Eu tive a feliz oportunidade de escrever um preview de Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes antes do seu lançamento no final em Abril. O JRPG é um dos meus games mais aguardados de 2024, logo, gostaria de deixar o agradecimento à 505 Games pela oportunidade.
A franquia, criada por Yoshitaka Murayama, foi muito bem recebida pela comunidade por funcionar como um sucessor espiritual de Suikoden, um dos JRPGs que pavimentou o caminho para o gênero fazer sucesso. Antes da chegada de Hundred Heroes, o “prato principal”, a equipe preparou um spin-off chamado de Rising que funciona como um prequel da trama.
Infelizmente, Murayama veio a falecer um pouco mais de 1 mês antes do lançamento do jogo, o que deixará a chegada de Hundred Heroes ainda mais sentimental para os fãs.
Foi com esse sentimento que testei essa demonstração e minhas impressões não poderiam ser mais positivas. Vem entender os motivos nesse preview de Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes.
A história
Logo no início de Hundred Heroes, podemos ver que a trama do jogo é muito política e pautada em conflitos entre nações diferentes. Murayama é mestre em desenvolver histórias com esse tom, afinal, Suikoden bebeu bastante dessa fonte.
Em Hundred Heroes, o Império Galdeano controla a nação quase inteira. Eles desvendaram uma tecnologia capaz de amplificar os poderes das Lentes Rúnicas, artefatos de grande magia. Em virtude disso, as outras nações meio que se tornaram vassalas do Império.
É diante desse contexto que somos introduzidos ao protagonista da aventura – Nowa. Um jovem ingênuo que mora no campo. Logo no início da história, Nowa acaba participando de uma incursão imperial e se depara com uma nova Lente Rúnica.
Apesar da história se desenvolver de maneira lenta, ao menos nessa demo, os motivos são plausíveis. O jogo não abre mão das interações entre personagens e, consequentemente, do desenvolvimento da relação dos mesmos.
Todos os personagens principais e secundários possuem voice over, fator esse que torna os diálogos ainda mais importantes. Cheios de personalidade e motivações próprias, as histórias paralelas que envolvem os aliados que encontramos pelo caminho possuem um peso tão grande quanto a narrativa principal.
Ao longo da demonstração me deparei com 6 aliados ao todo, mas o estúdio promete que teremos por volta de 100 no jogo final. E todos eles são jogáveis! Estava receoso com isso, afinal, quantidade nem sempre é um bom sinal, mas após a demonstração, o estúdio Rabbit & Bear tem minha total confiança.
Por se tratar de uma história de guerra, com centenas de personagens, tramóias políticas e reviravoltas, o entendimento da trama é vital para a experiência e fico feliz em poder falar que todos os textos foram localizados para o nosso idioma! E o melhor de tudo, a localização tem “identidade” e muitas vezes passa um tom muito bem vindo de pessoalidade.
Ainda é difícil cravar uma duração, mas julgando por tudo que eu testei na demo, acredito que o jogo tenha dezenas de horas de duração, passando tranquilamente das 40 horas para fazer o 100%. Para se ter uma comparação, o 100% do antecessor, o Rising, leva por volta de 20 horas.
O combate
O combate de Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes segue a cartilha dos JRPGs: ele é dividido em turnos. Eu particularmente prefiro o combate de Rising, mais voltado pra ação, mas temos identidade o suficiente aqui pra termos uma boa experiência.
Podemos usar 6 personagens ativos na batalha e eles são organizados em duas linhas: a de frente e a de fundo. Isso concede um ar estratégico ao jogo, afinal, os personagens da linha de frente são os que acabam recebendo mais dano.
O senso estratégico dessa ideia é a seguinte: os inimigos também estão organizados nessas linhas. Em muitos casos, você não vai conseguir usar um ataque básico em um inimigo na linha de trás. Ele só vai poder ser atingido quando você eliminar os inimigos da linha da frente.
É claro que existem personagens que usam ataques à distância e também podemos usar habilidades das Lentes pra contornar esse detalhe. As habilidades consomem Mana ou SP, recurso obtido ao realizar ações nas batalhas.
No geral, senti que os ritmos das batalhas são um tanto sonolento, mas pode ser por não ter desbloqueado muitas habilidades, afinal, se trata de uma demonstração do começo do jogo. O curioso é que o próprio game dá a opção dos personagens lutarem automaticamente, o que é uma mão na roda nas batalhas triviais. Outro motivo é o mal costume gerado por Sea of Stars. Ter que realizar prompts de botões para amplificar ou defender um ataque é um recurso inteligente a ser usado em JRPGs, pena que não temos isso em Hundred Heroes.
Um ponto digno de nota é que o jogo proporciona um bom nível de desafio. Na demo, só existiam duas opções de dificuldade: Normal e Difícil. Eu escolhi a Normal e foi longe de ser um passeio no parque. O primeiro chefe do jogo quase acabou com todos os meus recursos e a luta durou bons minutos. O segundo chefe acabou causando o meu primeiro Game Over pois eu já estava sem poções. Ir preparado para os embates é fundamental para o sucesso.
Por falar em chefes, as batalhas contra os inimigos formidáveis apresentam mecânicas originais chamadas de Artifícios. Com essa mecânica, podemos usar o ambiente ao nosso favor, ganhando vantagens na batalha.
Contra esse primeiro chefe por exemplo, ele tinha um ataque que mirava em dois membros do grupo e depois causava um dano massivo. Mas o artifício permitia se esconder atrás dos escombros do cenário, negando o dano por completo do ataque especial. No segundo chefe, podíamos golpear livros mágicos que faziam um martelo gigante com foguetes ser materializado e causar um dano massivo no bicho. É um detalhe que com certeza concede um charme a mais ao jogo.
Outro destaque são os personagens jogáveis. O estúdio não brincou quando prometeu praticamente 100 personagens jogáveis e o melhor de tudo – todos são bem distintos entre si. Eles possuem habilidades distintas, armas, diálogos… é tudo novo, o que gera uma variedade absurda para a jogabilidade. Garr já se tornou um dos meus prediletos! Um detalhe curioso é o recurso chamado de Guarda. Quando um personagem está prestes a levar um golpe fatal, outro interfere e se joga na frente do golpe, tomando o dano. É um toque magistral que destaca a originalidade de Hundred Heroes.
Outro destaque charmoso do game é que os relacionamentos com os personagens afetam a jogabilidade. Temos habilidades especiais chamadas de Combos de Herói onde dois personagens com um alto nível de afinidade se unem para lançar um ataque poderoso, concedendo uma boa vantagem nos embates.
Tratando-se de novidades, isso parece ser uma especialidade do estúdio. O jogo atira novos cenários e novos tipos de inimigos constantemente na tela. E estou falando de inimigos inteiramente novos, não variações de cores. Esse detalhe é ótimo pois afasta a sensação de repetição e mantém o jogador engajado com a exploração e trama!
Progressão e conteúdo secundário
A demo não deu muitos vislumbres sobre o conteúdo secundário de Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes. Eu apenas habilitei a pescaria e o sistema é bem básico. Temos pontos de pesca com peixes, jogamos a isca, esperamos o peixe morder e apertamos o X do controle. O “minigame” poderia ser um pouco melhor trabalhado.
Mas o que me incomodou mesmo foi a progressão. Joguei a demo por cerca de 4 horas e não senti que meus personagens evoluíram. Cheguei até o nível 12 e a sensação é a de que nada mudou.
Mesmo indo até o ferreiro colocar as armas até +3, as mudanças e melhorias de equipamentos são pouco sentidas no combate. O jogo também segue a herança triste dos JRPGs dos encontros aleatórios.
As vezes você só quer explorar e o jogo fica constantemente te jogando em lutas triviais que não dão quase nada de XP. Imagino que o estúdio tenha ajustado as recompensas das lutas para impedir o grind logo cedo mas o problema é que a medida removeu o sentido de combater nessas lutas triviais.
Hundred Heroes parece ter um sistema bem rico que envolve Runas mas a porção inicial não explica muito sobre como funciona o sistema.
Parte técnica
Eu só pude testar o preview de Hundred Heroes no PC e, pra minha surpresa, o jogo rodou bem no meu notebook que tem apenas 6GB de RAM e uma GTX 1650. É claro que ele não tem visuais de ponta mas o jogo tem muitos efeitos de partícula e animações formidáveis, o que entrega uma boa otimização ao menos no PC.
Os visuais estão estonteantes e temos um mundo bem vivo graças ao uso de cores vibrantes. A sensação é de estar jogando um JRPG clássico que foi revitalizado para os dias atuais.
A qualidade dos diálogos é altíssima, assim como a trilha sonora, que conduz as emoções dos jogadores em ritmo orquestrado. Por falar em som, como já mencionei acima, todos os diálogos dos personagens centrais e secundários na trama estão com voz. E parece que a equipe gastou um bom tempo nisso.
Cada voz casou muitíssimo bem com os respectivos personagens, garantindo mais identidade ao jogo.
Preview de Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes – Considerações finais
No geral, as impressões de Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes são muito positivas e mal vejo a hora de colocar as mãos no jogo final. Mas preciso salientar que os pontos fortes do game são igualmente seus pontos fracos. Se você não gosta das estruturas e da proposta dos JRPGs clássicos, o projeto dificilmente vai “conversar” com você.
Eu cresci jogando a série Mana, Final Fantasy, Dragon Quest, Breath of Fire, Wild Arms, entre outros, logo, a minha experiência foi muito pautada nisso. O jogo é quase como uma viagem no túnel do tempo para a minha infância e adolescência.
Dia 23 de Abril, chega logo!