Quando eu me deparei com AI Limit pela primeira vez, instantaneamente pensei em Code Vein. As semelhanças, à primeira vista, são evidentes: os dois foram estruturados como um soulslike e ambos apresentam uma estética de anime.
Contudo, graças à CE Asia e a Sense Games, eu pude jogar AI Limit de maneira antecipada e, felizmente, ele tem vários elementos próprios que ajudam na formação de identidade própria.
Neste review de AI Limit, você vai descobrir se vale a pena dar uma chance para o próximo jogo do PlayStation China Hero Project!
Reparando os ramos
Nossa jornada é protagonizada por Arrisa, uma Blader sem memórias que recebe uma missão enigmática: reparar os ramos para recuperar suas memórias. Seguindo a cartilha de jogos soulslikes, em primeiro momento a história é contada de maneira subjetiva, mas os diálogos aqui são muito mais diretos.
Eu gostei muito dessa escolha da equipe. Para você ter uma maior imersão e entendimento da história, é necessário conversar e prestar atenção nos diálogos com os NPCs que habitam o mundo do jogo. Isso colabora para uma criação de vínculo com esses personagens. E, olha, as missões secundárias estão excelentes!

Lembrarei da busca de Stone por seu amigo, do dilema de Vikas com a Guilda e, claro, da pureza de Shirley por bastante tempo! O aspecto narrativo do jogo me surpreendeu muito e a história tem boas reviravoltas, explorando temas como religião, tecnologia, fome, esperança. As inspirações em obras como Akira e Blame são evidentes.
Tradicionalmente, jogos souls costumam apresentar a história de maneira subjetiva e ver um exemplar fugindo disso é sempre bom. Ainda mais quando a lore e a construção de mundo são bons desse jeito.
Ao todo eu levei cerca de 34 horas para obter a platina do jogo. A duração é excelente e condiz com o conteúdo do jogo. Ele não se torna cansativo e tampouco fica com o sentimento de que a jornada foi corrida. A Sense Games foi perfeita na dosagem aqui!
Dança sincronizada
Um dos maiores pontos de diferenciação de AI Limit para os outros jogos do gênero é a eliminação da barra de stamina. Aqui nós temos a Taxa de Sincronização. Indo de 0 até 100%, ataques comuns e a esquiva não consomem a taxa, contudo, usar habilidades do braço especial de Arrisa, feitiços e as habilidades especiais das armas sim.
Caso a Taxa de Sincronização chegue à 0%, Arrisa fica paralisada por alguns bons segundos e fica vulnerável aos ataques inimigos. O sistema foi uma boa sacada do time. O jogo premia a agressividade mas, ao mesmo tempo, exige estratégia em certos chefes.

O tempo de resposta de alguns chefes é brutal e mal existe espaço para cura, logo, é necessário pensar e adotar estratégias para aumentar as chances de sobrevivência. O braço mutante de Arrisa apresenta habilidades especiais e são 4 opções ao todo: Uma barreira que permite aparar ataques e causa um grande dano na taxa de sincronização de inimigos humanoides, um escudo que ao ser golpeado várias vezes pode gerar uma onda de sobrecarga, uma mutação que permite que os ataques dela causem dano de perfuração em troca de parte do HP e um dos meus prediletos, patins que servem como um dash e deixam um clone de raio explosivo no local. Esses patins inclusive me lembraram dos patins de fogo usados por Nezha, uma figura mitológica chinesa.
Podemos trocar essas habilidades instantaneamente ao longo das lutas, o que ajuda no estabelecimento de estratégias e da adaptabilidade ao momento. Além disso, o jogo conta com 18 feitiços ao todo. Temos magias explosivas, de perfuração, de raio, de cura e por aí vai.
Achou pouco? São 32 armas, cada uma com ataques especiais específicos, ajudando a estabelecer um senso de replay gigantesco e, claro, na construção de builds. Uma de minhas armas prediletas, a Árbitro, tem um dos ataques especiais mais loucos que eu já vi em um jogo. Aliado às armas, temos um sistema de Selos.
Esses Selos concedem bônus passivos. Podemos equipar 1 Selo Principal e vários selos normais que apresentam bônus diversos. São mais de 40 opções de Selos Normais e isso já diz o suficiente sobre as possibilidades de builds que podem ser montadas.

Durante minha jornada, eu segui o caminho da força, um dos meus prediletos em soulslikes. O jogo apresenta um item que possibilita o respec livremente. Contudo, esse item está no final de uma área secreta, logo, seu caminho não é tão intuitivo e pode acabar passando despercebido por muita gente. Como é uma mecânica importante, penso que talvez teria sido melhor colocar ele no caminho principal da história.
A progressão segue a cartilha souls. Eliminamos os inimigos, descansamos em uma “bonfire”, chamadas aqui de ramos, e usamos os pontos para aumentar atributos. Os itens de cura podem ter sua quantidade e potência aprimorados, assim como as armas vão até o +10.
A variedade de armas, infelizmente, não pode ser vista nos inimigos. A reciclagem de inimigos é evidente e a pouca variedade chega a incomodar levemente. Como a duração do jogo é condizente com o conteúdo, ela não a irritar tanto. O maior defeito nesse sentido é a reutilização de chefes como inimigos elite em um momento posterior. Penso que a equipe poderia ter investido mais em mudanças visuais para tornar algumas lutas mais memoráveis.

Um ponto forte e importantíssimo de AI Limit são as batalhas contra chefes. Esse é o cerne de jogos soulslike e o time da Sense Games gabaritou a prova! Temos embates fantásticos com chefes com mecânicas interessantissimas. A escala de poder desses chefes também foi muito bem trabalhada e você sente tranquilamente que está em uma luta contra um ser formidável.
Outro detalhe fantástico de AI Limit é o design do mapa. Os desenvolvedores brilharam muito aqui. Temos atalhos que chegam a arrancar sorrisos de tão inacreditáveis, cenários muito bem escondidos que dão satisfação ao explorar e, meu detalhe predileto, o posicionamento de inimigos no maior estilo Dark Souls 2. Espere por várias emboscadas e inimigos atrás de beiradas, paredes e caixotes prontos para acabar com sua vida!
A experiência do NG+
Para platinar o jogo, é necessário fazer o NG+, logo, decidi incluir minhas impressões sobre esse modo. Como já estava familiarizado com o game, não tive quase nenhuma dificuldade aqui com exceção de duas chefes, que, ao meu ver, precisam de balanceamento. Jogadores com menos experiência vão sofrer muito nesse sentido.
Não irei citar nomes para evitar spoilers, mas o “bispo” e a “caçadora” ganham um boost massivo de dano. Para se ter ideia, eu estava com 50 pontos em Vitalidade e boa parte dos ataques dessas chefes tiravam metade do meu HP tranquilamente. Por conta da agressividade enorme do bispo, mal existe espaço para usar o item de cura.
Tive que dominar a janela de parry e, ironicamente ou não, as lutas ficaram extremamente fáceis.
Derrapando na Lama
A parte técnica de AI Limit é surpreendentemente boa para um jogo com um orçamento mais compacto e, aliado a isso, ser o primeiro jogo do estúdio.
Como eu joguei de maneira super antecipada, 3 semanas antes, não tinha nenhum modo gráfico disponível para o PS5 Pro. Alguns problemas técnicos apareceram no caminho, como o som estourando e parando de funcionar e alguns crashes, contudo, após um patch ser aplicado, eles não ocorreram mais.
A direção de arte do jogo foi uma escolha inteligentíssima da equipe. Os visuais em cel-shade ajudam a mascarar o orçamento restrito e concedem um ar cativante ao jogo. O design dos inimigos e chefes está formidável, assim como o das armaduras e armas, algo que costumo apreciar bastante em RPGs.

Minha ressalva vai para duas partes em específico. Achei a trilha sonora muito “tímida”, passando quase que despercebida na maior parte do tempo. Alguns embates contra chefes poderiam ter ficado ainda mais memóraveis se fossem acompanhados por uma trilha sonora mais presente.
O outro ponto vai para a reciclagem de inimigos e a falta de variedade deles. Muitas vezes um chefe se torna um inimigo de elite e quase não existe uma variação visual que ajudaria a tornar a luta mais única. Como os inimigos constantemente se repetem, fica bem fácil memorizar o padrão de ataques deles e sair atropelando tudo e todos.
Review de AI Limit: Vale a Pena?
Comecei minha jornada em AI Limit de maneira despretensiosa e, após platinar o jogo, encerrei ela com um baita sorriso no rosto.
Com ideias ótimas e bem executadas, a Sense Games conseguiu superar barreiras como um orçamento limitado e o fato de serem novatos para entregar um jogo bem feito em um dos gêneros mais competitivos e exigentes da indústria.
A história é excelente, temos várias opções no combate e que ajudam a estabelecer um ótimo fator replay, lutas contra chefes memoráveis e missões secundárias que adicionam muito para a lore e ajudam na imersão do mundo.
É claro que nem tudo é perfeito mas os pontos positivos são bem maiores e mais constantes que os negativos. O PlayStation China Hero Project ganha um exemplar de respeito que ajuda a escancarar o que todos já sabem: os desenvolvedores chineses têm muito a oferecer para a indústria de games!
AI Limit representa um ótimo começo para a Sense Games e mais um lançamento formidável do PlayStation China Hero Project. O jogo é altamente recomendável para qualquer fã de soulslikes.
Pontos Positivos
- História excelente
- Múltiplas opções de builds
- Conteúdo secundário excelente
- Lutas contra chefes
Pontos Negativos
- Trilha sonora deixa a desejar
- Alguns chefes precisam de balanceamento
- Pouca variedade de inimigos
- História
- Jogabilidade
- Desempenho
- Visuais
- Som