Marvel’s Spider-Man 2 chega carregando o peso de duas grandes missões: “salvar” o ano da PlayStation que passou por uma escassez de exclusivos em 2023 e, claro, fazer jus ao legado que a Insomniac construiu até agora.
Impulsionado por toda a capacidade tecnológica do PS5, Marvel’s Spider-Man 2 proporciona ensinamentos positivos e negativos para a PlayStation e eu te conto tudo nesse review COM SPOILERS.
PS: Este review foi produzido graças a um código fornecido pela PlayStation Brasil.
PS2: Como mencionei acima, o TEXTO CONTÉM SPOILERS SIGNIFICATIVOS da história, leia por sua conta e risco!
Reencontros e Propósito
Para tornar Marvel’s Spider-Man 2 grandioso, a Insomniac decidiu usar dois dos maiores antagonistas do Teioso: Kraven e Venom. Os dois personagens são introduzidos aos poucos na história e suas motivações vão sendo explicadas ao longo da trama.
A personalidade e essência de ambos segue à risca o material da HQ, que serve como um excelente chamariz para os fãs dos quadrinhos. Kraven é implacável e representa uma das maiores ameaças enfrentadas pelo Aranha.
Seus formidáveis Caçadores não descansam até que a Grande Caçada se complete, trazendo um frescor muito bem vindo na lore. Já se tratando de Venom, o simbionte de outro planeta, sua escala de poder e múltiplas facetas são apresentadas de maneira magnífica e arrisco dizer que se tornou um dos melhores vilões de um game da PS Studios. O estúdio precisava aumentar o senso de urgência e perigo em relação ao jogo anterior e fico feliz em dizer que conseguiram isso com maestria.
Além das duas figuras vilanescas principais, outras figurinhas carimbadas como Mysterio e Lizard também se fazem presentes. No geral, senti falta de mais vilões, o herói é conhecido pelo seu acervo gigantesco de inimigos mas compreendo que o tempo era curto demais para inserir outros antagonistas de maneira convincente.
Por falar em tempo, o aspecto corrido da campanha prejudica demais a trama e as relações presentes nela. Peter e MJ não apresentam química alguma e o relacionamento entre os dois acaba tendo um aspecto forçado.
A relação de mentor entre Peter e Miles inexiste, muito pelo caminho que o estúdio optou por seguir com Peter. Ele está mais infantil, bobalhão e Miles muito mais maduro, o que gera estranheza, afinal, Miles é bem mais novo. Apesar do marketing do game ter vendido a ideia de que os dois personagens seriam jogáveis, a campanha funciona de maneira guiada, ou seja, cada personagem tem missões de campanha pré-determinadas.
Por conta disso, temos um foco muito maior em Peter, o que acaba sendo uma pena. O roteiro tornou o personagem bem menos interessante do que Miles. Peter é frágil, cego pela sua amizade com Harry. Até a transformação de sua personalidade, causada pelo Simbionte, não convence em primeiro momento.
Falando em roteiro, o jogo sofre com um problema de ritmo até os meados do ato 2, depois a situação gira de um jeito inexplicável. O meio do ato 2 até o final do jogo são eletrizantes e vai ser bem difícil para a Insomniac e a PlayStation no geral superar a sucessão de missões e eventos que acontecem em tão pouco tempo. Ainda falando sobre roteiro, temos um ponto ou outro que não faz o menor sentido.
A pior parte são as muitas lacunas em aberto que foram deixadas de maneira proposital pra vender DLCs ou justificar novos jogos. Carnificina, Silver Cat e Chamaleon são atirados na história mas seus arcos são apenas introdutórios. Falando nisso, a duração do jogo está sendo um tópico polêmico. Levei cerca de 24 horas pra fazer o 100%. Eu particularmente acho essa duração ideal pra esse tipo de experiência, contudo, tendo em mente que se trata de um game que custa R$350, consigo entender a frustração de alguns jogadores.
Ao zerar, desbloqueamos uma nova dificuldade e o estúdio já prometeu que está trabalhando no NG+, contudo, fica difícil estabelecer um fator replay com um conteúdo aberto tão raso.
Um é bom, dois deveria ser ótimo
A Insomniac deixou claro o que estava por vir nessa sequência numerada. Após sermos introduzidos a um Peter mais experiente no primeiro game, logo fomos apresentados à Miles em um game standalone, resultando em Marvel’s Spider-Man 2 reunindo os dois personagens de maneira jogável.
A intenção aqui foi louvável e, quando funciona, gera cenas memoráveis, contudo, a execução da coisa não funciona bem nos Atos 1 e 2. Miles é deixado quase que completamente de lado e a história é centrada em Peter e no drama exagerado que envolve ele e Harry. Miles por sua vez lida com sua sede de vingança pelo Sr. Negativo, o responsável pela morte de seu pai.
A situação é tão grave que por muitas vezes mais parece que o núcleo amoroso do jogo é Peter e Harry e não Peter e MJ. Com o tempo tão corrido, as relações entre os personagens são pessimamente exploradas, com exceção dos já mencionados Miles e o Senhor Negativo no ato final do game.
Para ilustrar o que quero dizer, em determinado trecho do jogo, o grupo visita o parque de diversões em Coney Island, uma das principais atrações turísticas de Nova York. Em uma questão de minutos, o local é brutalmente atacado pelos Caçadores e Peter precisa ser auxiliado por Harry, o hospedeiro original do Simbionte.
Miles é completamente jogado de escanteio nesse momento e em diversos outros do jogo, mesmo sem fazer o menor sentido. Como um dos principais pontos turísticos da cidade é atacado e o Spider-Man, que estava no local momentos antes, não aparece pra ajudar… Essas conveniências do roteiro geram um anti-clímax enorme na história. Outro ponto a ser citado é que inicialmente Peter acredita que o simbionte é na verdade um exotraje criado pelo Dr. Connors. Um cientista talentoso e extremamente inteligente vê tentáculos negros saindo de seu amigo e ele pensa que é um exotraje… Ele nem ao menos se demonstra curioso com a situação, até em um momento onde eles treinam pra tentar mensurar a capacidade do “traje”.
O jogo até tenta explorar outros personagens excelentes, como a própria MJ que recebeu bem mais destaque nesse jogo (felizmente), Wraith e Hailey. Mas no fim, acaba ficando com um gostinho de: queria e poderia ser mais.
Por falar em MJ, ela funciona quase como uma terceira protagonista do game e isso concede um frescor ótimo para a experiência. Seus trechos jogáveis me lembraram as missões furtivas de Call of Duty. MJ simboliza que pessoas comuns também podem ser heróis, mesmo lidando com uma carga imensa de problemas sem o apoio de ninguém.
Salvando o Dia
Por se tratar de uma sequência, certamente o estúdio precisaria aumentar ainda mais a escala de poder dos dois Teiosos. Felizmente, isso acontece na dosagem certa e com um timing quase perfeito.
Na medida que os personagens enfrentam dificuldades maiores, suas habilidades são aprimoradas. Miles com suas habilidades Venom se mostra um Aranha competente e extremamente poderoso, capaz até de rivalizar com o próprio Peter em poder.
Já a evolução de Peter acontece em três pilares. Inicialmente melhoramos os ataques dos braços aranha, depois o Simbionte entra em cena, elevando o gameplay ao máximo. A experiência de jogar com o “traje” do Simbionte é um sonho se tornando realidade e tudo é muito satisfatório. As sensações são elevadas ao máximo graças ao trabalho impecável que a Insomniac fez com o DualSense. Cada golpe, aparo e lançamento de teia é sentido através do controle.
Falando nisso, quando usamos o Venom Surge, o modo de fúria do Simbionte, ele começa a gritar pelo alto falante do controle, aprimorando ainda mais a experiência sensorial do combate.
Temos um acervo ótimo de habilidades e a progressão e customização segue à mesma filosofia dos jogos anteriores. Podemos aprimorar os dispositivos usando fichas, que também são usadas para aprimorar os aspectos passivos dos trajes e, claro, liberar novas opções cosméticas.
No geral, o jogo é estruturado como uma espécie de beat em up, logo, tudo que envolve progressão de personagem é bem básico. Temos três árvores de habilidades: uma pra Peter, uma pra Miles e uma compartilhada. Para completar a árvore, basta mudar de nível e aplicar os pontos, indo até o máximo de 60.
Apesar de Marvel’s Spider-Man 2 contar com uma lista bem vasta de combos, o combate passa uma sensação enorme de repetição por conta da pouquíssima variedade de inimigos e reciclagem de assets, um problema que também esteve presente no primeiro jogo. Como os inimigos são divididos em gangues, fica difícil não achar o combate um pouco enjoativo as vezes.
Um aspecto do combate que Marvel’s Spider-Man 2 aprimorou absurdamente são as lutas contra chefes. A escala das lutas aumentou consideravelmente, temos perseguições eletrizantes e chefes bem mais desafiadores e com um leque excelente de ataques. Como mencionei acima, o aparo de golpes é vital para derrotar certos inimigos de elite e chefes, trazendo um leve ar de Souls para o combate. Mas calma que a janela de aparo aqui é generosa até demais. O design dos chefes está impecável e o boss final do jogo é simplesmente inesquecível. Prepare-se!
É impossível não amar o combate do jogo quando chegamos no trecho que todos esperavam. Sim, nós podemos jogar com a forma final de Venom, destruindo tudo e todos pela frente. Devorar cabeças, quebrar colunas, destruir prédios… a Insomniac prestou o maior fan service de todos os tempos nos games!
Ajudando a Vizinhança
A Nova York de Marvel’s Spider-Man 2 é tão fiel à vida real que chega a assustar. O trânsito caótico, os ratos gigantes, a população que se vira pra se divertir do jeito que pode, as centenas de atrações turísticas..
A Insomniac foi além pra apresentar um local familiar mas que ao mesmo tempo está bem diferente dos demais games. É diante desse contexto que o conteúdo secundário entra em cena, aspecto que pra mim era o principal problema do jogo antecessor.
Temos uma variedade maior de atividades que em sua maioria estão mais orgânicas. Sim, os acampamentos de bandidos e bases inimigas estão de volta, mas as missões secundárias em sua vasta maioria estão com um nível de qualidade bem maior. Inclusive, elas deixam indícios de DLCs.
Em uma linha de missões, vemos o surgimento do que provavelmente vai vir a se tornar o Carnificina. Em outra questline, recuperamos uma varinha mágica pra Wong e o Doutor Estranho (infelizmente eles não aparecem). Em outra, entendemos a principal motivação do Sandman.
Outra atividade nos coloca na mira do Chamaleon e descobrimos que ele é irmão de Kraven. Os easterggs também estão presentes a rodo. Uma das fotografias que precisamos fazer nos coloca pra registrar um disco de frisbee que lembra o escudo do Capitão América.
A história de Howard, o cara dos pombos, também tem sua emocionante conclusão apresentada no game. Aliado ao conteúdo secundário, temos diversos puzzles incríveis que giram em torno de destruir células para montar cadeias de moléculas, usar o Spider Bot pra abrir caminho pro Teioso ou montar códigos genéticos de plantas. No lado de Miles, podemos ajudar os membros de sua escola e recuperar recursos dos esconderijos do Prowler.
A Insomniac aproveitou a deixa pra gerar um pouco de transmídia. Temos citações diretas ao Spiderverso e a Miguel (quem já viu os filmes animados vai saber quem é!). Outro ponto importante é a visibilidade que o jogo se propõe a dar pra grupos minoritários.
O interesse amoroso de Miles, Hailey, é surda. Temos missões relacionadas aos grupos LGBTs e a cultura “comunitária” de Miles continua ganhando destaque, apesar de ser em uma escala bem menor do que em seu jogo próprio.
O grande problema com a exploração e o conteúdo secundário é que com exceção das Questlines que envolvem vilões, não temos bons incentivos. Concluímos a missão e ganhamos XP e ficha, mas é só isso. Por ser estruturado mais como um brawler, a exploração é completamente trivializada. O foco aqui é total na narrativa.
A locomoção foi aprimorada graças a novas mecânicas que envolvem o balançar das teias e ao novo planador (os túneis de vento são bem legais!), contudo, qual o sentido em se locomover quando temos viagem rápida instantânea pra qualquer ponto do mapa e 0 senso de recompensa?
No geral, a sensação que fica é que a filosofia de mundo aberto usada pela Insomniac continua datada, lembrando jogos do começo dos anos 2000 como Prototype.
Não tão Espetacular
Tecnicamente falando, Marvel’s Spider-Man 2 é quase perfeito. Temos a viagem rápida mais absurda da geração até agora, diversas opções de modos gráficos que incluem VRR e suporte pra telas com 120 Hz, um excelente uso do HDR e uma NY que impressiona tanto que chega a assustar.
Por outro lado, sofri uma série de problemas técnicos que não deveriam estar presentes no lançamento do jogo. Foram nada mais nada menos que 6 crashes ao longo das 24 horas de jogatina. Além disso, 4 missões principais bugaram, impedindo o progresso e me obrigando a voltar o save.
Esses problemas são minimizados com setpieces que são facilmente os melhores da indústria até agora. A Insomniac tem se aperfeiçoado no assunto e, após Ratchet and Clank: Rift Apart, pensei que não tinham como melhorar e felizmente eu estava errado!
Os personagens são cheios de identidade e a dublagem em PT-BR de todo o elenco está impecável. Ao longo das lutas, podemos ouvir várias piadocas de Peter, que aproximam o personagem da sua essência tradicional dos quadrinhos. Um problema nesse sentido é que em muitos momentos existe uma dessincronia entre o áudio e a legenda, mas é algo que pode ser facilmente resolvido.
Um fato curioso é que a qualidade das expressões faciais oscila bastante. Em certas cenas, elas deixam a desejar, já em outra se aproximam do fotorealismo. Visualmente falando, ainda não temos um nível similar à Horizon Forbidden West e a Decima Engine, mas a Insomniac está chegando perto!
A trilha sonora também é digna de nota, com músicas que reforçam o heroísmo ou o senso de urgência da trama. Além disso, os efeitos sonoros estão insanos. Podemos ouvir com uma nitidez absurda o som de armas caindo no chão, pássaros cantando, felinos andando, o ar cortando o personagem enquanto planamos pelo ar.
A cereja do bolo são as diversas opções de acessibilidade que permitem que portadores de deficiências visuais, sonoras ou físicas tenham uma boa experiência com o jogo!
Review de Marvel’s Spider-Man 2: Um Home Run da Insomniac!
Marvel’s Spider-Man 2 é mais um passo na direção certa. Acredito que ninguém vai discordar da seguinte afirmativa: a Insomniac é o estúdio mais impressionante da indústria atualmente. A equipe tem entregado uma sequência de games arrebatadora em um curto espaço de tempo, tornando-se os “pulmões” da PlayStation nessa geração. Apesar dos pormenores, que devem ser resolvidos em breve num patch de correção, o game vai ser facilmente considerado o melhor jogo de herói já feito. A discussão vai depender se você tem uma preferência maior por aranhas ou por morcegos!
Marvel's Spider-Man 2 é mais um grande acerto da Insomniac, expandindo o espetacular universo do Teioso nos games.
- Narrativa e Lore
- Jogabilidade
- Conteúdo Secundário
- Visuais
- Som (Trilha Sonora e Efeitos)
- Parte Técnica
1 comentário
o jogo é incrível como eu esperava,tudo o que o primeiro fez, esse está fazendo melhor, mas esse é o problema, não vejo nenhuma diferença real com o 1º balançar entre prédios é divertido, com nova animação e tudo mais, fora da história você realmente não tem motivo para explorar o mapa se não for pelos colecionáveis, experimentei alguns bugs também, mas não o suficiente para perceber que é um jogo de 12h