2025 foi um ano bastante confortável para o iFood. A empresa dominava amplamente o setor de delivery no mercado brasileiro, sem perspectiva de uma concorrência de peso. Mas algo mudou: o 99Food retornou disposto a brigar por espaço.
Desde a saída do Uber Eats e do próprio 99Food, em 2022 e 2023, respectivamente, o setor de delivery passou a viver um cenário próximo de monopólio. O iFood consolidou cerca de 80% do market share, criando um desequilíbrio na balança de poder.
Como consequência, restaurantes passaram a enfrentar taxas de comissão elevadas, que chegam a 27% no modelo Full, além de uma dependência crescente por parte dos entregadores.
O retorno do 99Food
Em abril deste ano, a DiDi Chuxing, gigante chinesa e controladora da 99, anunciou oficialmente o retorno do 99Food ao mercado brasileiro.
O movimento veio acompanhado de um investimento superior a R$ 1 bilhão, com promessas agressivas, como isenção de taxas para restaurantes por dois anos e remuneração atrativa para entregadores, incluindo bônus como R$ 250 por 20 corridas.
É comum na China a existência de “superapps”, que concentram múltiplas funções em um único aplicativo. O WeChat é o maior exemplo, tendo começado como um app de mensagens e evoluído para pagamentos, rede social e serviços diversos.

Com a 99, a lógica é semelhante. O aplicativo tem a mobilidade como função principal, mas também atua como instituição de pagamento e, novamente, como plataforma de delivery de alimentos.
Por que essa briga de gigantes é ótima para o seu bolso
A principal estratégia da 99 não está apenas nos descontos, embora eles façam parte do pacote. O grande diferencial está no uso da frota de veículos que já opera no aplicativo de transporte.
Em dias de alta demanda, como períodos de chuva, quando o iFood costuma enfrentar escassez de entregadores de moto, a 99 aposta na entrega por carros.
A empresa está utilizando sua frota ociosa de carros (motoristas parceiros) para realizar entregas de distâncias médias e longas em horários de pico.

Outra vantagem é que, ao finalizar uma corrida de volta para casa, o usuário recebe uma notificação com um cupom para pedir o jantar. Isso torna tudo mais conveniente e mantém o consumidor dentro do ecossistema da empresa.
Onde o 99Food está atuando
O serviço começou a operar em junho na cidade de Goiânia, escolhida pela alta densidade demográfica e forte cultura de delivery. O objetivo inicial foi ajustar algoritmos e processos operacionais.
Na sequência, a expansão chegou à Grande São Paulo e cidades satélites, como Osasco, Guarulhos e o ABC Paulista. O foco esteve especialmente em regiões periféricas, onde a empresa buscou calibrar preços e captar novos clientes.
Agora, o plano prevê expansão para Minas Gerais, Bahia, Paraná, Pernambuco e o interior de São Paulo entre o fim de 2025 e início de 2026.
2026 será o ano da consolidação
Internamente, 2026 é tratado pela 99 como o “Ano da Consolidação”. O plano vai além de simplesmente abrir novas cidades e se baseia em uma ocupação territorial guiada por dados de mobilidade que a empresa já possui.
A meta de alcançar 100 cidades até meados de 2026 não é aleatória. A 99Food mapeou regiões onde o ticket médio do iFood é elevado e a satisfação dos restaurantes é baixa. O foco deixa de ser apenas as capitais e passa a mirar o interior economicamente forte do Brasil, conhecido como “Cinturão do Agro”.

Cidades como Ribeirão Preto, Londrina, Uberlândia e Sorocaba são alvos prioritários. Nesses mercados, a 99 pretende entrar sem taxas de exclusividade e comissões fixas entre 10% e 15% por seis meses, uma proposta altamente atrativa para o comércio local.
Além disso, a empresa planeja uma ofensiva coordenada em Recife, Salvador e Fortaleza. Nessas regiões, a estratégia será impulsionada pela 99Pay.

A ideia é oferecer cashback agressivo, em que o usuário que pagar uma corrida de mototáxi ou carro com a carteira digital recebe crédito imediato para pedir comida. Essa integração reduz o custo de aquisição de clientes a níveis difíceis de serem acompanhados por um app focado apenas em delivery.
Uma frente menos comentada, mas estratégica para 2026, é a integração com o 99Corp. A empresa pretende oferecer pacotes corporativos que incluam, além do transporte, um vale-refeição digital. Isso garante volume de pedidos no horário de almoço durante a semana, considerado o período mais valioso para recorrência e estabilidade dos restaurantes parceiros.
Concorrência sempre é bem-vinda
O retorno do 99Food tira o iFood da zona de conforto. Em 2026, é esperado que a empresa reaja fortalecendo contratos de exclusividade com grandes redes e restaurantes âncora, além de possíveis multas rescisórias mais elevadas.
Ainda assim, o iFood também deve ser forçado a rever taxas e ampliar a oferta de cupons para não perder participação de mercado.
Para a 99Food, não é necessário liderar o setor para considerar a estratégia um sucesso. Capturar entre 20% e 30% do mercado já seria suficiente para restabelecer um duopólio saudável, pressionando preços para baixo e elevando a qualidade do serviço.
A disputa de 2026 não será definida por quem tem o melhor aplicativo, mas por quem consegue criar o ecossistema mais eficiente para manter o consumidor dentro da própria plataforma.
Com o retorno da 99Food, você acha que o domínio do iFood está ameaçado? Deixe sua opinião nos comentários!
