Se o primeiro episódio da segunda temporada serviu como terreno para reacender as emoções do público, o segundo é o estopim que acende o pavio. É aqui que tudo começa a desandar — ou melhor, a ganhar forma no caos. E sim, vamos falar de um momento que não dá pra ignorar: a morte de Joel Miller. Spoiler à vista, mas a essa altura, quem está acompanhando já sabia que a pancada viria cedo. Nesse ponto, entram em cena as mudanças e semelhanças entre o jogo e a série no segundo episódio de The Last of Us — e são essas diferenças, por vezes sutis, que mudam o peso de cada cena.
A cena é poderosa, intensa, e pra muitos fãs, dolorosamente familiar. Boa parte do que acontece segue o jogo quase à risca. Mas como sempre, o capeta mora nos detalhes. Pequenas mudanças — algumas sutis, outras nem tanto — fazem diferença no impacto e na forma como sentimos cada segundo daquele momento brutal.
Foi por isso que a gente resolveu mergulhar de cabeça nesse episódio e fazer um comparativo: pegamos as principais cenas que vieram direto do jogo e colocamos lado a lado com a adaptação da série. O que ficou igual? O que foi reinventado? E o mais importante: por quê?
O fim de Joel: um momento inevitável e ainda assim, dilacerante

Desde os primeiros suspiros da segunda temporada de The Last of Us, pairava no ar um pressentimento pesado, quase sufocante. A morte de Joel não é apenas um evento trágico; é o motor que dá partida a tudo que vem depois, o estopim que acende a chama da fúria, do luto e da transformação. Assim como no jogo, a série não economiza no impacto emocional — e é nesse ponto que começam a surgir as mudanças e semelhanças entre o jogo e a série no segundo episódio de The Last of Us, nuances que reforçam (ou reinventam) o peso de cada cena.
A cena é construída com precisão cirúrgica, quase reverente. Abby atira na perna de Joel com uma espingarda, reduzindo sua presença a um homem imóvel e vulnerável. Em seguida, o golpe do taco de golfe cai como o badalo de um sino de luto. “Você não pode apressar isso”, diz Abby, num sussurro carregado de veneno e dor, repetindo palavra por palavra o que ouvimos no jogo.

Quando Ellie chega, o chão parece afundar sob nossos pés. A direção repete com fidelidade os enquadramentos da cutscene original: câmera rente ao chão, som agudo e angustiante, quase como se o próprio universo lamentasse o que está por vir.
Mas as mudanças — ah, elas contam outra história
Por mais que a série siga a cartilha emocional do jogo, ela toma liberdades que mudam o sabor da cena. A primeira grande diferença está na companhia de Joel. No jogo, ele está com Tommy. Na série, é Dina quem o acompanha — e não exatamente em plenas condições. Drogada e fora de si, ela se torna um espectro na cena, uma figura quase ausente. Assim, Ellie, sozinha e consciente, se torna a única testemunha do horror que se desenrola.

Essa decisão muda tudo. Ela não só intensifica o trauma de Ellie, como também reposiciona Dina como uma personagem à margem do gatilho principal da história — um detalhe sutil, mas carregado de implicações futuras.
Abby, por sua vez, mostra um lado que o jogo nunca revelou. Na série, ela encara Joel e diz quem é. Explica por que está ali, porque aquele momento não é aleatório, mas sim o clímax de uma dor cultivada ao longo de anos. É uma confissão com gosto de vingança. No jogo, não há espaço para isso. Joel morre sem saber. Sem entender. E isso, por si só, já era um tipo de punição.

E o golpe final
Ah, o golpe final… No jogo, ele é brutal em sua simplicidade: um baque seco, um estalo, um crânio esmagado pelo peso de um taco de golfe. Cru, cruel, e definitivo. Na série, o roteiro opta por algo ainda mais simbólico — quase teatral. O taco quebra. O cabo de madeira lascado vira uma lâmina improvisada. Abby o crava no pescoço de Joel, como se quisesse silenciá-lo para sempre, com uma estocada que mais parece um ato de justiça pessoal do que um assassinato.

É uma diferença pequena, mas cheia de significado. O taco quebrado — símbolo da violência que perde o controle — se transforma na extensão da fúria de Abby, um punhal feito da própria destruição. O som do impacto, o sangue escorrendo, os olhos de Ellie arregalados.
O espelho partido de Abby: quando o passado reflete no presente

De repente, passado e futuro se encontram. A Abby adulta aparece ali, no hospital de anos atrás, encarando a si mesma com olhos que já viram demais. Ela tenta avisar: “Não olha lá dentro.” Mas a menina entra mesmo assim. A câmera, cúmplice do segredo, recua. Não nos mostra o que ela vê. Não precisa. É nesse tipo de escolha narrativa que ficam evidentes as mudanças e semelhanças entre o jogo e a série no segundo episódio de The Last of Us, revelando como cada meio decide lidar com a dor e a memória.
O que se mostra e o que se esconde
No jogo, a abordagem é bem mais direta. Como jogadores, controlamos Abby nesse momento, e a dor é visível, explícita. Vemos o corpo do pai, vemos a reação dela, sentimos o peso de tudo ali, sem filtro. Esse era o instante chave em que a história tentava reverter a maré da empatia: depois de horas vendo Abby como antagonista, ali estava ela, devastada, humana.

A série, no entanto, joga com outras cartas. Ela já nos contou quem Abby é, já revelou a ferida aberta deixada por Joel no ataque ao hospital. Então, ao antecipar essa sequência e transformá-la em um sonho, a adaptação troca o choque pelo simbolismo. Aqui, a intenção não é nos surpreender com a dor de Abby, mas nos lembrar de que ela carrega esse luto como um peso constante, que não a abandona nem quando fecha os olhos.
Essa mudança de perspectiva — tanto literal quanto narrativa — reconfigura o papel da cena. Não se trata mais de justificar suas ações, mas de reforçar o trauma que as alimenta. O hospital vermelho não é mais só um lugar. É uma prisão emocional, onde Abby, mesmo anos depois, ainda se encontra presa, repetidamente, com a versão mais inocente de si mesma prestes a se despedaçar.
A manhã esquisita de Ellie: um climão logo cedo
Entre tantas mudanças e ajustes na adaptação de The Last of Us, uma cena em particular se destaca por ser quase uma cópia do jogo — e é justamente por isso que chama tanta atenção. A cena começa com Jesse batendo à porta de Ellie para avisar que é hora da patrulha. Só que, em vez de uma simples troca de recados, o momento vira uma conversa cheia de pausas, olhares desviados e constrangimento. Aquele tipo de papo em que ninguém sabe bem onde colocar as mãos.
O motivo do climão? O beijo de Ellie e Dina na noite anterior, durante o baile no celeiro. E para piorar — ou deixar tudo ainda mais desconfortável — Dina tinha terminado com Jesse há pouquíssimo tempo. Então sim, dá para imaginar a tensão no ar. A conversa entre eles, tanto no ritmo quanto nas palavras, segue quase à risca o roteiro do jogo. É como se tivessem copiado e colado, inclusive nos ângulos da câmera e nos silêncios carregados de subtexto.
A diferença está no que a gente já sabe
Apesar da fidelidade no texto e nas falas, tem uma diferença que muda como a cena bate no público: o contexto. No jogo, o famoso beijo entre Ellie e Dina no celeiro só aparece bem mais para frente, como um flashback. Então, quando o jogador chega nessa parte da conversa com Jesse, precisa meio que juntar as peças sozinho, pescando informações nas entrelinhas.
Já na série, a coisa é bem mais direta. A gente viu tudo no episódio anterior — o baile, o beijo, o olhar meio perdido de Jesse. Então, quando ele aparece na porta da Ellie, a gente já sabe exatamente por que ele tá com aquela cara de quem engoliu um cacto. A cena deixa de ser um mistério para se tornar uma continuação natural da história. A tensão não vem só do que é dito, mas também daquilo que já vimos e entendemos. É mais um bom exemplo das mudanças e semelhanças entre o jogo e a série no segundo episódio de The Last of Us, mostrando como a ordem dos acontecimentos pode alterar a força emocional de uma cena.
No fim, esse pequeno momento matinal entre Ellie e Jesse mostra como uma simples conversa pode carregar um caminhão de emoções. É uma mistura de ressentimento, ciúme e aquele desconforto clássico de quem tá tentando agir normalmente… mas não consegue. E é justamente por isso que a cena funciona tão bem — porque, mesmo sendo igual à do jogo no papel, ela ganha uma nova camada quando a gente já sabe tudo o que aconteceu na noite anterior.
Sanduíches, silêncios e… não, ninguém disse “preconceituíches”

Logo depois do baile, Ellie vive mais um daqueles momentos em que o desconforto quase dá para cortar com faca. A cena em que ela reencontra Seth na manhã seguinte também foi tirada quase que direto do jogo, linha por linha. E sim, mais uma vez, tudo começa com… sanduíches.
Seth, meio sem jeito, aparece com dois sanduíches de bife como forma de pedir desculpas pelo ataque preconceituoso da noite anterior. A troca de palavras entre ele e Ellie é quase idêntica à do jogo: breve, seca e cheia de tensão no ar. Ellie não engole fácil a tentativa de se redimir com um pedaço de pão recheado — e a gente sente isso na forma como ela responde, sem esconder a mágoa.
Mas aqui, a série faz pequenos ajustes. No jogo, quem agradece a Seth pelo gesto é Maria. Já na adaptação, esse papel vai para Jesse, que está presente na cena e tenta aliviar o clima com um agradecimento meio protocolar, só pra quebrar o gelo. Essa mudança, embora sutil, reforça a aproximação entre Jesse e Ellie e também reposiciona Maria para focar em outras partes da narrativa.
Visual novo, mesma tensão
Outra mudança está no cenário. Esqueça o bar de madeira meio escuro do jogo. Na série, a cena acontece num ambiente bem diferente — algo mais parecido com uma cantina comunitária, iluminada e simples. Pode parecer um detalhe menor, mas muda bastante o tom da cena. Tira um pouco da agressividade crua do original e coloca os personagens em um espaço mais neutro, onde a tensão vem mais do que é dito (ou não dito) do que do ambiente ao redor.
Ah, e para quem estava esperando ouvir a infame frase “Preconceituíches”… pode esquecer. Embora ela tenha sido dita por Ellie no jogo, a série “evitou” a palavra na cena.
No fim das contas, a cena funciona porque diz muito com pouco. O clima gelado, os olhares cruzados, a maneira como Ellie segura o sanduíche sem entusiasmo… tudo isso fala mais alto do que qualquer frase de efeito. É um daqueles momentos que mostram como The Last of Us entende que, às vezes, o verdadeiro drama está no que fica entalado na garganta.
A fazenda secreta de Eugene
No segundo episódio de The Last of Us, a série decide fazer algumas mudanças discretas, mas significativas, na patrulha de Ellie. Se você jogou o game, deve lembrar bem daquele momento curioso em que ela e Dina descobrem a plantação de maconha escondida de Eugene, embaixo do esconderijo dele. Era uma mistura de susto, risada e uma certa “viagem” — em todos os sentidos. Pois bem, essa cena voltou… mas não exatamente do mesmo jeito.

Na adaptação, quem acompanha Ellie na patrulha é Jesse, não Dina. E isso muda o clima da coisa toda. Em vez de rolar uma conexão mais íntima entre Ellie e Dina, agora temos uma vibe mais contida. A descoberta ainda acontece, mas é muito menos pessoal e muito mais seca. A cena do supermercado, onde Ellie e Dina exploravam juntas e acabavam encontrando a tal plantação, foi deslocada. Agora, tudo isso ocorre numa patrulha diferente, com Jesse.
Menos romance, mais revelações
Apesar da mudança no par, vários elementos familiares continuam firmes e fortes. Ellie ainda encontra o pingente dos Vagalumes que pertencia a Eugene, um pequeno lembrete de seu passado com a resistência. A operação de maconha dele também tá lá — embora, sejamos sinceros, um pouco mais mal escondida dessa vez. E sim, a famosa máscara de gás adaptada como bong também dá as caras, arrancando um sorrisinho de quem conhece a referência.

Mas a reação de Jesse à descoberta é bem menos divertida que a de Dina no jogo. Enquanto Dina via com um certo brilho nos olhos a engenhosidade (e a ousadia) de Eugene, Jesse parece mais do tipo que levanta a sobrancelha, solta um “tá, legal” e segue em frente. A conexão que Ellie compartilha com ele aqui é mais prática, mais direta — sem muito espaço pra flertes ou conversas mais profundas.
No fim, a cena continua funcionando como um pequeno alívio no meio da tensão do mundo pós-apocalíptico — uma pausa para respirar, rir um pouco e lembrar que até num mundo devastado, as pessoas ainda encontram jeitos de relaxar. Mesmo que seja no porão de um velho vagalume que resolveu virar fazendeiro de maconha nas horas vagas.
A fuga de Abby: cercas, sangue e salvação inesperada
A sequência de fuga de Abby no segundo episódio de The Last of Us traz de volta o caos e a urgência que marcaram o início do jogo. A ambientação, o ritmo e até os enquadramentos da câmera seguem de perto o que os fãs já conhecem.
Tudo começa com Abby correndo desesperadamente por sua vida, perseguida por uma horda de infectados famintos. A tensão cresce a cada passo, até que ela acaba encurralada atrás de uma cerca de arame.
A estrutura começa a ceder, esmagada pelo peso dos infectados que se amontoam do outro lado, tentando alcançá-la com unhas e dentes — literalmente. Um dos momentos mais angustiantes acontece quando uma mão empurra com força entre os vãos do arame, a carne se abrindo sob os fios metálicos. É um detalhe pequeno, mas que gruda na memória.

A direção não economiza no terror visual, e a cena transmite bem a sensação de que Abby está a um suspiro da morte. Assim como no jogo, tudo parece perdido até que, num instante quase silencioso, o cano de um revólver aparece na lateral da tela. É Joel. Ele chega no último segundo, atirando nos infectados e abrindo caminho para salvar Abby, mesmo sem saber quem ela é.
A cena, além de recriar fielmente a ação do jogo, dá um passo além na forma como mostra o horror físico do mundo em que esses personagens vivem. A fuga de Abby é suada, suja e cruel — um lembrete visceral de que, nesse universo, ninguém escapa do perigo ileso. E quando Joel surge para salvá-la, o momento não é só de alívio, mas também o prenúncio silencioso do que está por vir.
Três duplas, três histórias
O episódio se divide em três grupos principais, e cada um tem um papel importante na narrativa.
Ellie e Jesse ficam presos num bunker, tentando se proteger da tempestade. É lá que descobrem a plantação de maconha deixada por Eugene, um velho conhecido da comunidade. No jogo, esse momento é bem diferente: quem fica presa com Ellie é Dina, e esse confinamento serve pra desenvolver o relacionamento entre as duas.
Joel e Dina formam o segundo grupo. A principal diferença aqui é mesmo a presença da jovem. A dinâmica dos dois acaba lembrando bastante a sequência original do jogo: eles encontram Abby fugindo de uma horda de infectados e decidem ajudá-la. A diferença é que, agora, Abby os convence a se refugiar numa mansão, onde seu grupo — ex-vagalumes — está escondido. O perigo iminente força a confiança entre estranhos, e o espectador já sabe que essa decisão vai cobrar seu preço.

Tommy protagoniza o terceiro arco, e talvez o mais surpreendente da noite. A série inclui uma sequência inédita e grandiosa: a invasão de Jackson por uma horda de infectados. No jogo, isso simplesmente não acontece. Mas aqui, a destruição é intensa. Os muros da cidade caem, muita gente morre, e Tommy precisa enfrentar sozinho um infectado do tipo baiacu — uma criatura grotesca e difícil de derrubar.

E por que essa invasão acontece? A resposta está lá no final do primeiro episódio. Lembra quando Tess explicou que, ao pisar em um fungo conectado, você pode acordar uma horda inteira? Pois é exatamente isso que acontece. Os personagens, sem saber, mexem em galhos tomados por fungos na tubulação e acabam ativando essa ameaça letal.
Gostou das mudancas e semelhanças no segundo episódio de The Last of Us 2 em relaçao ao jogo? Diga nos comentários!