O Rei dos Piratas chegou à Netflix! A série de One Piece estreou há pouco no streaming e já conquistou milhões de fãs pelo mundo, além de fazer a franquia aumentar ainda mais e ser conhecida por novos públicos. Com uma história icônica em mãos, a Netflix tem a oportunidade de conseguir um produto longevo e que se transforme em um de seus carros-chefe. Poderia One Piece ser o “Game of Thrones” do streaming? Confira alguns paralelos que podemos traçar. Obviamente haverá spoilers à frente.
Conflitos políticos e grandes batalhas
One Piece é uma obra que pode ser vista por muitos como uma simples história de um pirata que estica. Entretanto, basta um olhar mais próximo para perceber que há toda uma lore gigantesca que esconde temas maduros e com uma seriedade não só para o anime/mangá, mas também para a vida real. A série já deu algumas pistas disso, mas há muito mais para ser encontrado nas próximas temporadas.
A Marinha, tratada como bastião da verdade e da justiça tem seu papel questionado, sendo revelado que os marinheiros de fato usam a noção de justiça de maneira distorcida, funcionando como um instrumento de controle por parte do Governo Mundial e de seus objetivos que muitas vezes são vilanescos.
O Governo Mundial possui um delicado equilíbrio com outros poderes constituídos, os Sichibukai e os Yonkou. Tal equilíbrio é explorado e dinamitado por várias forças com o passar da série, incluindo os piratas do Chapéu de Palha. Não bastasse isso, seus líderes, os Cinco Anciões, são fantoches de uma entidade misteriosa conhecida como Imu. Sob essa estrutura, o Governo Mundial busca manter poder e ocultar a verdade de antes de sua fundação, do chamado Século Perdido.
A jornada de Luffy eventualmente o faz se chocar contra os marinheiros e o próprio Governo Mundial. Os conflitos políticos acabam ganhando cada vez mais força junto com a ciência de que o embate marinha vs piratas não é tão preto no branco e que muitos piratas podem ser, na verdade, os mocinhos da história. Mas para além disso os Chapéus de Palha encontram diversos temas como a luta contra a escravidão, o autoritarismo e o racismo. Apesar de ter um tom leve em muitos de seus episódios, One Piece tem passagens e arcos realmente inspiradores e surpreendentes, provocando reflexões e incutindo valor à obra como um todo. A obra possui até espaço para momentos realmente sombrios e que nos fazem perceber que a franquia é muito mais profunda do que pode parecer.
No quesito grandes batalhas, há diversos momentos nos quais One Piece apresenta grandes lutas envolvendo Luffy e seus piratas. Há também batalhas massivas envolvendo golpes de Estado, lutas contra a Marinha e choques entre piratas. Material não falta para ser adaptado e recriar eventos icônicos!
A longevidade de One Piece
One Piece é uma das séries de maior longevidade na história, sendo escrito desde 1997 e estando no ar desde 1999. Com uma quantidade absurda de arcos, tanto o mangá quanto o anime já ultrapassaram mil capítulos e se encaminham para o seu arco final. Com esse amplo material de base a Netflix pode fazer diversas temporadas. Já foi expressado o desejo de realizar 6 delas, podendo se estender a 12 eventualmente. É um número sólido e factível: The Walking Dead, por exemplo, teve onze temporadas. Assim, One Piece seria um chamativo para o streaming de longo prazo, o fazendo não só pela qualidade do live-action em si, mas também pela expectativa gerada com a futura adaptação de eventos. Por anos, Game of Thrones foi o principal fenômeno da HBO. É de se pensar que One Piece pode seguir por este mesmo caminho no streaming concorrente.
Surge nisso tudo um problema. Hoje em dia é tradição de várias séries grandes de realizar um hiato de um ano entre uma temporada e outra. Esperamos que isso não aconteça com One Piece, ou as 12 temporadas planejadas do anime durariam insanos 24 anos. Não seria razoável com os atores e muito menos com o telespectador.
Multiplicidade de lugares e personagens
As Crônicas de Gelo e Fogo possuem muitos lugares diferentes, desde castelos até vilarejos pacatos e mundos inóspitos em dois continentes diferentes. Se há uma coisa que One Piece faz bem é apresentar também uma infinidade de lugares com os mais variados climas, formatos e possibilidades. A Ilha Drum, por exemplo, é coberta de neve, ao passo que Alabasta possui um terreno árido e Whole Cake tem um design que lembra doces. Os personagens também são muito diversos e não só em número: há vários designs, formas e expressões que tornam marinheiros e piratas únicos no universo de One Piece. Para se ter uma ideia, é possível associar uma risada como traço único de determinado personagem, o que mostra o cuidado de Eiichiro Oda com os detalhes. Assim como Game of Thrones possui suas casas e famílias influentes, One Piece conta com uma estrutura de poder na qual os governantes das ilhas e reinos possuem assento junto ao Governo Mundial para poder expor suas demandas (e temos até um trono, o Trono Vazio). Já os personagens menores são incontáveis, com muitos cruzando o caminho de Luffy de primeira e outros tendo aparições rápidas em flashfowards para depois serem introduzidos na história.
Um grande elenco vai exigir da Netflix um cuidado na preservação dos contratos dos atores a longo prazo a fim de impedir problemas com recasts. Sabemos que nenhuma série está imune a isso (Game of Thrones que o diga com Tommen Baratheon ou Daario Naharis), mas é importante que o telespectador não seja surpreendido por mudanças repentinas que possam provocar algum estranhamento.
Reviravoltas em One Piece
Game of Thrones sempre foi aclamada por suas reviravoltas impressionantes capazes de fazer o telespectador se surpreender e xingar os produtores. Foi assim em eventos icônicos como a morte de Ned Stark (então o principal protagonista da série), o Casamento Vermelho e o fim de Oberyn. One Piece, por mais que não mate nenhum dos Chapéus de Palha durante os anos, inclui também reviravoltas incríveis envolvendo a história. Mas, se uma morte importante for algo necessário, já há um forte candidato: Ace, irmão adotivo de Luffy que morre no arco de Marineford. Sua introdução ocorre por volta de Alabasta (o que poderia acontecer na segunda temporada) e seu assassinato pelas mãos do Almirante Akainu serve como um evento chocante que deve levar os fãs às lágrimas.
Fidelidade
One Piece pode acertar exatamente onde Game of Thrones mostrou alguns escorregões: na adaptação do material base. Como vimos na primeira temporada, Oda provavelmente está aproveitando o live-action para melhorar o arco original do East Blue e tornar tudo melhor na série. Apesar disso, a fidelidade em relação ao anime se mantém em sua estrutura, com grandes eventos se mantendo pouco ou nada alterados. Essas mudanças dão um dinamismo interessante à trama, que por alguns é considerada arrastada em outras mídias.
Há de se considerar que, uma vez que One Piece demore muitos anos para alcançar o arco atual, a série não passará pelo mesmo problema de Game of Thrones, que teve que criar um final próprio (já que George Martin ainda não escreveu Os Ventos do Inverno e Um Sonho de Primavera). É bem provável que o Arco Final já esteja escrito até lá e saibamos o que é o One Piece, permitindo que a série possa realizar uma adaptação destes eventos sem precisar se atrapalhar.
Orçamento
Game of Thrones em seu início possuía um bom orçamento, mas menor quando comparado às últimas temporadas. Ao longo da série de fantasia medieval tivemos gastos em diversos detalhes como batalhas densas e também com cenários e criaturas como dragões.
One Piece possui um orçamento gigantesco, mas talvez seja preciso ampliar ainda mais os gastos visando novos ambientes, personagens e efeitos que precisarão aparecer no decorrer das próximas temporadas.
E você? Acredita que One Piece possui potencial para se tornar o medalhão da Netflix?