Nos últimos dias o brasileiro foi surpreendido com a notícia de um rombo de R$ 20 bilhões nas Americanas, uma das lojas mais queridas para compras que vão desde doces até games, móveis e eletrodomésticos. Tivemos a demissão do CEO, ações afundando e denúncias contra a companhia. O rombo de 20 bilhões fez as Americanas pedirem recuperação judicial, solicitação que foi aceita hoje (19). Confira aqui as principais dúvidas sobre o ocorrido:
O que aconteceu com as Americanas?
As Americanas detectaram a existência de vinte bilhões em dívidas que não haviam surgido em seu balanço, o que foi chamado pela companhia de “inconsistências contábeis”. Assim, o total de dívidas da empresa foi verificado em um valor no entorno de 40 bilhões. Tal montante surpreendeu a todos, ainda mais pelo fato de que o tamanho das Americanas, em patrimônio líquido, era de pouco menos de 15 bilhões de reais até então.
As ações das Americanas despencaram, fazendo também a empresa perder mais de 8 bilhões em valor de mercado em um dia e ser suspensa de índices como o Ibovespa.
Tudo começou em 11 de janeiro, quando o CEO Sergio Rial e o diretor de relações com investidores, André Covre, saíram da empresa. As Americanas escalaram Camille Loyo Faria, responsável pela recuperação judicial da Oi, para auxiliar na companhia.
Aparentemente, a raiz do problema apareceu no fato das Americanas realizar adiantamento a fornecedores e que esse tipo de informação foi registrada pela contabilidade de maneira incorreta por anos.
Após diversas informações desencontradas, algumas pessoas passaram a perguntar se o rombo seria de 20 ou 40 bilhões. O que ocorre é que os novos números se somam à chamada dívida bruta da companhia, que estaria em R$ 19,3 bilhões. Portanto, são quase 40 bilhões de dívidas que podem vencer, o que ocasionaria calote nos credores.
Como ficam as Americanas como empresa?
A companhia sai com a imagem prejudicada, mas não só isso. Para conseguir crédito de modo a manter ou expandir seus negócios, as Americanas também podem sofrer: agências que classificam risco de calote rebaixaram suas notas de crédito.
Os principais credores das Americanas são bancos públicos e privados, como o BTG, o Santander, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o BNDES, entre outros. A Advocacia Geral da União pretende entrar no processo de recuperação judicial como parte interessada.
Na manhã de hoje as Americanas informaram ter apenas 250 milhões em caixa, tornando suas operações inviáveis. Daí a necessidade da recuperação judicial, uma vez que ela suspende a dívida por 180 dias e possibilita a negociação junto aos credores. A recuperação judicial é um instrumento que permite que a empresa tenha a oportunidade de, justamente, se recuperar e não decretar falência. Nem sempre há sucesso neste procedimento, mas é uma chance oportuna que as Americanas têm de sobreviver à crise.
Vale lembrar que as Americanas possuem em seu guarda-chuva as Lojas Americanas e a B2W, que possui as Americanas.com, Shoptime e Submarino. Outra empresa que pertence às Americanas é a Ame.
De acordo com a XP Investimentos, as Americanas precisariam de entre 12 e 21 bilhões de reais para se reestruturar. A recuperação judicial dura em média três anos, mas pode durar mais: a da Oi, por exemplo, durou seis. Na recuperação judicial, um juiz toma as rédeas e é realizado um plano para a negociação das dívidas envolvendo parcelamentos, venda de ativos entre outras ações que podem ser realizadas. Este plano é, posteriormente, votado em uma assembleia de credores. Vale lembrar que a recuperação judicial dá sobrevida às Americanas e a partir daí há dois caminhos: a recuperação total ou, no pior caso, a falência.
E como ficam os consumidores?
Chegamos ao ponto crucial para quem compra nas Americanas: os consumidores serão afetados? A princípio, não. A empresa não diz que vai interromper suas operações, fechar lojas ou demitir funcionários, informando em comunicado que continuará trabalhando para atender a seus clientes. No momento, a empresa continua vendendo e atendendo aos consumidores. Há a expectativa de que grandes acionistas da companhia como Jorge Paulo Lemann (o homem mais rico do Brasil) auxiliem em seu futuro e impeçam uma possível falência.
O site, a loja e o app estão funcionando normalmente e não há risco, no momento, de que os produtos comprados não serão entregues. Os prazos e obrigações se mantêm, com responsabilização legal em caso contrário.
De acordo com especialistas ouvidos pela Infomoney, o saldo de cashback da Ame não pode ser afetado, tratando-se de um direito adquirido pelo consumidor. É importante, porém, guardar o registro do saldo e conversar com o atendimento da fintech no caso de alguma divergência.
As regras para cancelamento permanecem, com compras online possuindo o prazo de sete dias para arrependimento, de acordo com o Código de Defesa do Consumidor. Também continua válida a regra de devolução do valor em caso de atraso na entregas e também a de trocas de produtos. Outra questão válida é sobre o atendimento para clientes: ele continua operacional.
Estas regras não só também se aplicam a Submarino e Shoptime como também são válidas durante a recuperação judicial. Em caso de problemas com a loja e, posteriormente, com o próprio atendimento ao consumidor, o Procon é uma alternativa válida.
Se as Americanas falirem, entretanto, o consumidor pode ser prejudicado. O pagamento aos credores vai até o limite dos ativos e bens, respeitando a Lei de Falências. Os consumidores não possuem preferência na lista de credores a receberem valores, por isso podem ficar sem receber caso tenham alguma mercadoria comprada e a falência seja decretada. A questão, porém, pode ser judicializada pelo cliente.
Vale lembrar que este caso é apenas uma hipótese, uma vez que, no momento, a empresa se encontra em recuperação judicial e tem por obrigação manter os seus deveres perante ao Código de Defesa do Consumidor, como dito acima.
Fontes: Infomoney, Folha de São Paulo e G1