No concorrido mercado de games atual, em que vemos literalmente centenas de jogos sendo lançados todas as semanas, é cada vez mais comum acontecer de títulos interessantes e únicos passarem totalmente batido pela maioria dos jogadores.
Embora seja baseado em uma propriedade intelectual relativamente conhecida, Shin Chan: Shiro and the Coal Town me parece ser um desses títulos e, se não fosse por esse review, possivelmente eu não teria dado uma chance a ele.
Qual foi a minha surpresa, contudo, ao experimentar o novo jogo de Shin Chan e descobrir um título extremamente carismático, com uma pegada bastante única que incorpora alguns elementos de jogos de “fazendinha”, mas com uma abordagem muito mais ampla e solta, envolvendo também sistemas de coleta de recursos, pesca, cozinha, e até mesmo um elaborado mini-game de corrida nos trilhos.
Mesmo dentro do gênero de jogos “cozy” (ou “aconchegantes”), Shin Chan: Shiro and the Coal Town se destaca por suas características únicas. Se aconchegue e vem ler o nosso review de Shin Chan: Shiro and the Coal Town.
As belezas do Japão rural
A primeira coisa que mais chama a atenção em Shin Chan: Shiro and the Coal Town é, sem sombra de dúvidas, o seu estilo artístico absurdamente lindo. Os mangas e animes de Crayon Shin-Chan são bastante conhecidos por seu humor único, porém apresentam um estilo artístico bastante simplista e que pode até mesmo ser considerado “feio” por algumas pessoas. Shiro and the Coal Town mantém o design de personagens de sua série original, que são agora apresentados em um estilo 3D cel shading muito agradável.
Ao redor desses personagens relativamente simples, vemos os verdadeiros destaques do jogo: seus lindíssimos cenários que são incrivelmente detalhados, retratando de maneira estonteante as diversas áreas de um pequeno vilarejo rural japonês, bem como as movimentadas ruas da Coal Town (“Cidade do Carvão”, em tradução livre) que encontra-se no título do jogo. Nesse sentido, Shin Chan é um jogo que trabalha muito bem suas limitações, já que apresenta a maior parte dos cenários por meio de imagens 2D.
Basicamente, isso significa que o jogo todo é representado por meio de cenários estáticos, por meio dos quais vemos diferentes recortes do mapa do jogo, limitados em um ângulo de câmera específico. Comparativamente, o mapa de Shiro and the Coal Town lembra muito o que víamos no passado em jogos de Aventure como os clássicos títulos da Sierra e da Lucas Arts. Determinados pontos do mapa, por exemplo, são vistos por meio de uma estonteante câmera panorâmica. Ao chegar ao “canto” do mapa, você é então levado a outra parte do cenário, que pode ser representada por meio de um ângulo totalmente distinto.
É uma pena que a trilha sonora não acompanhe toda essa beleza em sua plenitude. A trilha em si não é desegradável de maneira alguma, porém ela é bastante incipiente e poucas vezes ganha um papel de destaque nas lindas paisagens apresentadas pelo jogo. Durante a minha campanha, que durou mais de 20 horas, eu até aumentei o volume da música de fundo nas opções de jogo, para só então conseguir ouvir melhor as boas composições presentes no título. Novamente, não são composições ruins, elas só poderiam ganhar um destaque maior.
As aventuras no Japão rural
Explorar os belos ambientes de Shiro and the Coal Town é uma experiência agradável e aconchegante, mas isso é sempre moldado por meio da história e dos sistema de missões presentes no jogo. Resumidamente, a trama básica do jogo se inicia quando Shin-chan e sua família se mudam para uma pacata vila rural na prefeitura de Akita. Dentro desse cenário, você controla o energético garoto de cinco anos Shin-chan enquanto ele preenche seus dias caçando insetos, pescando, plantando e interagindo com os demais habitantes da vila.
Inicialmente, você é bastante limitado em relação ao quanto você consegue explorar, já que alguns personagens vão bloquear determinados caminhos até que você complete suas quests específicas. Conforme você captura insetos específicos, pesca peixes raros e encontra plantas únicas que são solicitadas em determinadas quests, o seu mapa começa a ser ampliado para novos cenários. Além disso, há todo um compêndio que pode ser preenchido com o tempo, liberando informações sobre o cenário, além de dinheiro que pode ser gasto em itens e recursos.
Suas aventuras, contudo, não se limitam aos cenários rurais de Akita. Depois de determinado ponto, você encontra uma passagem para Coal Town, um cenário urbano que oferece uma série de atividades diferentes, incluindo um estranho laboratório, um restaurante que precisa ser reerguido, e um campeonato de corridas nos trilhos. Coal Town faz um contraste muito grande com as regiões rurais do jogo, e oferece seus próprios recursos e quests. Além disso, há toda uma trama específica, durante a qual você ajuda Coal Town a recuperar toda a sua glória.
Dentre as atividades disponíveis em Coal Town, as corridas com os carrinhos de mina constituem o minigame mais elaborado presente no jogo. Cada missão de corrida apresenta um competidor e uma composição de trilhos diferentes, e você precisa controlar diversos elementos do carrinho para conseguir a maior pontuação. Conforme você avança, diferentes carrinhos podem ser comprados, além de novas habilidades que incluem opções ofensivas ou defensivas que podem ser utilizadas contra os inimigos. Com todos esses elementos, é um minigame interessante, que ajuda muito a quebrar o ritmo mais pacato do jogo.
A lentidão do Japão rural
Por falar em ritmo, esse talvez seja o aspecto que pode desagradar certa parte dos jogadores que se aventurarem em Shin chan: Shiro and the Coal Town. De modo geral, o progresso em todos os elementos, histórias e quests do jogo é bastante lento. Para se ter uma noção, eu demorei mais de seis horas de jogo para liberar o minigame de corridas que eu mencionei no parágrafo acima, e esse é apenas um exemplo do quão devagar é a progressão do jogo durante a campanha.
Esse progresso lento até que faz muito sentido com as vibes que o jogo quer passar. A ideia aqui é, literalmente, reproduzir a pacata vida de uma criança de cinco anos no Japão rural. Isso se dá, inclusive, por meio de sua estrutura de passagem de tempo, no qual os cenários se modificam durante a manhã, tarde e noite, com diferentes atividades e recursos aparecendo em diferentes momentos do dia.
O ponto negativo que vem com isso está em como o jogo pode se tornar um pouco monótono e repetitivo em alguns momentos, principalmente em situações mais avançadas de jogo, durante as quais as quests começam a exigir uma quantidade muito maior de itens, incluindo também recursos mais raros. Nessas situações, acabei passando vários dias de jogo (que devem durar de 5 a 15 minutos cada) andando a esmo, coletando recursos e torcendo para encontrar os itens mais raros.
Novamente, é preciso reforçar que esse tipo de progresso mais lento faz muito sentido com a proposta do jogo, e Shiro and the Coal Town apresenta diversas atividades distintas para manter o jogador entretido, mesmo nos momentos mais morosos. Contudo, isso faz com que o jogo não se encaixe para todos os tipos de jogadores, exigindo muitas vezes que você “gaste” um bom tempo para conseguir ter qualquer avanço significante.
Review de Shin Chan: Shiro and the Coal Town — um ótimo jogo “tranquilo”
A combinação entre o estilo artístico belo e o progresso paulatino presentes em Shin chan: Shiro and the Coal Town com certeza pode ressoar fortemente com diversos jogadores. Em termos de história, a campanha do jogo apresenta uma trama com momentos divertidos, mas bastante despretensiosos. Bem, estamos falando de uma narrativa onde uma criança de cinco anos é a responsável por resgatar uma cidade inteira, então há todo um ar de leviandade envolvido em todos os momentos do jogo.
Eu diria, inclusive, que Shiro and the Coal Town poderia ser um excelente jogo voltado também para as crianças, mas aqui há um grave problema para nós, jogadores brasileiros: o jogo, infelizmente, não possui legendas em português. Há uma opção de língua espanhola, que pode quebrar o galho para algumas pessoas, mas a falta de localização para o nosso país pesa para um título que poderia ser tão acessível para o público infantil como esse. É uma pena.
Se a barreira linguística não for um problema para você, saiba que Shin chan: Shiro and the Coal Town pode ser um ótimo jogo dentro do gênero “cozy”. Aqueles que conseguirem embarcar no ritmo mais pacato do título terão uma aventura bastante única e divertida. O preço de lançamento, infelizmente, é um pouco salgado, mas talvez vale a pena ficar de olho em uma futura promoção para então explorar essa versão de um Japão tranquilo, relaxante e muito bonito.
PS: A análise foi feita em um Nintendo Switch através de uma cópia cedida pela Neos Corporation
Shin chan: Shiro and the Coal Town transporta o clássico personagem de anime a um tranquilo vilarejo do Japão rural, onde os dias transcorrem de maneira lenta e meticulosa. Misturando mecânicas de fazenda, pescaria, coleta de recursos e até mesmo um minigame de corrida, esse é um jogo único, que surpreende com seus belos cenários desenhados.
Pontos Positivos
- Lindo estilo artístico
- Narrativa despretensiosa
- Atividades e minigames diversos
Pontos Negativos
- Ritmo lento
- Ausência de localização PT-BR
- Narrativa
- Mecânicas
- Progressão
- Desempenho
- Visuais
- Trilha Sonora