Inovar no gênero metroidvania é uma tarefa quase que impossível. A categoria recebe dezenas de jogos anualmente, o que faz com que o sentimento de “eu já joguei isso antes” tome conta.
Ciente de tudo isso, a Red Candle Games apostou suas fichas em seu próprio taco e decidiu criar Nine Sols. O resultado? Eles conseguiram criar um dos melhores jogos que eu já joguei na vida e, consequentemente, um dos melhores metroidvanias na história.
Você que está lendo pode estar achando que eu estou exagerando, portanto, te convido a ler o resto desse review de Nine Sols após a platina para entender melhor minhas impressões.
Taoísmo com Cyberpunk
Existem três elementos principais que funcionam como alicerces de Nine Sols. O primeiro é o taoísmo. O taoísmo é uma religião chinesa que prega pela harmonia com o Tao, uma força impessoal que governa todas as coisas. O objetivo é encontrar o Tao para libertar a alma.
Esses preceitos são muito bem explorados no jogo ao longo de sua campanha e missões secundárias. Além do taoísmo, os outros dois alicerces do jogo são o kung fu, incorporado de maneira genial na jogabilidade e a tecnologia.
A Red Candle Studio é um estúdio de Taiwan, logo, a equipe apostou em três elementos fortes da cultura do país e o resultado não poderia ser outro. Nine Sols exala paixão e criatividade em cada pixel.
A história é protagonizada por Yi, uma espécie de gato que estava adormecido e é acordado por um garotinho de uma vila. Yi acorda com o objetivo de derrotar os Sols, membros de um conselho secular que foi formado com o intuito de salvar um povo chamado de solarianos.
Cada Sol apresenta um selo que reflete sua personalidade. Em primeira vista a história parece meio clichê mas ela surpreende muito e é cheia de plottwists. A qualidade dos diálogos é altíssima e as missões secundárias são algumas das melhores que já joguei em muito tempo.
A Red Candle não poupou esforços para desenvolver seus personagens e até os secundários, como o hilário Shennong, são muito bem desenvolvidos e apresentam um desfecho genial.
A lore do jogo é riquíssima e extremamente detalhada. Não existem pontas soltas aqui e os registros que são encontrados ao longo da exploração fornecem detalhes cruciais para entender o passado, presente e o futuro do povo solariano. Sério, o nível de qualidade da escrita desse jogo é de assustar.
Existem muitos AAAs que não possuem metade da qualidade narrativa que Nine Sols possui e ele é um indie feito em Taiwan. Mesmo dias após ter platinado o jogo continuo pensando em seus personagens e em certos diálogos do game, o que reflete o impacto da narrativa em quem se conecta com ela!
Ver como o relacionamento de Yi se desenvolve com cada figura presente no hub foi uma experiência e tanto!
Eu levei 21 horas para obter a platina do game e é necessário fazer os dois finais, além de, claro, todas as missões secundárias. O padrão de todo metroidvania!
Seja como água
A narrativa de Nine Sols é perfeita e, surpreendentemente, a jogabilidade segue o mesmo nível de polimento e qualidade. Lembra que eu falei que um dos alicerces do jogo é o Kung Fu? Pois então.
Para se diferenciar dos demais jogos do gênero, a Red Candle criou um combate que é baseado no parry. E sim, Sekiro: Shadows Die Twice claramente foi uma grande inspiração.
A responsividade do comando beira a perfeição, o que torna todo o processo muito prazeroso. Melhor ainda é o senso de progressão constante que temos ao longo da campanha.
Yi começa praticamente sem habilidades, só com seu gancho e sua espada, mas a evolução do personagem acontece de maneira orgânica e o jogo é perfeito em inserir novas habilidades.
Temos uma árvore de habilidades padrão e obtemos pontos de habilidade ao mudar de nível abatendo inimigos e ao coletar Frutas Tao. Além da espada padrão, em dado momento do jogo obtemos uma arma de longo alcance que acaba sendo uma mão na roda contra chefes!
No quesito personalização, podemos criar “builds” equipando Jades. Cada Jade tem um bônus passivo. Algumas reforçam a aparagem, outras o golpe carregado, ataques de QI e por aí vai. Encontrar a combinação que mais combina com o seu estilo de jogo é fundamental para o sucesso!
No que diz respeito a travessia, ele segue a receita do bolo. Dash no ar, pulos duplos, esferas magnéticas que servem como propulsores.. Os trechos de plataforma são super divertidos e lembram uma coreografia d e karatê.
Um aspecto digno de nota é que muitas das habilidades de travessia são incorporadas de maneira orgânica no combate. E existem chefes que exigem que o jogador domine cada uma dessas habilidades para se sair vitorioso.
Nine Sols usa Sekiro como inspiração e o nível de dificuldade é o mesmo, mas calma. O jogo tem dois modos de dificuldade, o padrão, que eu recomendo e um modo fácil que permite que o multiplicador de dano causado é recebido seja personalizado. Eu recomendo o padrão.
Ele é difícil mas respeitoso ao mesmo tempo. A ideia do estúdio é fazer com que o jogador mergulhe na experiência e aprenda as mecânicas, o que torna Nine Sols ainda mais marcante ao meu ver.
Muitos dos chefes do game são alguns dos melhores que eu já enfrentei nessas mais de 2 décadas que eu jogo. O moveset deles, a trilha sonora e, principalmente, a qualidade das animações tornam os embates inesquecíveis. Fora o respeito da equipe.
A campanha meio que nos força a conhecer melhor as motivações e ideias de cada chefe principal, o que garante uma espécie de conexão com o adversário abatido. Você não está ali matando um vilão em seu caminho e sim um ser vivo que tinha sonhos, família é sentimentos.
Em comunhão com o universo
Nine Sols é um metroidvania com pitadas de souls, logo, você já sabe o que esperar da exploração.
Temos seções que ficam impossíveis de serem alcançadas até conseguirmos uma habilidade de travessia específica. Contudo, diferente de boa parte dos jogos do gênero, eu achei ele muito mais democrático e respeitoso nesse sentido.
Um exemplo logo de cara é que já começamos o jogo com o gancho. E, sempre que chegamos em uma área que demanda uma habilidade inédita, não demora muito até que a gente conquiste essa habilidade.
O level design é super intuitivo e a navegação pelo mapa ocorre de maneira natural. É bem difícil de se perder no jogo. Quando não estamos avançando a campanha, estaremos avançando alguma missão secundária.
Podemos coletar venenos para um NPC específico, artefatos que são entregues à Shuanshuan e até chips que ajudam na exploração do mapa. Todas as atividades secundárias possuem valor e propósito. Não existe excessos em Nine Sols. Absolutamente tudo tem um motivo pra existir ali.
Sendo lançado após dezenas de títulos do gênero, a sensação que eu tive ao jogar é que a equipe jogou vários jogos e foi meio que anotando todos os pontos problemáticos dos metroidvanias, criando o jogo perfeito.
Arte em sua forma mais bela
No quesito técnico, Nine Sols é perfeito. E digo no sentido literal da palavra. Os visuais são belíssimos e o design dos inimigos comuns, dos chefes e dos personagens secundários é fantástico.
Os cenários são bem diferentes entre si, reforçando o level design brilhante citado acima. Toda a parte sonora eleva a experiência, tanto a trilha quanto os efeitos sonoros, criando momentos marcantes.
A jogabilidade é extremamente responsiva e prazerosa. Não tive nenhum problema com hitbox, algo comum em metroidvanias, tampouco com a janela do parry.
O desempenho no PS5 está perfeito, ainda mais considerando que é um jogo indie bem leve. Não tive bugs, crashes e todos os troféus caíram imediatamente.
O único defeito, se é que podemos chamar assim, que eu consegui pensar é a falta de voice acting nos diálogos. Isso ajudaria a eternizar os personagens ainda mais na memória. Mas não acho que seja uma questão de defeito e sim de falta de orçamento. Novamente, Nine Sols é um projeto indie. Contratar uma equipe inteira pra dublar o jogo, mesmo que apenas em inglês, encareceria bastante a produção.
Review de Nine Sols: Obrigatório
Eu poderia passar horas tentando te convencer a dar uma chance ao jogo mas serei muito breve ao sintetizar meus sentimentos nesse review de Nine Sols.
Ele é um dos melhores jogos que eu já joguei na vida e, facilmente, um dos melhores metroidvanias já criados em toda a história.
Em um mundo mais justo, ele não só venceria o prêmio de Melhor Indie no The Game Awards 2024 como seria indicado na categoria geral.
Prepare-se para estar mais perto do Tao caso você decida dar uma chance ao jogo!
Nine Sols é um presente para os fãs de metroidvania, entregando uma das melhores experiências do gênero. Obrigatório!
Pontos Positivos
- Narrativa fantástica
- Personagens secundários incríveis e bem desenvolvidos
- Combate viciante
- Direção de arte sublime
Pontos Negativos
- Falta de voz nos diálogos
- Narrativa
- Jogabilidade
- Desempenho
- Visuais
- Som