O que uma criança pode fazer diante de uma situação desesperadora, na qual seu mundo é pequeno e seu maior refúgio, seus pais, se foi? Esta é a proposta de Skinamarink: Canção de Ninar, filme canadense de terror que será lançado nos cinemas brasileiros no próximo dia 23. Sendo experimental, o filme busca apresentar algo novo enquanto tenta manter uma contínua atmosfera sufocante para o espectador.
Um filme peculiar
Mas, exatamente, o que é Skinamarink? Sem dúvidas trata-se de um filme peculiar. O longa possui particularidades que o afastam do terror mainstream, mas que ainda assim não são totalmente inéditas. Se você acompanhou a era de ouro das histórias assustadoras conhecidas como creepypastas, pode sentir-se acolhido pela proposta.
A história se passa em uma casa onde vive uma família de quatro pessoas. Temos Kevin, um garotinho de quatro anos, sua irmã Kaylee e seus pais. O início do filme mostra as consequências de um acidente e, a partir daí, temos o desenrolar de acontecimentos estranhos.
Skinamarink possui diversas maneiras de provocar o espectador pelo incômodo. E este é um ponto que deve dividir o público que vai assistir o filme. Os rostos dos personagens quase nunca são mostrados, com notáveis exceções que acentuam o medo. A câmera passeia por entre a casa, exibindo o teto, paredes e o chão enquanto os diálogos se sucedem e são entrecortados por silêncios desconfortáveis. Aliás, o uso do silêncio aqui é poderoso. Afinal, o que será que pode vir a acontecer na próxima cena?
Infelizmente esta pergunta se mantém como uma palavra presa na garganta durante boa parte do decorrer do filme, com pouquíssima ação e muitas cenas estáticas. As cores escuras, a repetição de ambientes e a entonação contida das vozes exigem do espectador um certo grau de paciência. O filme sabe ter um ponto de partida e um de chegada, mas acaba se arrastando no caminho.
Os personagens são, de certa forma, apáticos e o medo demora a se tornar um elemento real. Entretanto, é possível que se encontre uma terrível familiaridade com os desafios enfrentados por nosso jovem Kevin. Quem nunca teve um pesadelo memorável na infância, ou mesmo sentiu-se indefeso diante de uma situação complicada? É este tipo de sentimento que parece ser evocado aqui, com um cuidado específico para que acompanhemos a percepção das personagens.
O medo aparece em pitadas aqui e ali, desafiando o espectador com curiosidade. Uma pessoa de costas, objetos desaparecendo, rastros de sangue, uma luz na TV… É como se a direção testasse nossas defesas. Talvez o grande problema aqui seja a duração do filme: uma hora e quarenta minutos. É de se pensar que Skinamarink poderia, ao invés de ser lançado como um longa-metragem, tornar-se um curta. Algumas sequências provam-se desnecessárias e exaustivas, cortando a tensão e nos afastando momentaneamente do que está sendo apresentado.
Importante dizer que o áudio e a imagem do filme são indispensáveis na experiência, ditando o modo como o filme é consumido. A cada segundo, algo pode surgir das sombras. A cada momento, um toque alto pode desestabilizar nossa mente e fazer arrepiar a espinha. Quando se está imerso no filme, a esperança é que o drama sufocante de Kevin tenha um final feliz. Da mesma forma, esperamos uma virada na trama que explique o que está ocorrendo.
Muito do filme acaba por ser subjetivo, ficando a nós o cargo de interpretar o que está sendo mostrado. Skinamarink não se permite ser mais explícito do que suas construções que surgem e somem em um literal piscar de olhos, confundindo-nos e intrigando-nos.
Skinamarink: Canção de Ninar vale a pena?
Com o terror já sendo um nicho próprio, Skinamarink vai além e acaba se situando em uma zona que transita entre um filme de baixo orçamento e o found footage (embora não faça parte deste último). Com certeza será um achado para os fãs que desejem um filme diferente, curioso e palco de discussões e teorias.
Em suma, Skinamarink é um filme distante da maioria dos que estamos acostumados. Ele é lento, é desbotado, é subjetivo. E em cada um dos espectadores pode haver uma interpretação, um bicho-papão particular que se materialize em nossas mentes e explique, cada qual à sua maneira, os significados do filme.
Convém, por último, reforçar que a experiência completa se dará com a entrega ao show de (poucas) luzes e sons, podendo ser esta a linha tênue que separa a simpatia ao filme da frustração ao vê-lo. É vital mergulhar de cabeça neste mundo para que Skinamarink não corra o risco de se tornar uma literal canção de ninar a quem estiver assistindo.
Obs: Esta crítica foi feita a partir de uma exibição prévia do filme concedida pela A2 Filmes, a quem agradecemos.