A primeira vez em que eu vi um trailer de Another Crab’s Treasure, eu ri alto. Mas por um bom motivo. A proposta do jogo é completamente fora da caixa. Desenvolvido pelo estúdio Aggro Crab, controlamos um paguroidea, também chamado de caranguejo-eremita. A espécie é basicamente um caranguejo com concha.
Na trama, a concha de Kril, o protagonista, é roubada por um tubarão agiota, o que acaba lançando Kril em uma jornada mirabolante para reaver sua concha. Após anos de espera, tive a feliz (ou triste?) oportunidade de jogar o projeto de maneira antecipada.
Se aconchegue e descubra neste review de Another Crab’s Treasure se vale a pena você se aventurar pelo oceano!
Uma representação “real” do mar
O roteiro de Another Crab’s Treasure não se leva a sério em nenhum momento. Temos diversas piadocas espalhadas pelos diálogos do jogo. O absurdo da trama é abraçado constantemente, o que gera um certo charme na história.
Apesar do aspecto de comédia, o projeto consegue fazer uma representação macabra e infelizmente real da vida no mar. A poluição tomou conta do lar de toda a vida marinha e os microplásticos começaram a ser usados (e cobiçados) como moeda de troca.
A trama conta até com o Dia do Lixo, onde os humanos realizam um despejo colossal de detritos no mar, fato que gera furor e brigas entre os peixes e crustáceos. A representação dos cenários aqui chega a ser violenta.
Ao andar pela areia, nos deparamos com bitucas de cigarro, isqueiros, garrafas plásticas, sandálias.. Esses objetos acabam servindo como decoração para os cenários e adicionam verticalidade na exploração.
O estúdio foi muito engenhoso na construção da lore que serve como alicerce para Another Crab’s Treasure e temos diversos paralelos com a vida real. Temos até a citação direta de impostos e das consequências de sonegar eles.
A trama se desenvolve em um bom ritmo e o bom humor do texto deixa os jogadores intrigados para saberem mais sobre o que se passa no mundo do jogo. Além da busca pela concha, temos que ir atrás de um tesouro misterioso e existe uma doença nefasta acontecendo de pano de fundo. O ritmo da campanha é bom e a história leva cerca de 10 a 15 horas para ser concluída. Lembrando que a duração varia bastante mediante a habilidade de quem joga.
Desbravando o Oceano
A jogabilidade de Another Crab’s Treasure é bastante engenhosa. Se você é veterano da franquia Souls, sabe que o level up é baseado em almas. Aqui, seguindo o teor ácido do humor do game, ganhamos micro plásticos ao derrotar os inimigos e eles são usados em conchas, permitindo que o nível de Kril seja expandido. São 4 atributos ao todo: Vitalidade, Resistência, Ataque e GMS. É bem arroz com feijão.
No lugar dos equipamentos, temos os Caroneiros. São bichos variados que pegam carona na concha equipada por Kril e garantem bônus passivos. Eles possuem uma espécie de peso que geram um pequeno sistema de gerenciamento. Por exemplo, no começo você tem 3 slots. Mas existem caroneiros que consomem 2 slots, aí não dá pra equipar 3. A capacidade pode ser aumentada na cidade que serve como Hub do jogo.
Para despachar os inimigos podemos usar os golpes do nosso garfo, a arma do protagonista e que pode ser aprimorada no Ferreiro, as habilidades das conchas e as Adaptações, partes especiais dos chefes que permitem que o personagem acione um ataque especial.
Ao todo o jogo conta com 59 conchas e elas possuem habilidades variadas que geram diversidade na jogatina. Uma delas permite que a gente rodopie feito um peão, a outra gera bolhas que perseguem o inimigo mais próximo. Uma das conchas por exemplo é um Chapéu de Aniversário. A habilidade especial dessa concha transforma a ponta do chapéu em um missíl capaz de causar dano massivo.
Cada concha possui uma barra de defesa, afinal, é através delas que Kril consegue se defender dos ataques. Quando a barra de defesa se esgota, a concha se quebra, demandando que a gente colete uma nova (e elas aparecem com bastante frequência no mapa, sempre incentivando a experimentação). Podemos comprar Seguros de Concha que permitem que Kril renasça com uma concha predileta.
Além do upgrade básico de nível que acontece através das Conchas que funcionam como fogueira, temos a Caramuja, uma NPC anciã que funciona como a árore de habilidades de Another Crab’s Treasure. Ao coletar Cristais de Umami, podemos trocá-los pelas referidas habilidades que envolvem mecânicas conhecidas como dash, a possibilidade de aparar golpes e por ai vai. O senso de progressão do jogo é ótimo e mantém o jogador engajado na exploração.
No quesito dificuldade, até os veteranos de Souls vão encontrar um bom nível de desafio nas batalhas contra chefes e contra inimigos “elite”, contudo, não precisa ter medo. O jogo oferece um enorme leque de opções de acessibilidade, tornando a experiência mais convidativa. Dá até pra ativar uma Concha que é literalmente uma arma de fogo e é capaz de matar todos os inimigos, incluindo os chefes, com um tiro.
Um detalhe interessante é que muitos chefes foram inspirações diretas de bosses de Dark Souls e Elden Ring, um extra que vai agradar aos adeptos da franquia da FromSoftware.
Faltou oxigênio
É preciso levar em consideração que Another Crab’s Treasure não conta com um orçamento astronômico, pelo contrário, o projeto é compacto e honesto com seus gastos. Além disso, foi o primeiro jogo de muitos devs da equipe. Embora isso garanta uma certa compreensão com alguns detalhes, não justifica o desempenho péssimo no PlayStation 5.
As quedas de frames foram frequentes e graves, muitas vezes ocasionando minha morte. Também tive dois crashes e congelamentos de tela que duraram bons segundos. Aliado à isso, cerca de 9 dos 33 troféus do jogo não estão pipocando como deveriam, o que revela uma tremenda falta de otimização da versão de PS5.
É claro que os problemas citados acima podem ser facilmente resolvidos com um patch Day One, contudo, existem outros defeitos que infelizmente não possuem uma solução. Em diversos trechos do mapa, como no Entremeio Arenoso, temos uma sensação enorme de mapa vazio.
Por fim, mas não menos importante, a trilha sonora acaba sendo inexpressiva e os recursos do DualSense não foram bem implementados pela equipe. Mas esse último ponto dá pra se relevar, afinal, não estamos falando de uma equipe com um orçamento vasto para investir nessas “firulas”.
Review de Another Crab’s Treasure – Vale a pena?
Em seu estado atual, eu não recomendo adquirir Another Crab’s Treasure no lançamento. O ideal é esperar atualizações para corrigir problemas de desempenho e funcionalidades básicas, como é o caso dos troféus no PlayStation. Caso você tenha um Xbox, o jogo estará presente no Game Pass e aí eu super recomendo dar uma chance a ele.
O jogo tem identidade própria e apresenta ideias originais o suficiente para se diferenciar dos demais games do gênero. Para os fãs de Soulslike, é uma proposta sólida que consegue conversar até com os gamers que buscam uma experiência mais acessível.
Com os devidos updates, é um jogo que certamente vai merecer o tempo investido nele!
Com várias ideias originais e que funcionam, Another Crab's Treasure afunda nos problemas de desempenho, prejudicando o que certamente é um dos soulslikes mais criativos dos últimos tempos.
- Narrativa e Lore
- Jogabilidade
- Desempenho
- Visuais
- Som