Quem não conhece a música “Fico assim sem você”? Muito difundida na voz de Adriana Calcanhotto, a letra da melodia foi criada pela icônica dupla Claudinho e Buchecha, que fez muito sucesso e foi alçada ao estrelato no fim dos anos 90. Buscando tornar os dois ainda mais memoráveis, a Urca Filmes produziu Nosso Sonho, longa que aborda as raízes dos cantores e um pouco de suas trajetórias. É quase como uma biografia, mostrando pontos altos, baixos e as conquistas realizadas por ambos.
O longa segue um roteiro que se utiliza de um flashfoward logo em seu início, traçando paralelos entre passado e futuro. Somos introduzidos a Claudinho (Lucas Penteado) e Buchecha (Juan Paiva), dois jovens de origem humilde de São Gonçalo. Após um evento inesperado, a amizade entre ambos se torna uma irmandade indestrutível. Os dois, então, passam a se projetar para o cenário do funk melody com letras leves e animadoras. Assim, conquistam a fama.
Leve e animador também seriam palavras que eu usaria para descrever a maior parte do filme. Toda a trama é uma aventura de amigos, fiéis escudeiros um do outro, que passam por provações e conquistam suas vitórias. Enquanto em muitos filmes nacionais vemos a presença da violência, aqui isto não ocorre, e nem teria por que ocorrer. É muito interessante ver uma visão positiva das comunidades mais pobres e de seus moradores, com foco na celebração, união e família. Mas, exatamente por ser leve, Nosso Sonho também perde a oportunidade de apresentar uma crítica social mais robusta. Afinal, mesmo décadas depois do lançamento, ainda convivemos com um Rio de Janeiro distante do poder público e outro alienado e incapaz de enxergar os próprios privilégios. O filme não é isento deste tipo de crítica, mas ela surge de maneira tímida e nos faz pensar que poderia ser algo melhor explorado. Uma pena.
O roteiro, apesar disso, convence e cativa. É claro que a atuação dos personagens contribui em muito para criar uma atmosfera que leve o espectador a simpatizar com o filme. No elenco, destaco Lucas Penteado. É muito bom vê-lo atuando nesse filme após todo o caos vivenciado no BBB 21. Lucas se entrega, apresentando um personagem divertido e alegre, sem extravasar e ir para o lado caricato. Já Juan, encarnando Buchecha, por vezes é mais introspectivo e sério. Isto decorre por diversas razões, dentre elas o choque entre o personagem e seu pai, Claudino (interpretado muito bem por Nando Cunha), o qual faz um papel de antagonismo ao desacreditar a dupla e não reconhecer seu sucesso.
Embora tenha competência em cobrir a maior parte do tempo de atividade de Claudinho e Buchecha, o roteiro acaba por vezes acelerando a trama demasiado. Considerando as quase duas horas do filme, porém, podemos compreender a necessidade de decisões que priorizassem alguns períodos da vida dos protagonistas ao invés de outros. Outro apontamento que é importante é que o filme poderia se focar mais na transição de Claudinho e Buchecha para o estrelato, algo que acaba ocorrendo de uma maneira um tanto artificial.
Contudo, o filme acerta em vários outros quesitos. A direção é arrojada, madura e consegue entreter sem cansar. O humor está sempre presente e diverte, as cenas de impacto são poderosas e o final do filme com certeza vai emocionar. Nosso Sonho é uma ode aos nossos artistas, à música nacional e a uma das maiores duplas de sucesso que o Brasil já viu. Vale demais a pena!
Obs: Esta crítica foi feita a partir de uma cabine digital realizada pela Manequim Filmes, a quem agradecemos.
Leia também: