O que fazer quando o tempo não é capaz de lavar feridas da alma? Por vezes, décadas não são suficientes para esquecer determinados eventos ou seguir em frente. É esta a proposta de Além do Tempo, filme de Theu Boermans.
Na trama somos introduzidos a Lucas (Reinout Scholten van Aschat/Gijs Scholten van Aschat )e Johanna (Sallie Harmsen/Elsie de Brauw), um casal jovem e muito apaixonado. Eles possuem um filho, Kai (River Oosterink), um garotinho que possui toda a atenção dos dois. A família decide aproveitar em uma viagem em um veleiro. Tudo parece bem, até que uma tragédia acomete a família. Trata-se da morte de Kai.
O evento, completamente destrutivo, provoca angústia, frustração e tristeza para o casal. As coisas nunca mais são as mesmas depois do trágico incidente. O luto é sentido em todas as suas formas, deixando o casal cada vez mais inserido em uma realidade que talvez não lhes caiba mais. Johanna entra em estado de negação, acreditando que Kai ainda pode ser resgatado e reencontrará os pais em breve. Lucas é mais pragmático, mas nem por isso é menos abalado pela situação. Ambos possuem suas particulares formas de fuga da realidade e de como lidar com uma perda inacreditável, que é o que a perda de um filho representa.
O filme possui duas linhas do tempo, delimitando dois períodos diferentes das vidas de Lucas e Johanna. O primeiro, como mencionado, traz ambos jovens. O segundo se situa mais de trinta anos à frente, em um contexto no qual os protagonistas já estão envelhecidos e possuem marcas de suas vivências. O filme reapresenta os personagens, que se reencontram após tanto tempo por algo inusitado. Lucas, agora diretor de teatro, quer fazer uma peça em ode ao seu falecido filho. Johanna, descobrindo a existência da peça, tem uma opinião oposta à realização do espetáculo. O assunto da morte de Kai inevitavelmente os coloca em rota de colisão.
Além do Tempo é um filme muito intimista, mas não é arrastado ou lento. As quase duas horas do filme caminham à frente dos olhos do espectador de maneira ágil e reflexiva. As duas linhas do tempo são exploradas da maneira correta, com uma direção cuidadosa e muito interessante. Tanto Lucas como Johanna também possuem seus próprios vernizes e momentos, não sendo personagens unidimensionais. Eles possuem suas particulares formas de encarar o luto e reagir às ações dos próprios parceiros.
O filme não possui grandes reviravoltas, estabelecendo uma linha de eventos sólida e que não se contradiz. O desenrolar dos eventos mostra feridas que não se curam com os anos e que podem ressurgir com ainda mais força décadas depois, assim como um amor que perdura durante a vida. A trilha sonora aborda esse mundo, trazendo a melancolia da tragédia e da perda sempre presentes nas trajetórias dos protagonistas.
Em suma, Além do Tempo é um ótimo filme. Tendo como foco central a relação de um casal com o luto, o filme se desenvolve bem e consegue apresentar um estudo sobre o trauma, a superação e a vida. Vale a pena!
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Além do Tempo é um filme intimista que traz lições sobre a perda, a dor, a morte e a vida. Vale muito a pena!
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