Os horrores e flagelos das guerras muitas vezes se tornam despercebidos, com a alusão a uma glória intangível. As sequelas provocadas por conta de um conflito são gigantescas, causando danos de toda natureza. Quando falamos de uma Guerra Mundial, as escalas destas consequências se tornam muito maiores, maiores em um nível que é fácil se esquecer de nomes e considerá-los números. É na contramão disto que temos Herói de Sangue, filme francês de Mathieu Vadepied e protagonizado pelo gigantesco Omar Sy. É um longa que busca um aspecto mais intimista ao apresentar uma família cujos membros têm suas vidas duramente impactadas pela guerra.
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Contextualizando historicamente, o filme se passa durante o ano de 1917. Estamos em meio à Primeira Guerra Mundial, com lutas sangrentas que vão determinar o destino da Europa. É nesse sentido que ocorre um recrutamento à força de senegaleses realizado pelo exército francês a fim de engrossar suas fileiras. Verdadeiros raptos são realizados, sendo um deles o do jovem Thierno (Alassane Diong). Sua ida ao front é um verdadeiro pesadelo para a família. Seu pai, Bakary Diallo (Omar Sy), decide realizar um desesperado plano: se juntar ao exército para proteger o filho.
A relação entre ambos não pode ser revelada e, por isso, há sempre uma certa tensão no ar. Aos soldados negros que são obrigados a lutar é prometida uma glória da pátria colonizadora, mas isto cada vez mais se mostra como uma promessa do que uma real garantia. Afinal, eles estão alistados contra a própria vontade.
Herói de Sangue me fez lembrar A Irmandade da Guerra, filme de 2004 que traz a perspectiva de dois irmãos combatendo no front sul-coreano da Guerra da Coreia. A relação de cuidado e proteção aparece também no longa francês, com um laço fraterno ditando decisões.
Meu primeiro contato com Omar Sy ocorreu na série Lupin, da Netflix, e devo dizer que o ator foi muito marcante desde o início da série graças a uma excelente atuação. Em Herói de Sangue, Sy demonstra ainda mais talentos com uma interpretação excepcional. A preocupação em seus olhos e o visível terror ao enfrentar a guerra surgem de uma maneira muito impactante, fazendo o expectador rapidamente simpatizar com sua luta para proteger o filho.
Thierno, personagem de Diong, já é mais fechado e incluso em um mundo que o força a amadurecer. O jovem encara o exterior com curiosidade, talvez até mesmo ingenuidade, e isto o coloca em campos opostos com relação ao pai.
O cerne do filme vai se desenrolando com um conflito entre pai e filho, havendo um choque de ideias e de visões de mundo. Afinal, Bakary quer se salvar e salvar a seu filho, não importa o que isso custe. Já Thierno é leal ao exército e escolhe lutar. Há uma subversão dos papéis entre pai e filho, com Thierno, ao progredir na hierarquia, chegando ao ponto de comandar Bakary. As visões de ambos acabam se chocando e dificultando toda a situação que vivem.
Se para Bakary a rota a ser escolhida é a fugir com Thierno e voltar para sua família, o garoto tem uma espécie de retidão que não o permite deixar os soldados ao seu redor. Thierno percebe os acontecimentos de outra forma e, mesmo não tendo pleno conhecimento do que é a França, toma para si sua bandeira e sua luta.
Destaque-se que o filme, diferente de tantos outros longas com o tema de guerra, não coloca a violência gráfica aos olhos do expectador. É uma decisão que pode agradar uns e outros nem tanto, mas em uma história de pai e filho talvez o mais apropriado seja justamente não precisar exagerar e mostrar algo desnecessário para o drama em si.
O longa possui uma fotografia excelente, dando ênfase ao sombrio mundo que as tropas francesas enfrentam enquanto batalham na Primeira Guerra Mundial. Tons mais frios ditam o ambiente e engolfam os personagens em uma atmosfera de preocupação.
É possível ver também que a produção se esforçou para trazer fidelidade histórica ao longa, construindo uma área de filmagens que realmente retrata a época em que o filme se passa. Há um cuidado especial aqui.
Com tudo isso em mente, Herói de Sangue é um filme altamente recomendável e apresenta um drama sincero onde fugir ou lutar podem ser ideias muito mais complexas do que parecem à primeira vista. Como um longa que retrata a guerra, Herói de Sangue é competente e traz mais uma ótima performance de Omar Sy. É indicado para quem se interesse por esse período histórico e queira se emocionar com uma surpreendente história de pai e filho em um dos mais duros momentos da história da humanidade.
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