Quando eu me deparei com o primeiro trailer de American Arcadia, eu pensei imediatamente: preciso jogar isso! O jogo tem um conceito similar ao filme O Show de Truman, um dos meus prediletos.
Com o lançamento de American Arcadia no PS5 marcado para o dia 15 de maio, tive a oportunidade de jogar a versão em antecipado para trazer esse texto. O jogo foi desenvolvido pela Out of the Blue Games, os mesmos responsáveis por Call of the Sea.
Neste review de American Arcadia você vai descobrir por que eu recomendo o jogo para todos que apreciam uma boa narrativa. Se aconchegue e confira o que achei!
Orwell vive
Logo no começo da nossa aventura somos apresentados à Trevor Hills, um morador de uma cidade chamada Arcadia. Os habitantes de Arcadia, uma metrópole retro-futurista, vivem uma vida de luxo e conforto, podendo ser facilmente considerada uma utopia e a epítome do sonho americano.
Mas será que nossos sonhos não são.. vazios demais? Ter conforto e uma vida digna é o objetivo de todos, mas a que preço? Um dos protagonistas de American Arcadia escracha isso.
A vida de Trevor é incrivelmente desinteressante e marcada por uma rotina imutável. Ele acorda no mesmo horário todos os dias, cumprimenta as mesmas pessoas e realiza as mesmas tarefas. Todo santo dia. Quase não há vida na própria vida. Ele é mais uma máquina repetindo os processos diários. E estamos tão distantes disso?

O pontapé da história acontece quando, em um belo dia, seu colega de trabalho Gus desaparece, o que faz Trevor começar a questionar as coisas ao seu redor. Não demora muito para que ele comece a ver e ouvir coisas que mais ninguém parece perceber.
A narrativa se desenrola rapidamente e não demora para que Angela, a segunda protagonista, entre em cena. American Arcadia dura cerca de 3 a 4 horas e seu roteiro tem um pacing bem similar ao de um filme. Um ponto que eu gostei muito é que nenhuma pergunta fica em aberto.

Vários questionamentos são lançados constantemente ao jogador e a trama lida bem com cada um deles e em um ritmo bom o suficiente para nos manter interessados na história. O propósito de American Arcadia, assim como o já citado Show de Truman, é gerar reflexão e criticar certos aspectos da sociedade e ele cumpre isso divinamente bem.
A sociedade do espetáculo e a manipulação exercida pela mídia são dois temas centrais e que são muito pertinentes nos dias atuais. A cereja do bolo vai para a atuação do elenco de dubladores, conferindo uma boa dose de personalidade e gerando um ponto de conexão com quem joga. E você até deve conhecer os dubladores. Yuri Lowenthal deu voz a Trevor e Krizia Bajos assumiu a voz de Angela.
Não darei mais detalhes sobre a trama, afinal, esse é o prato principal aqui, mas a analogia que o jogo faz com o ato de se aposentar é impactante e visceral. Qual é o preço de ser livre? Podemos, de fato, alcançar a liberdade? Essas perguntas vão ecoar em sua cabeça durante e após concluir o jogo!
Um filme jogável
American Arcadia tem uma estrutura muito forte de um filme e, seu foco quase que completo na narrativa, só reforça esse aspecto. Contudo, a Out of the Blue foi inteligente em adicionar várias mecânicas de jogabilidade que ajudam a manter o jogador engajado na trama.
Como mencionei mais acima, temos dois protagonistas – Trevor e Angela. O jogo usa essa dualidade para brincar com a perspectiva de quem joga. Trevor, o personagem que mora na utópica Arcadia, apresenta uma jogabilidade 2.5D. O jogador enxerga ele. Já a jogabilidade de Angela é completamente diferente, em primeira pessoa. Esse aspecto é genial por conta de um detalhe da trama que deixarei você descobrir por si só caso você decida jogar American Arcadia.

Na maior parte do jogo estaremos andando para o lado com Trevor. Ele é capaz de mover objetos usando sua força e certos trechos envolvem perseguições frenéticas com boas doses de parkour. Como Angela é uma programadora hábil, ela acessa câmeras e consegue abrir portas e coisas do tipo. O jogo faz a transição entre as perspectivas com frequência e surpreendentemente isso é feito de um jeito tão natural que acaba sendo impressionante.
Os puzzles são surpreendentemente inteligentes, mas não em um nível de fazer você ficar empacado. Eles são intuitivos e criativos, o que é algo bem vindo. Puzzle bom é aquele que não frustra!
Em busca do eu
Pertencente à uma indústria com jogos cada vez mais similares artisticamente falando, American Arcadia se sobressai ao criar uma identidade própria baseado no retrofuturismo. Os cenários são bem variados, apostando em locais com cores vibrantes e ambientes com tons mais frios, apresentando uma arquitetura industrial sem vida.

Dicotomia é uma palavra que define bem American Arcadia e o sentido central que o jogo busca passar. A “vida perfeita” tem seu preço e ele é caro. Por trás de toda fachada artificialmente perfeita, existe algo grotesco por trás.

Um aspecto curioso é que os personagens do game não possuem um nariz e inicialmente isso causa estranheza, mas com o tempo você se acostuma e a sensação é de que os personagens possuem um nariz mesmo não tendo. É difícil explicar mas o estúdio manipula bem esse aspecto através das cutscenes.
A trilha sonora e a dublagem também cumprem seu propósito de elevar a narrativa, garantindo vários tons emocionais ao longo da trama. Existe um trecho belíssimo onde Trevor toca um piano.
No quesito técnico, joguei no PS5 Pro e, para a minha surpresa, tive dois crashes e um dos troféus de história não pipocou de jeito nenhum, tornando a platina inobtível. Como joguei quase 1 mês antes do lançamento, muito provavelmente esses problemas sejam sanados no patch de Dia Um.
Review de American Arcadia – Vale a pena!
Existe um debate de longa data sobre o real sentido dos jogos. Uma parte expressiva da comunidade afirma que a função de um jogo é divertir e que ele não deve fugir disso. Outra parte puxa mais para o lado artístico de um game, apontando que por ser uma obra artística, jogos devem gerar reflexão.
Eu penso que o ideal é um mundo onde obras das duas vertentes existam. Cada pixel de American Arcadia exala que ele foi criado por um time de desenvolvedores apaixonados e inconformados com o status quo. E, bom, feliz de nós que “alguéms” resolveram desafiar isso.
Nossa busca incessante por ser alguém muitas vezes faz com que a gente se perca de nós mesmos, usando uma barreira imensa de consumo como disfarce para a montanha de nada em nosso interior.
São pouquíssimos jogos que ousam gerar essa reflexão e o número que consegue fazer isso bem é menor ainda. Como o verdadeiro sonho americano, American Arcadia é perfeito no que se propõe.
American Arcadia é um jogo inteligente, com várias críticas sociais viscerais, personagens bem construídos e uma mitologia interessante.
Pontos Positivos
- História fantástica que gera reflexões
- Dublagem impecável
- Direção de arte maravilhosa
Pontos Negativos
- Mecânicas de jogabilidade poderiam variar mais
- Narrativa
- Jogabilidade
- Desempenho
- Visuais
- Som