Apesar de ser um dos segredos mais mal guardados dos últimos meses, a revelação de The Elder Scrolls IV: Oblivion Remastered foi especial, principalmente para os fãs da Bethesda, que agora têm a chance de revisitar uma nova versão de um dos RPGs mais icônicos da história dos games.
Mas será que Oblivion ainda se sustenta após quase 20 anos desde o seu lançamento? As mudanças realmente modernizaram a experiência ou são apenas retoques superficiais?
É isso que vamos descobrir nesta análise, destrinchando tudo o que a Bethesda e a Virtuos prepararam para apresentar o grande vencedor do GOTY de 2006 ao público moderno.
Remaster ou Remake?
A princípio, muita gente se questionou por que a Bethesda optou por chamar a nova versão de Oblivion de “remaster” em vez de “remake”, já que à primeira vista o jogo parecia ter sido totalmente refeito, com gráficos modernos impulsionados pelo poder da Unreal Engine 5.
Em parte, isso é verdade, mas existem vários “poréns”. A própria Bethesda admitiu que nunca teve a intenção de refazer Oblivion do zero, e sim remasterizá-lo, mantendo o jogo original como base e atualizando elementos como a iluminação, as vozes e algumas mecânicas de gameplay.
Essa decisão traz efeitos positivos e negativos. De início, o principal ponto positivo é que os gráficos estão excelentes, dignos da atual geração, com efeitos de luz e sombra aprimorados, partículas detalhadas e ambientes com água realista.


Perdi as contas de quantas vezes parei apenas para admirar os cenários, especialmente durante as chuvas, observando as gotas escorrendo pela armadura do personagem.
As florestas estão muito mais densas, e é possível sentir a transição entre ambientes, desde vilarejos simples às margens de rios até grandes centros urbanos repletos de construções inspiradas na arquitetura medieval.


O áudio recebeu uma atenção especial, com uma nova mixagem da dublagem, regravações e adições em pontos falhos. A trilha sonora, já marcante com a música presente no menu e ao longo do jogo, é algo surreal de tão boa.
A jogabilidade também recebeu adições interessantes, como a possibilidade de correr, o que torna a movimentação bem mais ágil e a dinâmica de exploração muito mais fluida.
No entanto, apesar da Bethesda ter anunciado melhorias no combate, com ajustes no impacto dos golpes e nas câmeras em primeira e terceira pessoa, é nesse aspecto que o peso da idade do jogo fica mais evidente.
Combate antiquado
Para começar, a inteligência artificial dos inimigos é limitada. Eles simplesmente avançam para o ataque, sem qualquer estratégia, agindo no clássico estilo “atacar até vencer”.
Durante os combates, a estratégia quase sempre é a mesma: atacar repetidamente com uma das muitas armas disponíveis, lançar magias de destruição no caso dos magos ou utilizar arcos e flechas para drenar a vida dos inimigos. Eventualmente, é necessário recorrer a poções de cura ou feitiços de reparação.
Como criei um mago de batalha, experimentei o melhor dos dois mundos, utilizando as melhores espadas e as magias mais poderosas. Ainda assim, após dezenas de horas, o sistema de combate começou a se tornar cansativo.
A ausência de combos, finalizações e opções de ataque simultâneo com duas mãos, como empunhar um cajado e uma espada, torna a experiência repetitiva. Em alguns momentos, chega a ser ilógico: a mesma mão que segura uma espada também conjura magias.

A história é fenomenal
Fui iniciado nos jogos da Bethesda por The Elder Scrolls V: Skyrim, onde me tornei um grande fã da empresa. Depois, joguei Fallout 4 e, mais recentemente, Starfield.
Apesar de sempre ter ouvido elogios sobre a história de Oblivion, considerada por muitos a melhor da franquia, nunca havia jogado o título original por dois motivos: a ausência de localização em português do Brasil e a indisponibilidade nas lojas digitais dos consoles no país.
Por essa razão, o anúncio de Oblivion Remastered me deixou tão empolgado. O jogo agora é totalmente legendado em português do Brasil e, em um incrível “shadow drop”, foi lançado para todas as plataformas da atual geração.
Encarei a jornada como se fosse um jogo totalmente novo e, felizmente, vivenciei algo incrível.
A história começa com o jogador preso, sem saber o motivo, até que o Imperador Uriel Septim VII se aproxima e revela estar tendo sonhos perturbadores, sentindo que um grande perigo se aproxima.
Subitamente, o imperador é assassinado e cabe ao personagem levar um amuleto especial para seu sucessor, a fim de impedir que forças demoníacas invadam Tamriel.
Portões do Oblivion surgem ao longo da campanha em diversas regiões da província de Cyrodiil, e a primeira missão em que é necessário fechar um desses portais é um dos pontos altos da narrativa, mostrando uma batalha épica contra demônios que devastam a região.

Com o desenrolar dos eventos, torna-se necessário firmar alianças políticas e reunir aliados para enfrentar as ameaças sobrenaturais.
Os personagens apresentados durante a campanha principal são bons, com um trabalho de dublagem primoroso. No entanto, não consegui criar um grande apego à maioria deles, pois achei as atuações e decisões de roteiro um tanto exageradas. A exceção foi Jauffre, o Grão-Mestre das Lâminas.
Quando apresentado, Jauffre aparenta ser apenas um senhor frágil e devoto ao imperador. Contudo, ao longo da história, ele revela ser corajoso, forte e destemido. Toda missão em que Jauffre esteve ao meu lado se tornou memorável.
Apesar disso, assim como em Skyrim, o que realmente brilha em Oblivion são as missões secundárias, que surgem a todo momento. Elas vão desde tarefas simples, como comprar uma casa assombrada por fantasmas, até extensas e envolventes linhas de missões ligadas às facções.

As facções de Oblivion
As principais facções incluem a Guilda dos Combatentes e a Guilda dos Magos, presentes em quase todas as cidades, além das ilegais Irmandade Sombria e Guilda dos Ladrões, que exigem atividades específicas para que o jogador possa ingressar.
Pessoalmente, não gostei tanto das linhas de missões da Guilda dos Combatentes e da Guilda dos Magos. Achei-as simples, e as recompensas finais não foram tão satisfatórias quanto o jogo tenta sugerir.
Por outro lado, a Guilda dos Ladrões oferece uma história excelente, repleta de personagens enigmáticos e uma grande variedade de missões.

Já a Irmandade Sombria é, sem dúvida, o ápice de Oblivion, com missões de assassinato que podem ser concluídas usando apenas a lábia, no melhor estilo investigativo.
Em uma missão marcante, você é o assassino em uma casa cheia de NPCs e pode manipulá-los, persuadi-los e, dependendo das escolhas, até levá-los a se matarem entre si. Um feito impressionante para um jogo que foi lançado há quase 19 anos.

A Arena, tão comentada entre os jogadores de Oblivion, não é exatamente uma facção, mas sua estrutura de missões se assemelha bastante.
Em resumo, é possível enfrentar competidores dentro de uma arena, ao estilo gladiador, onde a cada nova vitória é possível subir no ranking até se tornar o campeão do torneio.
A atmosfera é muito boa, com um narrador descrevendo os competidores antes do início da luta. Porém, o combate em si não é algo impressionante, sendo basicamente o mesmo encontrado em todos os outros momentos de batalha.

Talvez, se fosse um remake de fato, com efeitos mais impactantes e inimigos ferozes, a experiência seria mais memorável. Da maneira atual, não considero nada demais, em alguns momentos chegando até a ser cansativa.
A exploração é boa, porém…
O que a equipe responsável pela escrita do roteiro acertou, os responsáveis pela exploração erraram.
Como já citado, a maioria das missões, mesmo as mais simples, apresenta boas histórias, o que incentiva o jogador a explorar todo o mapa.
Ao fazer isso, é possível encontrar verdadeiras pérolas escondidas que sequer fazem parte da linha principal da narrativa. Um exemplo é o vilarejo onde todos os moradores estão invisíveis há semanas, sem que ninguém saiba o motivo.
Ao investigar, o jogador descobre que a causa é um feitiço malfeito por um mago da região. A partir desse ponto, cabe ao jogador decidir o destino dos habitantes.
No entanto, ao aceitar diversas missões e explorar as dungeons, um padrão logo se torna evidente: quase sempre são cavernas escuras, às vezes com presença de água, ou construções antigas em ruínas.

Essa repetição de ambientes, aliada a um sistema de combate que não é dos mais refinados, acaba tornando a experiência cansativa após algumas horas de jogo.
Um RPG com R maiúsculo
Uma das partes mais importantes em qualquer RPG que se preze são as escolhas de classe, como elas influenciam a gameplay e o desdobramento da história conforme decisões são tomadas.
Oblivion acerta em todos esses aspectos. São ao todo dez raças disponíveis, cada uma com seus prós e contras. Entre elas estão os Nórdicos, que se assemelham mais aos humanos, possuem alta resistência a dano, mas não têm aptidão para magia, e os Khajiit, especialistas em furtividade.
Para minha jornada, escolhi jogar como Bretão, uma raça que equilibra magia e combate.

Um ponto polêmico é o sistema de progressão do jogo, já que, para subir de nível, é necessário aprimorar habilidades específicas.
Por exemplo, ao lançar magias de destruição, o personagem acumula experiência e, consequentemente, passa a utilizar feitiços mais poderosos no futuro.
Completar missões por si só não faz o personagem evoluir, mas sim as ações realizadas durante elas. Há quem goste e quem não goste desse modelo, mas, pessoalmente, achei a mecânica criativa e não me incomodou.
Para evoluir o personagem, é necessário dormir dentro do jogo, o que abre uma tela de distribuição de pontos de habilidade.

Outro ponto controverso é que tanto inimigos quanto recompensas de missões são escalonados de acordo com o nível do personagem do jogador.
Isso significa que completar uma missão nos níveis iniciais resulta em uma versão mais fraca de uma arma ou armadura, enquanto a mesma missão, se completada em um momento mais avançado, oferece versões mais poderosas.
Essa decisão de progressão acaba punindo o jogador que opta por deixar a campanha principal de lado e explorar o mundo logo de cara.
Isso também se aplica aos inimigos. Os mais fracos deixam de surgir conforme o jogador avança. Por um lado, é positivo, pois demonstra a variedade de inimigos presentes no jogo, que vão de ratos no início até minotauros em áreas mais avançadas.

Contudo, essa escolha afeta a sensação de um mundo vivo, já que muitas vezes não haverá inimigos no caminho, dando a impressão de que os que existiam no passado foram “extintos”.
Apesar disso, para mim não foi algo significativo, pois a todo momento surgiam novos tipos de itens, e valorizo bastante a variedade de inimigos, e não apenas repetições.
A história apresenta ramificações interessantes, permitindo ao jogador definir o desfecho com base em suas escolhas, algo que está se tornando cada vez mais raro nos RPGs de ação atuais, onde as variações costumam ser superficiais.
A problemática Unreal Engine 5
Como já citado no início desta review, visualmente The Elder Scrolls IV: Oblivion Remastered é magnífico.
Todavia, desde que foi revelado que utilizaram a Unreal Engine 5 em vez da tradicional Creation Engine para a remasterização, fiquei com um pé atrás, afinal, é difícil encontrar um jogo de mundo aberto feito na engine da Epic que não apresente problemas de desempenho.
E, como já era esperado, este é mais um título problemático no aspecto técnico. Joguei no PlayStation 5 base utilizando o modo desempenho, e o FPS é instável em 90% do tempo.
Durante batalhas que envolvem mais de quatro personagens em tela, a taxa de quadros despenca consideravelmente, e nas missões finais o jogo chega a ficar praticamente em slow motion.

Explorar o mundo também não é tão prazeroso por causa dessas quedas. Durante as caminhadas, o frame pacing variava bastante.
Como ponto positivo, mesmo com a Bethesda optando por uma resolução dinâmica, não senti tantas quedas perceptíveis em áreas abertas, e, nas áreas fechadas, a imagem se manteve sempre muito nítida.
Durante minhas 40 horas de jogo, mesclando campanha e missões secundárias, sofri três crashes e presenciei uma série de bugs, desde problemas simples, como IA desligando e NPCs correndo de costas, até questões mais graves, que me fizeram perder itens armazenados no baú e não conseguir avançar em missões.
Um ponto de atenção: as missões das guildas apresentaram muitos bugs, com NPCs não reagindo corretamente as ações da história, o que me obrigou a recarregar saves em diversas ocasiões.
No PC, relatos constantes apontam que Oblivion está praticamente injogável em placas AMD, reforçando que a Bethesda ainda tem um longo caminho de otimização pela frente, o que deve ser resolvido em atualizações futuras.
The Elder Scrolls IV: Oblivion Remastered – Vale a Pena?
Falar que um dos mais memoráveis RPGs de todos os tempos vale a pena é como chover no molhado.
The Elder Scrolls IV: Oblivion Remastered pode ser a porta de entrada perfeita para as pessoas que não conhecem a franquia, para os amantes do clássico e para aqueles que, assim como eu, não puderam desfrutar do jogo na sua época de lançamento.
Vivenciei um jogo épico e viciante, uma experiência muito parecida com a que tive ao entrar em Skyrim pela primeira vez. São jogos bem parecidos e ao mesmo tempo diferentes, cada um com suas características únicas e marcantes.
Oblivion Remastered tem sim seus problemas técnicos, muitos gerados pela engine escolhida, e por herdar muitas das características do original, os acertos do passado, assim como os erros, ainda estão presentes.
O jogo está disponível no Xbox Series X|S, PlayStation 5 e PC, sendo vendido a um preço mais baixo que o padrão atual, e também incluso no catálogo do Game Pass.
Recomendo que joguem com calma, como todo bom RPG merece, e aproveitem cada detalhe do mundo de Cyrodiil.
A Bethesda entregou um presente para os fãs do gênero RPG, enquanto o futuro The Elder Scrolls VI não é lançado. E, até esse dia chegar, resta ter esperança de novas versões de Fallout 4 e New Vegas.

The Elder Scrolls IV: Oblivion Remastered é uma experiência épica e viciante, ideal tanto para novos jogadores quanto para fãs antigos da franquia. Apesar de apresentar problemas técnicos e carregar alguns defeitos do original, o jogo mantém seu charme e qualidade.
Um grande presente da Bethesda para os fãs da saga The Elder Scrolls.
Pontos Positivos
- História incrível
- Ótimos visuais
- Mecânicas de RPG bem encaixadas
- Trilha sonora que impressiona
Pontos Negativos
- Desempenho instável
- Combate engessado
- Dungeons repetidas
- Bugs que impedem o progresso
- História
- Gráficos
- Combate
- Exploração
- Trilha Sonora
- Desempenho
- Conteúdo Secundário