Eu não poderia começar esse review de Helldivers 2 sem falar sobre amor. Louco, não é? Falar sobre amor em uma análise de um jogo de tiro focado em extração. Mas você vai entender nas próximas linhas.
A história da criação da franquia Helldivers começou em 1997. Curiosamente, o mesmo ano em que este que vos escreve nasceu. Foi em 97 que o filme Tropas Estelares foi lançado. O longa-metragem que se tornou um cult é inspirado no livro de mesmo nome escrito por Robert Heinlein. É aqui que a primeira pitada de “amor” surge. Robert é considerado um dos maiores escritores do gênero de ficção científica e ele ajudou a cimentar o que viria a se tornar o termo space marine.
Algumas décadas depois, em 2015, o Arrowhead Game Studios lançou Helldivers, um jogo de tiro com visão isométrica que chegou como uma carta de amor para o emblemático filme protagonizado por Casper Van Dien. Curiosamente, Helldivers 1 foi o primeiro jogo que a Sony publicou para o PC em toda sua história.
Agora, quase 10 anos depois, a aguardada sequência chega com diversas mudanças que modernizam a proposta original do estúdio sueco. Maior, mais bonito e mais letal, acompanhe-me nesse review de Helldivers 2.
Pela Superterra!
Sem uma campanha tradicional, Helldivers 2 é um jogo bem direto em sua proposta. A narrativa, se é que podemos chamar assim, coloca os jogadores no papel de um Helldiver, uma espécie de paraquedista do futuro com um papel bem definido: proteger a Superterra dos avanços dos Termínidios e dos Autômatos.
Com um filme inicial e um treinamento bem irreverente, é inevitável pensar no diálogo de Tropas Estelares sobre o que significa ser um cidadão. E a reverência direta existe no título obtido ao comprar o Passe Premium – Supercidadão. No jogo, assim como nas obras que o inspiram, espalhar a democracia significa exterminar as raças alienígenas que ameaçam o estilo de vida humano.
A “campanha”, chamada de Guerra Galáctica, coloca um mapa da galáxia na nave do jogador e divide os territórios em setores. Cada setor é composto por diferentes planetas que podem ser tomados/atacados por diferentes raças. Até o momento temos apenas duas raças inimigas: os termínidios, insetos que lembram baratas e os autômatos.
O progresso de cada planeta e setor é compartilhado entre todos os jogadores de Helldivers 2. A ideia funciona bem e reforça o sentimento de coletividade. É a humanidade contra todas as outras raças. Outro aspecto genial implementado pelo estúdio é a existência de um Game Master.
Similar aos jogos de tabuleiro, o Game Master é basicamente uma interferência direta do estúdio nos avanços do mapa e nas partidas. As vezes, o Game Master atua ajudando a equipe, enviando coisas como uma Estratégia extra. Mas ele pode dificultar a vida dos jogadores, decidindo aumentar o tempo necessário para a extração. O sistema é maravilhoso e reforça a ideia de que toda partida é única, favorecendo o excelente fator replay do jogo.
Espalhando a Democracia
O melhor jeito de descrever Helldivers 2 é falando que o jogo se trata de um simulador de batalhas espaciais com foco no online. E o ponto de interesse aqui é a palavra simulador. O combate estratégico é vital e, além de se preocupar em se proteger e destruir hordas de inimigos, precisamos ficar atentos para não ferir os membros de nossa própria equipe. É nesses momentos que os jogadores costumam usar o dolphin dive e gerar vídeos hilários que acabam viralizando no X.
Brincadeiras à parte, no militarismo real, o posicionamento é crucial para garantir a vitória e é gratificante finalmente ver um shooter seguindo essa cartilha. No jogo da Arrowhead, andar sem analisar o ambiente significa a morte. Mas nem sempre. O game tem um sistema de dano criativo, onde partes do nosso corpo podem ser machucadas. Feriu a perna? O personagem vai começar a mancar. Feriu os braços? Manusear as armas vai se tornar uma tarefa difícil.
A colaboração é um fator importante e por isso podemos coletar qualquer item convocado por pods de aliados. Além disso, os aliados podem nos curar com as seringas e até reabastecer nossa munição. A animação de recarregar a bazuca de um amigo é a minha predileta do jogo!
Graças a essa veia de simulador, a nossa movimentação é impactada pelo tipo de armadura que usamos. Quer usar armaduras super pesadas que concedem boa defesa? Se prepare para se mover igual a uma tartaruga. As condições climáticas também afetam o personagem, seja diminuindo a mobilidade ou prejudicando os tiros. O frio extremo por exemplo deixa a velocidade dos tiros mais lenta.
A variedade de missões do jogo impressiona e boa parte das missões possuem objetivos principais, secundários e atividades que aumentam as recompensas ao extrair. Isso torna o jogo bem democrático. Teve uma emergência e precisa sair logo? Basta concluir o objetivo principal e solicitar a extração.
Contudo, ao meu ver, esse é o jeito errado de se jogar Helldivers 2. O motivo? A exploração dos mapas é vital na progressão do jogo. A progressão acontece através de três tipos de moedas:
- Requisições: O “ouro”, usado para comprar novas Estratégias
- Medalhas: Usadas para evoluir o passe gratuito e o premium
- Amostras: Com três tipos de raridade, são usadas para melhorar os compartimentos da nave
A progressão do game é propositalmente simples. O estúdio não quer que o jogador fique muito tempo na nave e pensando demais, a ideia é lançar os jogadores diretamente na ação e no menor tempo possível. Essa ideia é reforçada pela duração das partidas que costumam durar entre 30 a 35 minutos, quando não são na modalidade relâmpago. Falando isso, o game tem uma das práticas mais pró-jogador que eu já vi em um multiplayer.
A moeda premium, chamada de Super Créditos, pode ser obtida tanto no passe gratuito quanto ao explorar o mapa nas missões, permitindo que qualquer jogador acumule 1000 moedas e obtenha o passe premium e o cobiçado título de Supercidadão. Baita bola dentro da Arrowhead!
E caso você esteja se perguntando se o Passe Premium concede boas vantagens, a resposta é sim! O passe possui algumas armas que facilitam levemente as missões. As armas do passe “vip” são variantes do passe tradicional. Essas variantes possuem efeitos adicionais, como munição incendiária, ajudando a destroçar os inimigos de maneira mais veloz.
Por falar em armas, a estrutura simplificada da progressão é seguida nos equipamentos. Temos a armadura, que apresenta bônus passivos e possui status diferentes que variam conforme o peso e o capacete e a capa que são puramente cosméticos. Eu senti uma certa falta de variedade no quesito armas de fogo principais e secundárias, mas o gunplay do jogo ajuda a diminuir o impacto disso.
Os inimigos respondem bem ao dano e fogem da sensação de estar atirando em esponjas. Todos os armamentos possuem uma qualidade sonora notável, aproximando-se da realidade, fora o recuo que também passa um senso maior de realismo na medida do possível. A cereja do bolo é que podemos mudar a perspectiva da câmera ao mirar, transformando Helldivers 2 em um FPS por alguns segundos.
Todos esses detalhes são ajustados no menu de pré-preparo. Exibido antes das missões, o menu é bem intuitivo, permitindo que o jogador troque suas armas, granada, reforços e estratégias. Para um jogo no lançamento, a variedade de missões é vasta, contudo, o estúdio precisa correr e detalhar o roadmap de conteúdo. Em suas condições atuais, Helldivers 2 tem conteúdo para se manter fresco por uns 40 a 50 dias.
Após isso, as missões podem começar a ficar repetitivas, mesmo com as fases procedurais e as interferências do Game Master. O maior desafio da Arrowhead vai ser o de adicionar novos conteúdos com uma frequência alta.
Falando em missões, a filosofia do jogo de que cada missão seja única é seguida a risca. Os cenários mudam constantemente. Ora estamos em uma missão de dia, ora de noite. Ora lidamos com uma nevasca, em outro momento estamos com a visão completamente embaçada por uma tempestade de areia. O jogo brinca constantemente com os cenários e após jogar quase 30 horas ainda estava conhecendo novos biomas.
Os objetivos das missões seguem a cartilha militar de desativar bases inimigas, obter códigos e lançar um míssil que lembra uma bomba nuclear, sabotar instalações inimigas, derrotar um comandante inimigo e por aí vai. Os objetivos são divididos em principais e os táticos, que vão se alterando dentro da missão.
O único defeito da jogabilidade de Helldivers 2 pode nem ser considerado um defeito pra muita gente. O jogo é incrivelmente chato quando jogado sozinho. A experiência muda completamente e, caso você esteja pensando em comprar o game para dar uma de lobo solitário, recomendo mudar de ideia!
A beleza da destruição
Helldivers 2 é um jogo para a atual geração e ele não esconde isso em nenhum momento. As texturas do cenário, das armaduras e dos inimigos estão belíssimas. As técnicas de iluminação aplicadas pelo estúdio concedem um charme a mais ao jogo e os ciclos do dia desempenham um papel crucial nisso.
Jogar uma missão dos autômatos de noite é como ir para um show de Alok. Milhares de lasers e explosão tomam conta da tela, entregando um espetáculo visual que é difícil de ser esquecido. Os efeitos de explosão em Helldivers 2 são os melhores que já vi em um shooter. Pedir uma bomba de 500KG via Águia e ver ela explodindo é prazeroso demais. Outro ponto forte é que graças ao SSD do PlayStation 5, as partidas carregam super rápido, reforçando o loop de gameplay simples e frenético que o estúdio quis estabelecer.
A qualidade do chat de voz é excelente e minha equipe nunca usou o recurso de Party ou o Discord para se comunicar, algo que costuma ser bem comum em outros títulos multiplayer. A qualidade da conexão também me impressionou.
Joguei cerca de 4 horas ininterruptas com três americanos e não tive sequer um lag durante nossas missões. Isso com uma internet de 100 MB. A cereja do bolo é a localização completa em PT-BR e esse quesito tem aplicabilidade no gameplay.
Nosso personagem costuma gritar para alertar seus “status”. Jogou um ataque orbital? Existe essa pista auditiva. Está sem munição? A comunicação também é feita de maneira automática. Por ser um jogo altamente estratégico, ficar atento à essas pistas auditivas aumentam as chances de sucesso na missão.
Mas nem tudo são flores. Por algum motivo que jamais saberemos, Helldivers 2 não teve sequer um teste alfa e o lançamento do jogo veio acompanhado de problemas técnicos. Até o momento de escrita desse texto, a aba social do jogo continua apresentando instabilidades. As vezes ela não mostra nenhum amigo online, obrigando o jogador a ir até a aba de amigos da PSN e entrando por lá.
Outro problema pontual são os crashes. Após 28 horas de jogo, tive 4 crashes. Dois enquanto estava na nave, alterando os equipamentos e outros dois durante as missões. Os crashes durante as missões são uma droga pois perdemos tudo que foi feito.
O estúdio poderia adicionar um recurso para permitir que os jogadores voltem para uma partida dentro de um limite de tempo. Vale destacar que o estúdio explicou os motivos dos erros envolvendo o servidor e já está trabalhando para solucionar de vez o problema. Nada foi mencionado sobre os crashes.
Review de Helldivers 2 – Obrigatório pra quem gosta
Helldivers 2 é um projeto de paixão e isso é o suficiente pra explicar o tremendo sucesso que o jogo está fazendo. Pra quem gosta da proposta, arrisco a dizer que é um jogo obrigatório e, depois que o jogador fica familiarizado com os diferentes sistemas, largar o game se torna uma tarefa incrivelmente difícil.
Vale destacar, no entanto, que é preciso ter em mente que o jogo se comunica com um público específico e ele passa longe da fórmula narrativa que os fãs da PlayStation estão acostumados. O foco é se divertir em grupo, seja com amigos ou desconhecidos que definitivamente se tornarão seus companheiros de armas.
Nas palavras de Johan Pilestedt, CEO da Arrowhead Game Studios: “Um jogo para todos é um jogo para ninguém“. Nos vemos no espaço, Helldiver. A democracia precisa ser espalhada!
Helldivers 2 exala a paixão do estúdio pelo projeto, entregando um dos shooters de extração mais divertidos dos últimos anos.
- Jogabilidade
- Fator Replay
- Desempenho
- Visuais
- Som