse caso, CB faz uma homenagem dupla.
Outro ponto que chama atenção aqui que também traz um diferencial é o fator exploração, pois o jogo se utiliza de seus gráficos em pixel art para proporcionar uma exploração diferenciada em relação ao level design em algumas dungeons e até mesmo no “mundo aberto”, pois a opção de planar (Zelda like?) lhe permite superar obstáculos ou distâncias que normalmente não estão disponíveis nesse estilo de jogo, sendo até mesmo possível aumentar sua estamina para poder correr mais ou planar mais longe, garantindo, dessa forma, mas apenas caso o jogador queira, fazer um backtracking em áreas subexploradas anteriormente, ou seja, evolua sua estamina e volte depois para terminar de explorar tudo.
Além disso, pela movimentação do mapa ser bastante simples, a complexidade fica por conta de inúmeros puzzles espalhados pelo mapa que ao resolvê-los você terá acesso a novas áreas, baús, desafios e etc, então se prepare pra gastar um bom tempo batendo cabeça. Mas ainda assim com tudo isso que foi mostrado o jogo acaba por ser ainda bem arraigado ao gênero, ou seja, não é tão amigável assim para iniciantes, pois possui muitas variantes e é bem complexo, ficando prejudicado quando o assunto é trazer novos jogadores para o gênero, ele não tem esse diferencial, e a meu ver este não é o escopo. É de fato um jogo feito para amantes do JRPG que já estão acostumados a passar bastante tempo upando, explorando o mapa, fazendo contas e combinações de cabeça.
Algumas particularidades de Cassette Beasts
Há de se destacar um elemento importante em Cassette Beasts que pode passar desapercebido pelos mais apressados ou pelos mais desatentos que é o seu excelente bom humor. Não digo isso apenas pelo fato do jogo ter inúmeras piadas em seus diálogos, mas também por ter diálogos bem construídos e leves, os monstros serem propositalmente engraçados e fofos ao mesmo tempo, e apesar do tema poder ser mórbido o jogo ainda consegue tratar com bastante leveza.
E sobre as piadas, provavelmente quem é um pouco mais velho vai conseguir aproveitar melhor, explico: Em determinado momento, ainda no início do jogo você confronta uma dupla de vampiros e um NPC que faz parte dessa quest explica que eles não são vampiros… Na verdade são AGENTES IMOBILIÁRIOS!!! Outra tirada que me arrancou um sorriso é uma interação com um NPC que está no meio do mapa e após vencê-lo em uma batalha ele lhe diz que ouviu falar que existe a fonte da juventude, mas ele se pergunta se essa fonte é arial ou times new roman. Certamente quem ainda não passou dos 20 não vai achar tão engraçado, mas certamente a maioria que chegou ou já passou dos 30 achará genial!
Uma das poucas críticas negativas que se pode fazer em relação ao game e levando em consideração tudo que ele se propõe a fazer é a falta de um controle maior do tempo das ações durante o combate, pois mesmo que seja um jogo inspirado em RPGs dos anos 90 e 2000, atualmente é uma mecânica recorrente poder acelerar as animações em batalha, um recurso que ajuda bastante pois nem todo dia você tem todo o tempo do mundo pra ficar vendo várias vezes a mesma animação e deixa jogos com combate por turno mais dinâmicos, e aqui realmente faz falta. E Diretamente ligada a essa questão do bom humor e piadas há de se destacar o trabalho BRILHANTE de localização em português brasileiro. E destaco essa questão porque o jogo não está simplesmente traduzido, ele de fato está localizado, adaptado ao jeito brasileiro de falar, contar piadas e ter diálogos. É possível notar os sotaques mesmo pela escrita, os maneirismos, modos de falar e etc, é de fato um trabalho que além de competente exala amor e isso deixa a experiência muito satisfatória para o player/consumidor.
Review de Cassette Beasts – Vale a Pena!
Cassette Beasts faz uma excelente homenagem a vários jogos clássicos que o antecederam, homenagens essas que são visíveis para quem conhece as referências e tornam a experiência bastante agradável, contudo sua essência não permite que ele seja apenas uma colcha de retalho de jogos anteriores, é um jogo que possui muita personalidade, muita alma, amor e se sai muito bem naquilo em que se propõe em fazer que é ser um jogo de um gênero que já não é mais tão popular mas que ainda rende ótimos títulos como esse.
Se você não gosta de RPGs de turno, esse jogo não é para você, na verdade ele é feito para quem já gosta do gênero e não pretende em nenhum momento atingir algum público que não seja esse, e dentro desse universo ele consegue se destacar pelo seu cuidado e atenção a detalhes que fazem a diferença.
Cassette Beasts faz uma excelente homenagem a vários jogos clássicos que o antecederam, homenagens essas que são visíveis para quem conhece as referências e tornam a experiência bastante agradável
- História
- Jogabilidade
- Desempenho
- Visual
- Trilha Sonora