Achilles: Legends Untold é a materialização de um desejo pessoal que eu nem sabia que tinha. O estúdio Dark Point Games teve a brilhante ideia de reunir elementos de Diablo com mecânicas de Dark Souls, criando um game único e altamente viciante. O melhor de tudo? Como o nome indica, o projeto tem uma roupagem especial da mitologia grega, tornando a aventura ainda mais charmosa.
Se aconchegue e venha comigo nesse review de Achilles: Legends Untold, uma das surpresas mais positivas que eu tive nos games em 2023.
Uma lenda conhecida
Aquiles é uma figura mitológica muito conhecida na cultura ocidental. Além de ser um dos principais nomes envolvidos na Guerra de Tróia, o herói atua como o principal guerreiro de Ilíada, uma das maiores obras do Ocidente.
O jogo, ciente da tremenda importância da figura de Aquiles, nos coloca inicialmente em um épico conflito em busca de Helena, história amplamente representada em nossa cultura e em diferentes formatos de mídia.
A introdução do jogo coloca Aquiles sendo derrotado por Páris e logo após isso temos um time skip de anos onde o herói acorda em uma Grécia profundamente alterada pelos conflitos políticos e, claro, com centenas de monstros mitológicos à solta.
Essa é a deixa pra nossa história. Com lapsos de memória, Aquiles percorre o país enquanto tenta assimilar o que aconteceu. A campanha segue a estrutura tradicional da jornada do herói e não foge muito da fórmula de games similares. As missões secundárias são legais e auxiliam no processo de worldbuilding e enriquecem a lore, trazendo informações sobre o próprio Aquiles e de outros personagens.
Com textos bem localizados em nosso idioma, toda a parte narrativa do game pode ser facilmente compreendida e, para a minha surpresa, a duração do jogo é satisfatória – separe entre 15 a 20 horas para concluir a primeira campanha. Graças ao NG+, uma árvore de habilidades extensa e dois finais diferentes, Achilles: Legends Untold tem um bom fator replay, o que deve agradar os fãs do gênero.
Uma Grécia cheia de perigos
O combate de Achilles: Legends Untold é extremamente viciante. Pautado na Stamina, daí entra as mecânicas Soulslike, precisamos ficar sempre atentos ao nosso redor, evitando que grupos de inimigos nos cerquem.
A variedade de armas e habilidades ajudam a expandir o leque de opções. Temos machados e espadas de uma mão, de duas mãos, lanças e diversos escudos. Por ser essencialmente um RPG, os equipamentos possuem raridades diferentes, assim como efeitos. Temos armas com efeito de sangramento, envenenamento, maldição ou luz, cada uma destinada à despachar com mais efetividade determinados tipos de inimigos.
Também temos óleos que podem ser aplicados nas armas e garantem efeitos temporários. Uma coisa negativa é que os recursos de melhorias, tanto os minérios quanto os Dracmas, são bem escassos até a metade do jogo, o que impossibilita a experimentação de várias armas. A partir de certo ponto, podemos comprar o minério contudo o preço é bem caro. A variedade de armaduras também poderia ser melhor. O upgrade é básico e segue a estrutura linear que já vimos previamente em títulos como Assassin’s Creed. É o simples que funciona!
As habilidades ativas podem ser equipadas em 3 slots e são obtidas dentro de baús especiais em ruínas, calabouços que funcionam como raids. A variedade de habilidades e o funcionamento delas é ótimo. A minha predileta é a do Escudo, que transforma Aquiles basicamente no Capitão América.
Podemos lançar o escudo nos inimigos e chamá-lo de volta, causando dano no retorno. Até o emblemático Chute Espartano foi transformado em uma habilidade em Achilles: Legends Untold. Um lance bacana dessas skills ativas é que elas possuem iframes que ajudam a tornar o combate mais dinâmico e agressivo, premiando os jogadores mais ousados e que gostam de montar combos.
Os efeitos da habilidade podem ser amplificados através da extensa árvore de habilidades passivas (e uma das mais lindas que já vi) que o jogo oferece. Essa árvore é dividida em signos/constelações e é a única forma de aumentar os atributos do personagem como Vida, Sorte, Força e Resistência. Ao concluir um signo completo, obtemos uma habilidade passiva poderosa como a que aumenta a velocidade de usar poções ou que aumenta substancialmente o ganho de XP ao eliminar inimigos.
Um ponto negativo diz respeito ao combate à distância. A habilidade de lançar o escudo é um dos poucos mecanismos de combate à distância que temos. A outra via é através de arremessáveis como granadas e arpões, mas a quantidade desses é limitada.
Toda vez que mudamos de nível, prestamos homenagens em túmulos ou derrotamos Estrigões, ganhamos um ponto de habilidade que pode ser aplicado na árvore. São centenas de habilidades disponíveis, o que reforça o fator replay via NG+.
No que diz respeito a dificuldade, achei o jogo relativamente tranquilo mesmo na dificuldade mais alta. Vale destacar no entanto que sou veterano no gênero e já fiz 100% em quase todos os principais exemplares. A quantidade de poções é generosa, contudo, se você vacilar, até os inimigos mais comuns podem te matar com 4-5 golpes. Curiosamente, fiquei com a sensação de que alguns inimigos elite, como os tenentes de lança, dão mais trabalho para serem derrotados do que os chefes principais da história. Por falar em chefes, o design deles deixa um pouco a desejar. Ao serem vencidos, temos a escolha entre despachar eles de vez ou permitir que eles vivam e aí entra a variação do final mencionada lá em cima! Infelizmente as animações de finalização de chefes se repetem e são bem desengonçadas, tirando o propósito da coisa.
Por boa parte se tratar de generais do exército inimigo, o estúdio não conseguiu destacar bem cada um deles com uma ornamentação diferente nas armaduras e afins, tirando um pouco do aspecto épico que o embate contra um chefe deve ter. A variedade de inimigos é boa, contudo, pelo escopo da obra, os adversários começam a se repetir de maneira excessiva a partir da metade do jogo, o que gera um leve senso de repetitividade mas que não chega a incomodar muito por conta do combate prazeroso.
O estúdio teve tanto carinho com o projeto que eles criaram uma tecnologia nova – o sistema GAIA (a Inteligência Artificial de Ação em Grupo) e acredite, muitos jogos deveriam tomar notas aqui. Quando os inimigos se agrupam, eles passam a usar uma mentalidade coletiva. Um soldado se agacha e o outro usa o soldado agachado para correr e soltar um ataque de pulo poderoso. Um Troll pega um inimigo próximo e o arremessa no jogador.
O mecanismo me deixou bem feliz e empolgado para o futuro. A IA dos jogos ainda tem muito à evoluir e fiquei surpreso de ver um estúdio pequeno criando um sistema que apresenta um ótimo avanço pro setor!
Uma verdadeira odisséia
Não poderia ficar sem falar sobre o mapa nesse review de Achilles: Legends Untold. O mundo do game é surpreendentemente vasto, talvez um pouco até demais. Com belos cenários que remontam a Grécia Antiga, percorremos ruínas, florestas, acampamentos inimigos e até a lendária Micenas. A navegação é facilitada através dos pontos de viagem rápida que são dispostos como Altares.
Como os inimigos não possuem um indicador visível de nível, a exploração precisa ser feita com cautela. Se você sentir que o inimigo está demorando demais de morrer, é melhor explorar outra área. A campanha segue um caminho relativamente linear, contudo, o jogador é livre pra perseguir todas as ? posicionadas no mapa.
Nas horas iniciais da aventura adquirimos uma habilidade especial em que conseguimos acessar o submundo, permitindo que Aquiles atravesse áreas que até então eram inacessíveis. Uma medida excelente pensada pelo estúdio é que correr fora do combate não consome Stamina, o que torna a exploração um pouco mais prazerosa.
No geral, senti que Achilles: Legends Untold tem pouca variedade de conteúdo para o mapa grande que tem. Podemos rezar em túmulos ganhando um ponto de habilidade, fechar fendas do submundo, explorar os porões das casas e caçar Estrigões. O design dos porões inclusive é sempre o mesmo, mudando apenas os túneis.
As atividades se repetem e só não ficam entediantes por conta do combate divertido do game. Algumas das ruínas, como o Templo de Cronos, guardam baús especiais que demandam que um puzzle seja resolvido. O puzzle também nunca varia – precisamos quebrar 3 selos que só então permitem que o baú seja aberto.
Poesia aos olhos
A ambientação de Achilles: Legends Untold é fantástica. A Grécia Antiga esculpida pelo estúdio Dark Point Games é cheia de charme e a imersão é aprimorada graças à trilha sonora orquestrada e um surpreendente uso do DualSense.
Como morrer faz parte da experiência de jogos desse tipo, fico feliz em apontar que praticamente não existem loadings no game. O ponto negativo vai pras excessivas quedas de frames que atrapalham a experiência e que me fizeram morrer algumas vezes.
Quando temos mais de um inimigo na tela, os frames caem bruscamente e, jogando na dificuldade mais alta, isso pode rapidamente resultar na morte do personagem. Felizmente é um problema que pode ser resolvido rapidamente com um patch Day One, mas, até que isso aconteça, é uma situação séria e que não pode ser relevada!
Atualização: O patch foi aplicado e as quedas de frames já foram resolvidas.
Review de Achilles: Legends Untold – Vale a Pena!
Achilles: Legends Untold é uma das surpresas mais positivas que eu tive com games em 2023! O jogo mescla elementos de Diablo, Dark Souls e Assassin’s Creed pra entregar uma experiência com identidade própria que diverte e apresenta tecnologias que podem alavancar a indústria como um todo. Apesar de ter seus problemas, muito pelo escopo menor e orçamento limitado, é um game que definitivamente merece uma chance!
- Lore e Narrativa
- Jogabilidade
- Conteúdo Secundário
- Visuais
- Som
- Desempenho