Em 2001, quando Project Eden foi lançado, estávamos no início de um novo século (ou melhor, de um novo milênio) com muitas discussões a respeito dos desafios que enfrentaríamos. O game realizou alguns questionamentos interessantes e, para diversos jogadores, esteve à frente de seu tempo na jogabilidade e construção de mundo. Mas, afinal, como era Project Eden? Para começar, confira sua magnética intro:
Project Eden nos coloca na pele de quatro investigadores da UPA, a Agência de Proteção Urbana que faz a proteção de uma megalópole futurista. A cidade possui uma característica inconfundível: sua grande verticalidade, imprimindo óbvias desigualdades à população local. As classes mais abastadas ficavam no topo e enquanto rumávamos para zonas em níveis mais baixos, encontrávamos zonas inseguras, abandonadas pelo poder público e com pouca perspectiva de sobrevivência. Há até um termo para o lugar no qual se encontrava o solo: ground zero, completamente inabitável e onde a luz do Sol sequer chegava.
Nossos heróis são quatro, cada um com uma habilidade específica. Carter é o líder, possuindo acesso a cartões de identificação e ações como interrogar pessoas. Andre é um especialista na parte elétrica, resolvendo pendências relacionadas. Minoko é uma excelente hacker, conseguindo se infiltrar em sistemas sem muita dificuldade. Amber, tendo sofrido um acidente há anos, teve boa parte do corpo substituída por implantes metálicos e pode se aventurar em terrenos perigosos e mortais para qualquer outro ser humano. O curioso é que o game possui um componente multiplayer no qual até quatro jogadores podem desbravar a cidade juntos.
Basicamente somos uma equipe especializada que é lançada a uma zona estranha para investigar o desaparecimento de dois trabalhadores de uma fábrica de carne sintética. Embora o primeiro nível seja mais reconhecível para nós, sendo um shopping, as coisas vão se distorcendo enquanto nos aventuramos em um enorme labirinto de concreto. A jogabilidade se expande com o acesso a itens adicionais como drones e armas. Os puzzles não são fáceis, exigindo atenção do jogador e não raro um certo domínio da língua inglesa (infelizmente o jogo não foi localizado). Mas a aventura se mostra prazerosa com o jogador dominando os ecos de uma cidade que a superfície não conhece e descobrindo segredos terríveis.
Project Eden é um game que flerta com o terror, embora não abandone a ficção científica. Os ambientes são escuros, metálicos e sujos, fazendo-nos lembrar de passagens da franquia Silent Hill. O som também é bem construído, com a sensação de que o cenário pode desmoronar. O futuro também surge, com aparatos futuristas e um método muito inteligente de respawn que envolve a reaparição do personagem como energia através de centrais da UPA. Estes postos de controle também recarregam as armas, sendo uma boa pedida.
Quanto aos inimigos, eles não aparecem a cada esquina, sendo dosados de uma maneira diferente de um game de ação. A sensação de medo acaba se acumulando quando percebemos que tudo é muito mais nebuloso do que parece. Encarar uma gangue criminosa infiltrada no submundo da cidade pode parecer perigoso, mas ir mais ao fundo e se deparar com canibais e monstros mutados deixa tudo mais sombrio.
Com boas mecânicas, puzzles desafiadores e instantes bizarros, Project Eden se mostrou como um game muito interessante e que atraiu a atenção de diversas pessoas. Quando o joguei, em meados dos anos 2000, senti-me totalmente intrigado pela proposta e em abrir caminhos naquele mundo que se erguia acima e abaixo dos meus personagens.
A cidade apresentada no game demonstra aspectos que podem parecer exagerados à primeira vista, mas também servem de alerta. O fato de termos prédios no lugar de casas em várias áreas pode ser encarado sob diversos ângulos. Uma visão mais pessimista alerta para danos importantes á estrutura das cidades. A formação de ilhas de calor, a falta de vegetação e a qualidade do ar são alguns problemas a serem enfrentados neste tipo de configuração. Estes são desafios imediatos que se aliam à densidade demográfica. No futuro, é possível que a discussão envolva cada vez mais nuances sobre a intervenção do Estado e o acesso a serviços básicos sendo ofertados para a população que vive mais próxima do solo.
O urbanismo é uma área que acompanha cenários relacionados à organização das cidades ao longo dos anos. Mudanças relacionadas à verticalização são discutidas há tempos em cidades como São Paulo, por exemplo. A maior cidade do país teve recentemente um plano diretor (uma lei que regulamenta organização e crescimento) aprovado que, segundo os críticos, eleva os problemas provocados pela verticalização e pode causar o desmantelamento de bairros históricos, uma piora no solo, ruas menos convidativas e mais estreitas e uma transformação negativa da paisagem.
São problemáticas que existem hoje e que foram levadas ao limite para construir Project Eden. Esperamos, porém, que a realidade seja sempre um pouco mais agradável que o cenário distópico apresentado no jogo.
Project Eden foi desenvolvido pela Core Design e publicado pela Eidos Interactive, tendo sido lançado originalmente para Windows e PlayStation 2.