Jogos com determinado tipo de câmera não deveriam existir. Jogadores de celular não deveriam ser sequer considerados gamers. Jogar em uma plataforma só te faz um alienado, inclusive. A propósito, evite reclamar de jogos sem tradução: você deveria se adaptar a eles e não o contrário. Pare de se divertir com isso, é um filme e não um jogo! Não matou esse chefão? Foi muito fácil para mim, por que demorou tanto?
Se você se incomodou com algumas ou todas as frases acima, saiba que eu também não concordo com elas. Infelizmente, por vezes, são uma constante que novos jogadores enfrentam ao iniciar suas jornadas no mundo dos games, um lugar que deveria ser de acolhimento e diversão e pode se transformar em um emaranhado de discussões que não raro descambam para ofensas e atitudes desprezíveis por parte de pessoas obcecadas por empresas e marcas, os chamados fanboys.
Lembro-me de que há muitos anos, quando assisti Batman vs Superman nos cinemas, não gostei tanto do filme. Entretanto, um trecho em específico me chamou a atenção: uma fala do personagem Lex Luthor (interpretado por Jesse Eisenberg) onde ele diz que “Deus é tribal, Deus escolhe lados!”. Por vezes, pessoas se utilizam desta prerrogativa para eleger um lado como inimigo, como um mal que deve ser combatido e destruído. Veja bem, não é problema gostar muito de um hobby. Cada um tem o seu. Entretanto, quando a pessoa que detém um gosto diferente vira vítima de represália e ofensas, estamos diante de um comportamento tóxico e errático, para dizer o mínimo.
Existe ainda um lado obscuro na agressividade ao jogador casual que se manifesta em grupos mais seletos, mostrando preconceitos enquadrados como crimes. É verdadeiramente vergonhoso que este comportamento exista e se propague, saindo totalmente de uma experiência positiva e divertida que deveriam ser os jogos em geral. Apelando ao guarda-chuva genérico e impróprio denominado “lacração”, temos as mais variadas críticas que amargam experiências mais inclusivas. Uma pena.
Por vezes, o usuário do PC/console/celular quer apenas jogar um pouco após um dia repleto de trabalho. Toda ajuda é bem-vinda, mas o tratamento que se faz por vezes desse usuário é de alguém que não sabe escolher coisas boas por conta própria. É por isso que “casual” se torna uma ofensa em algumas comunidades. Afinal, o jogador casual é um ignorante, um ser sem conhecimento que deve ser levado para a luz e tutelado para que conheça o real sentido de ser um jogador — o que, no fim das contas, obviamente não é verdade.
Há ainda um fator bizarro que consiste em um apego brutal à nostalgia, a tudo o que foi de uma época e que simplesmente não pode ser atualizado. Há o culto a uma estrutura que não pode ser mudada. Afinal, “antigamente era melhor”. Será mesmo? É claro que alguns elementos do passado são icônicos, únicos e base para o que temos hoje. Entretanto, também temos evoluções pertinentes em gráficos, jogabilidade, acessibilidade e localização. Os gêneros também se expandiram e estão mais vibrantes do que nunca, abrangendo uma multiplicidade incrível de jogadores.
No quesito localização, temos que lembrar que a esmagadora maioria dos brasileiros não possui fluência em inglês. Desmerecer pessoas que queiram experimentar um jogo e são impossibilitadas por alguma barreira linguística é simplesmente patético. Da mesma forma, ironizar opções de acessibilidade é realmente lamentável. Esse sentimento de pertencimento egoísta, onde só se ganha quando alguns têm e outros não, é uma bizarrice muito sui generis que vemos regularmente.
Contra comportamentos desagregadores felizmente há em maior número lugares mais acolhedores e amigáveis. Um exemplo, dentre milhares, é boa parte da comunidade de Bloodborne que dá suporte a novos jogadores e dicas interessantes. Há muitos outros grupos de jogadores que realizam este mesmo trabalho, priorizando a cooperação. É algo realmente inspirador.
O problema do jogador casual, em última instância, é ter que lidar a cada dia com alguns usuários e comunidades tóxicas que por vezes confundem entusiasmo com arrogância e apostam na superioridade para converter jogadores às suas crenças. São pessoas que veem a indústria como um campo de batalha onde o importante é a vitória e não a diversão. O desejo é que estes últimos possam deixar de lado suas fantasias e contribuir para um espaço mais construtivo não só para os jogadores casuais, mas para a indústria como um todo.
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