O cinema brasileiro tem perdido força ano após ano. Com o mundo cada vez mais globalizado, o púbico está cada vez mais habituado a consumir as obras hollywoodianas, que, obviamente, não apresentam nem uma gota de representação da identidade do nosso povo.
Com o recente Ainda Estou Aqui, o público parece ter acordado para a qualidade que muitas das nossas obras e atores possuem.
É diante desse contexto que surge Kasa Branca, a mais nova obra de Luciano Vidigal. Apesar de ser um veterano da indústria, o filme representa uma estreia do diretor, sendo sua primeira obra ficcional. Mas, ironicamente ou não, Kasa Branca não tem nada de ficção.
Digo, tranquilamente, que existem poucos filmes na história do Brasil que consegue captar a essência do povo brasileiro de maneira tão sublime sem se apoiar nos clichês de sempre. Kasa Branca é um filme sobre gente. Sobre as dificuldades em viver nas margens e sobre a resiliência e a união que marca tanto a identidade de nosso povo.
A história é protagonizada por Dé, interpretado por Big Jaum. Dé é um jovem que não teve tempo de ser jovem por conta da dureza da vida. Ele é o único responsável por cuidar de sua avó, Dona Almerinda, que sofre com a doença Alzheimer em estágio avançado.
Dé tem dois grandes amigos que dão um suporte gigante pra ele: Adrianim, interpretado por Diego Francisco e Martins, interpretado por Ramon Francisco. Ver os três, que possuem personalidades completamente diferentes, interagindo é fantástico. Apesar dos três serem o núcleo central do filme, a figura de Talita, interpretada por Gi Fernandes, também é uma presença constante no longa.
Luciano Vidigal é tão genial que ele consegue, magistralmente, estabelecer a identidade de cada um dos personagens de uma maneira que a gente se importa e sonha junto com eles. Como citei acima, Kasa Branca é tão real que basta sair na rua pra encontrar um Dé, uma Talita, um Adrianim ou um Martins. O filme retrata, com perfeição, nossa identidade e realidade.
E realidade é uma palavra importante aqui. Luciano não romantiza a vida na comunidade, mostrando as coisas como são. O apoio dos vizinhos que beira o sobrenatural existe mas a invisibilidade social, a corrupção e o medo da violência também. Felizmente, esses problemas são retratados de um jeito real, orgânico, fugindo dos clichês que estamos habituados a ver no audiovisual brasileiro.
Eu terminei o filme incrédulo de como a equipe conseguiu juntar, de maneira coesa, tantos temas, personalidades e sentimentos em 90 minutos sem deixar o sentimento de que o filme foi apressado. E, o mais importante, sem fugir do tema central que é o cuidado de Dé com sua avó Almerinda.
Assista Kasa Branca. O filme é um cult instantâneo que representa um extrato perfeito de nosso país. O roteiro é excelente, a direção está maravilhosa e as atuações estão magistrais. O cinema brasileiro respira e ainda é capaz de entregar obras fantásticas!