Depois de se tornar viral como uma experiência minimamente inovadora, a franquia Forgive Me Father elevou todos os padrões por meio de uma abordagem pouco convencional da fórmula cósmica criada pelo autor H.P. Lovecraft.
Poucos anos depois de introduzir a jornada de redenção de um padre, a série volta a apostar no mesmo protagonista. Em Forgive Me Father 2, game disponível para PC desde 2024 e lançado para consoles nesta terça-feira (23), o horror alcança patamares ainda mais brutais e sangrentos, em uma aventura recheada de ação no melhor estilo DOOM.
O resultado não podia ser diferente. A Byte Barrel caprichou em cada detalhe e trouxe uma experiência que, mesmo sendo exigente, consegue ser memorável por mexer com as lembranças de quem cresceu com Duke Nukem, Shadow Warrior, Quake e outros FPS de alta velocidade.
O Padre e a loucura
Após ser acusado de realizar um massacre em Pestisville, o Padre é internado no Central Lunatic Asylum, onde começa a questionar a realidade dos horrores que enfrentou. Assim, ele deve atravessar uma série de regiões opressivas onde cada uma traz fragmentos importantes de seu passado e de sua vida antes de ser dominada pela loucura.
A cada “fase”, o Padre revive, de forma traumatizante, algo que o marcou, enquanto enfrenta demônios internos e externos. Enquanto o interno traz clareza a seus atos e reflete sobre uma série de perguntas sem respostas, os externos são as hordas de Cthulhu, ser mitológico e cultuado capaz de causar o fim dos tempos.

Forgive Me Father 2 se passa logo depois dos eventos do primeiro jogo e traz um foco narrativo diretamente ligado ao gameplay. À medida que se avança, mais detalhes sobre a história são revelados por meio de curtos diálogos, mas as poucas CGIs acontecem apenas durante os momentos cruciais, como no fim de cada bioma.
Seu estilo se assemelha bastante ao de DOOM e de outros FPS de ação rápida, contendo sistema de roda de armas, movimentação com alta sensibilidade e muitas opções de equipamentos destrutivos. Mas é no conceito onde o jogo realmente brilha: Forgive Me Father 2 tem uma estética que remete às histórias em quadrinhos e aos jogos de tabuleiro, como Ancient Terrible Things.

Não há muito segredo nesse aspecto: basicamente você enfrenta incontáveis hordas de inimigos, com desafios gradativos e mecânicas intuitivas em tempo real. A campanha dura cerca de 10h, mas o game oferece mais de 15h de conteúdos, com inúmeros colecionáveis, segredos, opção de repetir capítulos para superar recordes de conclusão, New Game+ e níveis de dificuldade.
DOOM, mas com uma nova skin
Quem é mais oldschool se lembrará de DOOM logo nos primeiros instantes. A ação de Forgive Me Father 2 é intensa, brutal e exigente, obrigando o jogador a ficar sempre atento a absolutamente tudo. Inimigos vêm de todas as direções, seja para atacar corpo a corpo ou atirar, e cabe a você encontrar soluções criativas para superá-los.
O game tem muitas, mas muitas opções de armas. Ao destravar esses equipamentos no Asylum (mapa entre fases), você pode usar tanto equipamentos padrão, como lança-granadas, pistola simples, escopeta de cano duplo e mais. Porém, ter acesso às armas cósmicas é destravar o modo devastador e surpreendentemente funcional no jogo.

O visual desses itens de fogo é impressionante e vivo, com referências ao horror corporal na composição de vários deles. Além disso, seu modus operandi de ataque se diferencia de tudo que já foi visto, e algumas dessas armas te pegarão de surpresas quando começarem a fazer verdadeiros estragos.
Além disso, Forgive Me Father 2 tem um sistema de card muito semelhante aos jogos que apostam em builds de cartas. Basicamente, você vai ao Asylum e destrava perks ativos e passivos, combinando-os para formar um conjunto de três que garanta maior eficiência contra todos os tipos de inimigos. A liberdade nesse aspecto é grande e as possibilidades são ainda maiores.

Em relação ao terror, ele está mais presente em especial nas fases escuras. O título tem um sistema de lanterna que se esgota com o tempo e precisa ser gerenciado a todo instante. Em algumas fases mais labirínticas, você deve ter sempre uma fonte de luz, pois a escuridão consome e traz terrores, como inimigos à espreita e muitos, mas muitos cercos.
Olhe para todos os lados
Um dos elementos retrô mais divertidos de Forgive Me Father 2 diz respeito aos colecionáveis. As referências aos jogos clássicos são estampadas, principalmente quando se fala no caminho para alcançar esses segredos.
São inúmeros espalhados pelas fases e maior parte deles está muito bem escondido. Derrube quadros, abra portas, procure locais de plataforma e esteja vigilante, pois alguns deles te garantem melhorias para os perks e itens que habilitam mais vantagens no Asylum.

Forgive Me Father 2 também conta com um sistema de som interessante. Basicamente tudo no jogo tem um barulho característico, seja o tipo de inimigo que lidera a horda ou um segredo que você conseguiu coletar. Dessa forma, como a ação é rápida e muitas vezes se passa batido por algum ponto de interesse, o som vai registrar suas ações.
Taxa de quadros atrapalha
Quando falamos de jogos de ação rápida, a primeira coisa que temos em mente é a performance. DOOM, por exemplo, oferece opções de até 120 FPS em consoles; recurso que garante fluidez e jogabilidade ininterrupta em uma experiência onde qualquer tiro tomado pode ser o seu fim.Dessa forma, tem-se convencionado de que esse estilo exige uma certa capacidade técnica.
Infelizmente, não é o que acontece com Forgive Me Father 2. O game tem muitas quedas na taxa de quadros, com algumas delas duradouras e outras brutais. Não importa se a área é escura ou não, se está no combate ou fora dele… o FPS cai, mas cai bastante. Em algumas vezes na sua vida você deve ter ignorado isso, mas nesse jogo o buraco é mais embaixo.

Além disso, o modo normal do jogo já é bastante desafiador. Esteja preparado para morrer inúmeras vezes. O problema? Bom, nessa altura você já deve ter relacionado as coisas: quando não se morre para as horas avassaladoras de inimigos, se morre porque o FPS baixo te impediu de executar uma ação que faria a diferença em sua sobrevivência. Precisa melhorar com urgência.
E já que estamos falando de coisas ruins, o game não possui textos ou menus em português do Brasil. São vários colecionáveis, documentos e diálogos… Então, em certo grau, isso pode incomodar quem joga com dependência do idioma.
Forgive Me Father 2 diverte o suficiente para te prender no campo de batalha
No geral, não há como negar que Forgive Me Father 2 é um bom jogo. Os combates são excelentes e versáteis, com o sistema de hordas de inimigos não chegando nem perto de ser algo enjoativo. São incontáveis tipos de monstros, onde você precisa se ajustar a cada um deles. E, para isso, há um belo leque de armas que te fazem sentir como o próprio Cthulhu.
As batalhas, onde se concentram grande parte do jogo, são carregadas por heavy metal, relembrando os tempos de glória de DOOM. Em muitas delas, você tem até mesmo a opção de fugir, mas isso não se torna um caminho depois de você se sentir preso e estimulado por uma jogabilidade bastante intuitiva e pelos visuais surpreendentes em história em quadrinhos.
Infelizmente, o pecado de Forgive Me Father 2 está no sentido técnico da coisa. As quedas de FPS e a falta de localização em português do Brasil devem afastar os fãs do gênero, principalmente por procurarem experiências mais fluidas e funcionais nesses aspectos. Mas, no geral, recomendamos o game, tanto por melhorar o que já era bom no primeiro quanto por ser uma aventura de terror conceitualmente criativa.
Brutal e empolgante, Forgive Me Father 2 é o primo distante de DOOM que acerta na criatividade e nos visuais, mas esbarra em aspectos técnicos.
- Narrativa
- Jogabilidade
- Desempenho
- Visuais
- Som
- Diversão