O espaço sideral é um dos enigmas mais bonitos da humanidade. E, em meio a tantos mistérios, ele serve de palco para diversas obras do entretenimento que brincam com todo o imaginário envolta das estrelas e planetas.
Com uma proposta diferente do habitual, Everspace 2 chega mesclando mecânicas de RPGs de mundo aberto com combates de naves espaciais, entregando uma experiência diferente e surpreendentemente divertida. Se você chegou até aqui se perguntando se Everspace 2 vale a pena, se aconchegue e se aventure comigo em mais um review do República!
Uma sequência… só que não
Everspace não é uma franquia muito conhecida no Brasil, então, vamos para algumas explicações básicas. O jogo anterior tinha uma estrutura bem diferente do que a da sequência, seguindo uma filosofia de roguelite. Como o primeiro jogo fez bastante sucesso, o estúdio conseguiu angariar recursos o suficiente para construir o jogo que eles sempre sonharam, daí surgiu a estrutura de RPG de ação e uma campanha tradicional com cerca de 30 horas de duração.
Os eventos, mundo e personagens seguem o alicerce construído no game anterior mas não é necessário ter tido o contato prévio pra ter uma imersão nesse novo jogo, o que é algo positivo. A narrativa segue a história de um clone de Adam, protagonista do primeiro game, e sua vida como mercenário. Logo no começo da campanha já conhecemos o tom da história e o que esperar da mesma.
Infelizmente, o estúdio seguiu um caminho inusitado de se contar uma história em um RPG de ação. As cutscenes são raras e a lore é despejada em chamadas entre naves, logs/diários e imagens. A solução é compreensível, visto que passamos quase 99,9% do tempo dentro da nave, mas não ajuda a criar uma relação com os personagens e tampouco se importar com a história contada.
Além das missões principais, temos missões secundárias que adicionam um pouco de contexto ao que acontece no mundo do jogo e concedem recompensas valiosas. A qualidade da escrita é boa mas dificilmente os jogadores vão se conectar emocionalmente com o que é dito e apresentado.
Caubói do Espaço
Everspace 2 não esconde que seu foco é o combate e o sistema de loot a lá Diablo. A customização da nave é a estrela principal do jogo e isso é reforçado por um gameplay extremamente preciso e acessível. Não se engane, nas dificuldades mais altas o jogo vai exigir um reflexo afiado e conhecimento profundo dos sistemas do jogo, contudo, a dificuldade padrão permite que até jogadores inexperientes no gênero como eu se divirtam e muito com o game.
Para atenuar a dificuldade, temos um sistema extensivo no que diz respeito às opções de upgrade das partes da nave, o que inclui as armas. Podemos melhorar a raridade do equipamento, aumentar o nível, remover restrições de nível e até instalar catalisadores que adicionam algum bônus passivo na arma, como reduzir a dispersão do tiro.
O “problema” do sistema é que ele demanda uma quantidade absurda de recursos, logo, prepare-se pra gastar incontáveis horas explorando e coletando tudo que você ver pela frente. No processo de obter os recursos usados nas melhorias, iremos pegar mercadorias que podem ser vendidas nas lojas que orbitam cada planeta. Um aspecto interessante da economia do jogo é que certos sistemas irão pagar um valor maior por determinado item por precisarem mais do mesmo. Esse detalhe pequeno só reflete o tamanho do cuidado e paixão da Rockfish pelo projeto.
Além das armas principais e secundárias, temos dispositivos acoplados na nave. Os dispositivos são habilidades ativas. Impulsos energizados, geradores de PEM… temos uma quantidade boa de opções que geram vantagens importantes nos combates, tanto ofensivas quanto defensivas. Esses dispositivos podem ser aprimorados com Pontos de Melhorias.
Por seguir o conceito de um RPG de mundo aberto tradicional, nós adquirimos XP derrotando inimigos e concluindo missões. Só subir de nível, diversos atributos são aprimorados. Everspace 2 conta com diversas atividades secundárias, incluindo uma no endgame. Tudo com a finalidade de manter o jogador ativo no game.
Desbravando o Desconhecido
Como mencionei mais acima, a exploração é vital no processo de manter a nave atualizada. Abrir containers, atirar em reservas de cristais, explodir cápsulas com recursos, detonar asteroides, explorar estações abandonadas.. Um detalhe que incomoda é toda a burocracia envolvendo os recursos e a exploração.
Pra começar, a coleta. Precisamos usar um Raio Trator para puxar os itens para a nave. O problema é que inicialmente esse Raio é bem “fraco” demandando que o jogador obtenha recursos para melhorar o alcance e potência. Os locais, ao serem concluídos, recebem a marcação de 100% explorados. As melhorias de Raio Trator e outros bônus passivos estão conectadas ao sistema de vantagens. As vantagens são perks passivos que concedem efeitos como pagar 70% a menos do valor cobrado para reparar a nave. O sistema é bem engenhoso, demandando que o jogador colete materiais e créditos para que um NPC específico habilite a vantagem. O mecanismo serve como um grande incentivo para que o jogador explore cada canto dos mapas.
Se movimentar em Everspace 2 também é uma atividade burocrática. Não podemos usar o impulso a todo momento. A energia acaba rapidamente e precisamos esperar a barra encher novamente. Para sanar um pouco esse problema, Everspace 2 conta com um recurso chamado de Controle de Cruzeiro onde podemos ativar um propulsor segurando X. Seria bem melhor não existir esse sistema e tornar o impulso infinito. Isso só torna o jogo mais complexo de maneira desnecessária. A limitação também se faz presente nas armas.
As armas principais sobrecarregam e as secundárias apresentam munições finitas que precisam ser recarregadas nas lojas. Entendo que o jogo busca entregar a experiência mais imersiva possível mas as limitações pensadas reduzem e muito o fator diversão.
Falando nas lojas, podemos vender equipamentos e mercadorias por créditos ou desmontar os itens para obter peças. As naves são as protagonistas de Everspace 2 e, graças a isso, temos opções riquíssimas de customização, tanto funcionais – como tipos/classes diferentes de nave quanto cosméticas. Dá pra trocar as cores da nave, da janela do cockpit e até as cores dos fogos gerados pelos motores.
Por falar em cockpit, um recurso fantástico do jogo é a possibilidade de mudar de câmera. Você pode desfrutar de Everspace 2 tanto em terceira quanto primeira pessoa. Isso muda integralmente a forma de se jogar o game e as duas visões funcionam bem dentro de suas respectivas propostas.
A parte técnica
Tecnicamente falando, Everspace 2 beira a perfeição. Exclusivo da geração atual de consoles e PC, o jogo conta com visuais de ponta, apresentando efeitos de partículas incríveis, naves belíssimas e palheta de cores vibrantes que transformam os combates quase que em um show de pirotecnia. O único ponto que me deixou incomodado foi a repetição de cenários/assets só que compreendo que não tinha muito o que se fazer nesse departamento.
Não estamos falando de um projeto AAA com orçamento gigantesco e toda a ação decorre no espaço e não na parte interna dos planetas, apenas em suas órbitas. Se fosse possível entrar nos planetas, como acontece em Starlink: Battle for Atlas, aí sim a proposta ficaria perfeita!
Durante meu tempo com o jogo, não tive nenhum bug, crash ou sequer quedas de frame, evidenciando o tremendo empenho que a Rockfish Games teve em deixar a experiência o mais redonda possível. Graças ao poder do SSD, os loadings são inexistentes e, pra minha grata surpresa, o DualSense não foi subutilizado pelos desenvolvedores. O controle responde juntamente com o motor da nave, aumentando a imersão. Além disso, os gatilhos adaptáveis se fazem presentes.
O trabalho na trilha sonora foi muito bem feito, com sons que fazem uma excelente alusão ao espaço e ao desconhecido. Infelizmente o mesmo não pode ser dito da direção de arte. Por motivos óbvios – espaço, a variedade de cenários quase que inexiste, o que gera um enorme senso de repetição e torna o jogo enjoativo. O problema poderia ser evitado se pudéssemos explorar a parte interior dos planetas e não ficar apenas na órbita deles.
Review de Everspace 2: Vale MUITO a pena!
Everspace 2 é o jogo dos sonhos para quem é fã da temática. Com um mundo aberto gigantesco, opções riquíssimas de customização e um volume significativo de conteúdo, a proposta é convidativa até para exploradores espaciais de primeira viagem. Alguns sistemas burocráticos poderiam ser removidos mas eles não tiram o brilho do projeto criado pela Rockfish Games!
Everspace 2 é o jogo dos sonhos para quem é fã da temática!
- Narrativa e Lore
- Gameplay
- Conteúdo Secundário
- Direção de Arte
- Som (Efeitos e Trilha Sonora)
- Desempenho