Ghost of Tsushima é um dos grandes games do PlayStation. Tendo sido lançado em julho de 2020, pouco depois de The Last of Us: Part II, o game impressionou por seu combate, mundo aberto e uma boa história. O final do jogo, construído com muita maestria, deu o que falar. Afinal, ele possui duas ramificações que alteram de forma sensível a trajetória de Jin Sakai. Algumas pessoas, diante disso, se indagam: qual é o final “certo”? Resolvemos tratar deste tema com detalhes abaixo (obviamente, há spoilers). Mas no que consiste o final de Ghost of Tsushima?
Para responder a esta pergunta, devemos pensar no início da trama. Jin Sakai é um jovem samurai que desde cedo aprende o principal fundamento dos guerreiros japoneses: a honra. Seu uso consiste em se portar de maneira ordeira e lutar de maneira “justa” contra os inimigos, encarando-os de frente e não usando de nenhuma artimanha das sombras. Ao longo do game, Jin desvirtua estes conceitos na figura do Fantasma. Ele usa, por exemplo, veneno e furtividade, práticas que não agradam o líder da ilha que também é seu tio e protetor, o Lorde Shimura. Ao longo do game, porém, vemos práticas dos samurais que contrariam sua suposta honra imaculada, como o fato de Shimura realizar alianças com piratas e tentar culpar Yuna pelos feitos do Fantasma. Esta percepção se torna ainda maior na DLC da Ilha Iki, na qual Jin descobre as atitudes nada heroicas de seu pai, Kasumaza, que matou muitos dos corsários que viviam no local.
A verdade é que ao se mostrar como diferente dos samurais e conquistar a vitória sobre os mongóis, Jin desmoralizou a classe e apresentou aos habitantes de Tsushima uma alternativa. Com isso, a estrutura de poder vigente se sentiu ameaçada. O líder desta estrutura, o Xogum (que era o chefe de fato do Japão na época) reage desfazendo o clã Sakai e instando Shimura a matar o sobrinho. Uma vez que Shimura é a única família que resta a Jin e que havia planos do lorde de torná-lo seu herdeiro legítimo, a ordem acaba sendo por demais dolorosa. Ainda assim, só resta a Shimura cumpri-la a fim de manter sua honra e uma suposta estabilidade na ilha de Tsushima. Como resultado, ele convida Jin para um encontro após a morte de Kothun Khan, surpreendendo o jogador ao se apresentar como o verdadeiro chefão final do game. A todo momento Shimura tenta desassociar Jin da figura do Fantasma, falando do guerreiro em terceira pessoa quase como se não aceitasse o caminho que o jovem escolheu. Reconhecendo seu destino, Jin aceita o duelo e inevitavelmente vence. A partir daí o jogador tem duas escolhas: matar ou poupar Shimura.
Os dois finais
Ambos os finais são controversos e o que parece ser uma escolha fácil, a princípio, se mostra um momento muito mais complexo. Comecemos a partir do final no qual ambos saem vivos do duelo. Foi a escolha que realizei no final do game e a que compreendo ser a mais correta. Isto decorre de dois fatores. O primeiro é que Shimura é o mais próximo que Jin possui de uma família. Matá-lo seria a mais dolorosa perda decorrente de uma guerra que já levou pessoas e sonhos demais. Mas não é só isso: Jin deixa claro, neste final, que sabe ser um homem desonrado. Entretanto há uma sensível diferença entre não ter honra e matar alguém da própria família segundo a percepção de Jin neste final, mostrando que o caminho inflexível de samurai não é a única escolha e que ele não é escravo de uma doutrina fria e cega. Este sempre me pareceu o melhor encerramento: o de um ex-samurai que sabe que desvirtua o código, mas que entende que ele não é o único caminho a se seguir.
O segundo final envolve matar Shimura. Embora eu não concorde com este desfecho, quem o defende possui argumentos interessantes. O primeiro é que Shimura quer que Jin o mate. Isto sinalizaria o fim de um ciclo e o término justo de um combate de samurais. O segundo é que a desonra, para alguns, seria pior do que a morte. Vencer o tio e ir embora poderia soar como uma forma de humilhação a Shimura, mostrando ao Xogum que seu tio seria uma pessoa desonrada e incapaz de lidar com os problemas de Tsushima. Para quem tanto defende o fundamento da honra durante o game, não parece ser uma boa alternativa.
Como podemos ver, ambos os finais envolvem uma decisão difícil, amarga e cheia de nuances. Em suma, não é possível dizer que existe um final correto, ao menos agora. Há uma decisão que pertence ao jogador e que reflete toda a evolução de Jin durante o game.
Como o fim de Shimura pode ser abordado em Ghost of Tsushima 2?
Caso tenhamos Ghost of Tsushima 2, inevitavelmente uma das decisões de Jin em relação ao destino do tio terá de ser levada em conta. Qual delas seria e como a Sucker Punch abordaria o tema?
Uma solução mais fácil seria tirar o poder de escolha do jogador e entender um dos finais como canônico. Embora seja uma forma mais fácil de abordar o problema, inevitavelmente isto poderá causar ruído na comunidade de jogadores.
Outra solução é permitir que o jogador deixe claro a escolha que fez. Em The Witcher 3, por exemplo, há uma cena no início do jogo na qual o jogador é “interrogado” sobre as escolhas que fez anteriormente (isto é, em The Witcher 2) e as respostas influenciam em algumas missões e diálogos. O mesmo poderia ser feito em Ghost 2.
De todo modo, ao final do primeiro game Jin se torna inimigo do Xogum. Isto aliado a perspectivas de uma nova invasão mongol capitaneada pelo seu verdadeiro líder, Kublai Khan, pode ser um ingrediente interessante em uma sequência.
E você? Matou ou poupou o Lorde Shimura em Ghost of Tsushima?
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