O cinema brasileiro sempre provou ter títulos de grande calibre, com clássicos que atravessam os anos e são lembrados por gerações. Pensar em Cidade de Deus e Tropa de Elite, por exemplo, nos mostra que há grandes longas dos quais devemos nos orgulhar e lembrar que são produtos de qualidade. Esta qualidade também se estende a muitas outras obras. Tinnitus, por exemplo, é um filme incrível e que merece ser apreciado. Vale a pena? Já podemos adiantar, de início que sim. Mas, afinal, do que se trata Tinnitus?
Tinnitus é originalmente uma palavra derivada do latim, tendo em um de seus significados o zumbir. Este zumbido é o alicerce do filme, que se inicia com uma atleta de saltos ornamentais, Marina (Joana de Verona) que sofre um acidente e se vê acometida por um incômodo som que perturba seus ouvidos. É algo que acaba interferindo tanto na sua vida profissional quanto na pessoal, com suas relações com as pessoas sendo prejudicadas. Após realizar uma pausa nos saltos, Marina passa a trabalhar em um aquário. Entretanto, a vida que ela tem não basta: é preciso dar a volta por cima e voltar a saltar, considerando os Jogos Olímpicos que estão por vir.
Aos poucos vemos Marina lidar com suas dificuldades enquanto tenta retornar ao salto. A situação, porém, não é mais a mesma. Luísa (Indira Nascimento), sua parceira no esporte, está distante e possui uma nova dupla: Tereza (Alli Willow). Luísa faz o papel de antagonista em boa parte do filme e talvez o roteiro peque em estruturar seu personagem. Isto é atenuado pela ótima atuação de Indira, que consegue passar ao espectador os sentimentos da personagem.
Tereza foi a personagem que mais me conquistou no longa. Vibrante e com grande presença de cena, seu carisma é impossível de se ignorar. Willow realiza um trabalho incrível e fantástico, sendo totalmente brilhante. Já na personagem de Marina percebemos um tom mais neutro, sendo ela anestesiada por uma dor que a deixa imóvel.
Vemos um drama entre três mulheres sendo construído, com cada uma tendo sua forma de entender o mundo. A competição de salto ornamental é desempenhada por duas atletas, havendo uma disputa pelas vagas onde cada uma das personagens busca seu lugar.
Tinnitus é uma odisseia sensorial, com elementos sonoros e visuais muito vivos e destacados pela direção. O tinnitus, sempre presente, vai guiando a experiência. São Paulo, onde se passa o filme, sempre surge como uma metrópole esmagadora, capaz até de causar angústia com suas selvas de pedra e cimento intermináveis. Há toda uma questão contemplativa envolvendo cenas que abordam a cidade em seu interior ou de maneira panorâmica. Destaque para a fotografia que é muito boa. Temos uma paleta de cores fria e lúgubre que atua muito bem ao redor dos personagens.
As subtramas são interessantes, envolvendo personagens como Inácio (Antônio Pitanga) que busca na religião uma forma de obter paz. No filme como um todo, porém, há de se dizer que os diálogos poderiam soar mais naturais. O Japão exerce uma boa influência no filme com restaurantes, cenários inspirados em locais do país e os Jogos Olímpicos de 2020, objetivo final de Marina.
Ao fim das contas, Tinnitus é uma excelente surpresa com muitos pontos positivos. Também é um filme que tem várias bandeiras e interpretações. A frustração, a inveja, o desejo, a conquista, a valorização de atletas e de trabalhadores e a importância de ética no tratamento profissional são alguns dos pontos que brilham. Não são uma salada de frutas, mas sim são bem amarrados e nos entregam uma boa história que culmina em um final satisfatório.
Tinnitus é um excelente filme que traz um drama angustiante envolvendo uma atleta e um incômodo zumbido. Trata-se de um incrível filme brasileiro que merece ser visto!
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