Névoa Prateada é um filme escrito e dirigido por Sacha Polak, uma diretora holandesa que começou sua carreira dirigindo curtas em 2007. No entanto, foi somente a partir do lançamento de Hemel (2012), seu primeiro longa-metragem, que ela começou a ganhar destaque nos festivais europeus.
Admito que não a conhecia até então, e este filme é o meu primeiro contato com um de seus trabalhos.
Alerta de spoilers: Para melhor compreensão, citei trechos do filme, podendo conter pequenos spoilers, mas nada comprometedor.
Em Névoa Prateada, acompanhamos a protagonista chamada Franky, interpretada pela talentosa Vicky Knight. Franky é uma jovem que teve uma parcela do seu corpo queimada em um incêndio, o qual ela acredita ter sido criminoso. Além disso, ela enfrenta problemas diários em sua família, um relacionamento conturbado e assédio diário em seu trabalho.
A Vicky Knight realmente passou por um incêndio em julho de 2003, em um Pub em Londres, no qual perdeu dois dos seus quatro irmãos. É evidente que a diretora se inspirou na história real vivida pela atriz para a criação da personagem.
Aqui vai o primeiro elogio ao filme: a atriz realmente consegue transmitir os sentimentos da personagem de forma impressionante, desde sua tristeza diária pela falta de solução do caso do incêndio até a felicidade em encontrar uma nova paixão.
Franky trabalha como enfermeira em um hospital e, entre os diversos assédios sofridos por seus pacientes homens, ela conhece Florence, interpretada por Esmé Creed-Miles. Florence é uma jovem que tentou acabar com sua própria vida, mas ao sobreviver, desenvolve uma amizade que posteriormente se transforma em um romance com a protagonista.
Esse romance tem um problema: ele acontece muito rapidamente. Pouco antes, durante uma brincadeira com sua irmã, usando aplicativos de relacionamento semelhantes ao Tinder, Franky expõe de forma contundente que é heterossexual e que, apesar de conturbado, estava em um relacionamento.
Falando na irmã de Franky, ela se chama Leah e possui um dos melhores arcos de todo o filme. No início, ela namora um rapaz viciado em sexo, extremamente agressivo, chegando a abusar sexualmente da jovem.
Após esse incidente, Leah decide voltar sua vida para valores religiosos. No entanto, diferente dos costumes ocidentais mais voltados ao cristianismo, ela se filia ao islamismo, adotando a vida muçulmana. Essa mudança é uma excelente quebra de perspectiva e surpreende os espectadores.
O ambiente familiar em que vivem não é dos melhores, e quando membros da família de Franky descobrem que ela está envolvida em uma relação homossexual, a expulsam de casa.
No início do segundo ato, conhecemos Alice, a melhor personagem do filme, uma paciente oncológica em estado terminal com pouco tempo de vida. Ela “adotou” Florence quando ainda era jovem, assim como Jack, um rapaz com indícios de um certo grau de autismo.
A partir desse momento, a obra começa a se perder pela quantidade de elementos introduzidos, mas não explorados. Há o caso do incêndio não resolvido, que atormenta Franky, e influenciada por Florence, ela decide resolver com as próprias mãos. No entanto, logo isso é deixado de lado.
O remorso que Franky sente em relação ao pai, acreditando que sua amante, atual esposa dele, foi responsável pelo início do incêndio, é abordado, mas o desenvolvimento é pífio.
O romance LGBTQI+ entre as duas não parece natural, e seus dramas carecem de profundidade. A trilha sonora constantemente tenta transmitir a sensação de inquietação e, por vezes, consegue fazê-lo, mostrando a confusão mental na qual a protagonista está envolvida. O único ponto negativo desta parte é quando Esmé Creed-Miles tenta cantar, como a personagem admite durante o filme, ela não é boa com isso.
A construção das cenas captura bem o aspecto underground europeu, diferente do habitual em obras do gênero, retratando o subúrbio de Londres de forma crua e, às vezes, até de maneira suja. A fotografia se destaca nas cenas noturnas, especialmente quando as personagens estão em ambientes externos.
Uma cena específica em uma balada chama a atenção, onde Sacha Polak consegue filmar Franky no centro de um jogo de luzes, ao mesmo tempo em que há música e o uso de drogas, demonstrando a bagunça do ambiente de forma intencional.
No geral, “Névoa Prateada” não foi exatamente o que esperava. Pela sinopse oficial, fui levado a acreditar que seria um drama intenso sobre o incêndio e seus desdobramentos, com o romance em paralelo. Infelizmente, isso não acontece.
No final, o filme é um amontoado de ideias, algumas promissoras, mas que são jogadas na tela sem o desenvolvimento adequado.
- Névoa Prateada estreia em 18 de Abril nos cinemas brasileiros.
Obs: Esta crítica foi feita a partir de uma sessão de cabine de imprensa na qual fomos convidados pela A2 Filmes, a quem agradecemos.
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Névoa Prateada tem um amontoado de ideias interessantes, mas que são jogadas em tela sem as devidas profundidades. O mistério principal logo é esquecido, fazendo perder o interesse pela trama.
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- Personagens6
- Direção7
- Trilha sonora8