Mais uma edição do The Game Awards se passou e tivemos inúmeras premiações. A mais aguardada, a de Jogo do Ano, foi vencida por Astro Bot, first party da Sony que é uma nova aventura do famoso mascote da marca. A vitória encheu as redes sociais de fúria e comentários negativos, com muitas pessoas duvidando da credibilidade do evento e tratando a conquista do título da Sony como piada ou só ocorrendo por ter um suposto dedo da gigante japonesa. Mas será que a vitória de Astro Bot foi tão negativa para o The Game Awards?
Um ano pouco competitivo?
A primeira pergunta que muitos se fazem é: por que Astro Bot ganhou o prêmio de jogo do ano e Mario nunca? Afinal, ambos são grandes mascotes de suas marcas e possuem como foco jogabilidade em plataforma para a família. Portanto, algumas comparações são inevitáveis. Em 2023, Super Mario Bros. Wonder foi indicado, mas não venceu. O que por vezes se esquece é que o ano de 2023 foi fora da curva, com uma disputa verdadeiramente titânica. Tivemos, além do próprio título de Mario, um novo Zelda, Marvel’s Spider-Man 2 e Resident Evil 4. Estes títulos, no entanto, encararam o brilhante Alan Wake 2 e o próprio Alan Wake, após quase beliscar favoritismo, não conseguiu medir forças com o inacreditável Baldur’s Gate 3. Ou seja, 2023 foi um ano apoteótico para os games, difícil de replicar em qualidade e que realmente fez história.
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Já em 2024, a competição foi menor. Isto é um fato, e surge na medida em que houve polêmica ao redor de pelo menos três dos seis títulos indicados. Final Fantasy 7 Rebirth, Elden Ring: Shadow of the Erdtree e Balatro foram criticados por serem um remake, uma DLC e um jogo indie de cartas, respectivamente. Além disso, títulos como o remake de Silent Hill 2 não deram as caras nas indicações. Astro Bot se viu na dianteira ao lado de Metaphor: ReFantazio e Black Myth Wukong.
Quanto a estes dois últimos, é preciso fazer algumas ponderações. Metaphor: ReFantazio é um jogo um pouco mais nichado e que, combinando ação em tempo real com turnos, não conseguiu furar a bolha na mesma intensidade que Baldur’s Gate 3. Já Black Myth Wukong possui questões relevantes de level design que prejudicam uma tentativa de exploração intuitiva. Além disso, comentários de membros da Game Science, empresa por trás do título, foram interpretados como misóginos.
Com isto em cena, Astro Bot se valeu de uma posição privilegiada, que dificilmente teria em outros anos do evento.
Jogo para toda a família
Astro Bot é um game caprichado. O investimento do estúdio por certo fez resultado, com um level design de ponta e mecânicas muito divertidas. Além disso, o Dual Sense brilha e é aproveitado em seu máximo, criando sensações de toque surreais ao jogador. O tamanho de cada fase, relativamente curto, e o objetivo lúdico de resgatar outros robozinhos tornam o game ideal para toda a família, sendo um título obrigatório para quem queira se divertir.
O fator diversão, no final das contas, é preponderante. Mas não só ele. A conexão que o título cria entre familiares, como pais e filhos, é multiplicada e louvável. Vamos voltar para 2018, quando Red Dead Redemption 2 perdeu para God of War. Embora ambos os jogos sejam tecnicamente perfeitos, há de se dizer que Red Dead possui muito mais conteúdo e um detalhamento ímpar que nunca se viu em outro título. Entretanto, a jornada intimista de Kratos e Atreus, ainda mais considerando um júri vasto onde muitos membros são pais, pode ter sido o fator determinante da vitória do Fantasma de Esparta naquele memorável ano. Destaque-se que não se está de nenhuma forma criticando o aspecto humano em Red Dead Redemption 2, com personagens extremamente ricos e um protagonista marcante para toda a história dos videogames. Mas o drama de Kratos e Atreus pode ter chegado um degrau mais longe – e por isso, vencido.
Talvez o mesmo tenha ocorrido aqui, em um ano com menor competição, e tenha beneficiado Astro Bot. A conexão criada com o público e os jurados em um jogo fantástico e que expande as boas mecânicas apresentadas em Astro’s Playroom deve ter sido determinante para a conquista do maior prêmio do TGA 2024.
Desinformação nas redes
Um problema na indústria dos videogames são as aglomerações de opiniões tóxicas e desinformadas sobre determinado assunto, aglomerações estas que por vezes infectam partes inteiras de comunidades e se transformam em perigosos comportamentos de manada que extrapolam o limite do bom senso. Um exemplo foram as ameaças sofridas por Laura Bailey, intérprete de Abby em The Last of Us Part 2. Mais recentemente, tivemos os ataques contra Ciri e Jordan, protagonistas de The Witcher 4 e Intergalactic, respectivamente.
Com Astro Bot um fenômeno semelhante parece ter se formado, com inúmeras pessoas ridicularizando o game e tratando a vitória como se fosse um grande meme. É claro que é possível discordar da escolha, mas os ataques que ocorreram e ocorrem são de uma escala descomunal – com direito a tentativa de review bomb contra Baldur’s Gate 3 (que não teve absolutamente nada a ver com a situação).
Teorias de conspiração estranhas surgiram, como se a Sony tivesse comprado o evento. Bom, considerando a quantidade de jurados seria necessário um esforço sobrenatural da gigante japonesa. A verdade, quando se olha com maior cuidado, é que uma boa parcela dos críticos não só não jogou Astro Bot, como também não é usuário da plataforma PlayStation. Assim, diversas reclamações parecem muito um ode a outras plataformas ou à desinformação do que propriamente uma contestação plausível.
O curioso é que muitos dos que reclamam da premiação normalmente se dizem inabaláveis, como se não se importassem com eventos como TGA. A vitória de Astro Bot mostrou que isso passa longe de ser verdade e denota uma frustração e um ressentimento desagradáveis e contraditórios para algo que deveria ser um hobby prazeroso.
A ideia de que Astro Bot não deveria ganhar o prêmio de Jogo do Ano também advém de um pensamento de que o game, por ser de plataforma e para a família, não seria elegível. O que ocorre é que muitos confundem a jornada gráfica rumo ao fotorrealismo com diversão, e é preciso separar muito bem as duas coisas.
CEO de desenvolvedora de Black Myth não segurou a língua
Por último, mas não menos importante, é interessante se atentar aos comentários de Feng Ji, CEO da Game Science, a respeito da derrota de Black Myth Wukong. Segundo Ji, ele não entende os critérios para que um game vença o título de Jogo do Ano e que possuía um discurso da vitória escrito há dois anos. Isso em um contexto no qual Black Myth venceu os prêmios de Melhor Jogo de Ação e o Player’s Voice, ou seja, a escolha dos jogadores. Pareceram comentários grosseiros e incompatíveis com o que se espera de um legítimo vencedor. Uma pena.
Por todo o exposto, Astro Bot desponta como uma excelente surpresa, um ótimo jogo para toda a família e o Jogo do Ano de 2024. E você, qual o seu jogo do ano em 2024?
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2 Comentários
Artigo de fato necessário! Explanou excelentes pontos, parabéns!
Cara!
Meu Deus dos céus…
Esse texto com toda essa análise e riqueza de informações são extremamente profundas e justificáveis quebrando todos os parâmetros e paradigmas. Merece o Oscar…
Sendo imparcial, sensato, honrado e justo….
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