Quando ouvi pela primeira vez sobre o filme O Último Pub, não me interessei muito, pois pelo trailer achei uma temática triste e não estava na mesma vibe para produções desta natureza.
Contudo, com o passar dos dias vi boas avaliações acerca dele e com o convite que recebemos da Synapse, resolvi dar uma chance e não me arrependo nenhum pouco.
Foi uma experiência muito reflexiva e que me deixou com vontade de ter visto com alguém, só para poder conversar a respeito. Mas, o que o filme traz para nós?
Mundo globalizado: realidade ou utopia?
O Último Pub, The Old Oak, é produzido pela Synapse e dirigido por Ken Loach (Eu Daniel Blake, Você não estava aqui). O filme se inicia com a chegada de imigrantes sírios em uma comunidade do Nordeste da Inglaterra, falida e que vive sua própria dispersão populacional, após a falência das minas de carvão.
A chegada desses novos habitantes aumenta ainda mais as tensões existentes entre os locais, fazendo com que a comunidade fique por um fio. Entretanto, o último espaço público do local pode ser o que a cidade precisa para se salvar.
A Inglaterra é um país que se notabilizou pelo desenvolvimento industrial. No inicio deste processo, as minas de carvão eram as principais fontes de riqueza e alavancou o desenvolvimento de muitas cidades. Contudo, com a revolução industrial, as mudanças dos combustíveis, as pautas de sustentabilidade e a dificuldade do governo local em fornecer alternativas para estas cidades periféricas, muitas foram falindo e se tornaram verdadeiras cidades quase fantasmas.
Assim, a população local foi se dispensando em busca de novas oportunidades, e àqueles que ficaram em suas casas, sofrem com a falta de condições para sobreviver, com desvalorização de imóveis e ausência de serviços básicos.
Pelo esvaziamento destas cidades e pela sua localização mais interiorana, os governos dos países desenvolvidos, aqui no filme da Inglaterra, optam por alocar os imigrantes sírios nesses lugares. O choque cultural, a falta de uma política de migração contundente e a completa ausência de serviços básicos comuns, vem provocando tensões significativas entre a população local e estes novos moradores fazendo com que a xenofobia chegue a um ponto critico, e grandes violências aconteçam.
A falta de politicas solida para lidar com a questão da imigração, no intuito de promover um verdadeiro acolhimento a estas pessoas em fuga, mostra o quanto os países não dialogam verdadeiramente e como a globalização ainda é uma utopia.
Atuações e roteiro
O roteiro apresenta uma história com um ritmo lento, numa atmosfera depressiva e que usa de tons mais azulados, além de um cenário mais invernal, para retratar todas as ausências e as faltas que a população sofre. Também vale destacar que existe um amadurecimento para contar a história, fazendo com que a escalada das tensões seja palpável, o que contribui para aumentar o envolvimento do espectador.
Outro destaque da obra, é que ela não se furta em assumir seu lugar como denuncia social e trazem temas como a imigração, a xenofobia, a guerra étnica, a ausência de politicas públicas, o desemprego. Assim incomoda bastante ao trazer cenas de violência, como o espancamento de um jovem só por ele ser estrangeiro, um recorte dos bombardeios na Síria, além de uma cena muito poética que retrata todo o desespero e a desesperança do protagonista.
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Essas tensões são bem retratadas pelo competente diretor Ken Loach e para isso ele se apoia nas atuações magistrais de Dave Turner e Ebla Mari, que até quando estão em silêncio expressam todos os sentimentos que os personagens carregam.
E cabe a eles, que ao formarem uma aliança improvável, tentarem resgatar um pouco do senso de comunidade, nos fragmentos que restaram. Afinal todos estão no mesmo barco. Os atores coadjuvantes também merecem uma menção honrosa, ao entregarem atuações muito sólidas.
Ainda é possível destacar a forma como as pessoas lidam com as perdas. Enquanto temos alguns ingleses, que há muito abandonou qualquer esperança, vai se entregando a bebida e a violência, percebemos a resiliência dos Sírios, que tentam manter a esperança, enquanto formam uma grande família comunitária.
Crítica de O Último Pub: uma experiência única!
O Último Pub é um excelente filme. Ao apresentar a realidade dos moradores locais e dos refugiados, o diretor proporciona ao telespectador uma reflexão acerca de uma grande problemática da atualidade. Ainda é possível destacar o cenário desolador e frio do filme, mostrando toda a crueldade da realidade vivenciada.
Por mim, neste cenário desafiador, destaca-se o final esperançoso e que serve como exemplo para acolhermos o diferente e tentarmos nos fortalecer ao nos unir com o diferente que encontramos em nosso caminho. Vale a pena assistir!
O Último Pub estreia em 8 de Agosto nos cinemas brasileiros.
Obs.: Esta crítica foi feita a partir de uma sessão de cabine de imprensa na qual fomos convidados pela Synapse, a quem agradecemos.
Sinopse
No último filme de Ken Loach, o dono de um pub luta para manter seu negócio vivo em uma cidade decadente. Quando refugiados sírios começam a ocupar as casas vazias da região, a tensão aumenta e a união dos habitantes locais é colocada à prova.
- Roteiro
- Atuações
- Direção
- Sonoplastia