Até onde você iria pela pessoa que você mais ama no mundo? Essa é a premissa principal de Banishers: Ghosts of New Eden. A nova aventura da Don’t Nod em parceria com a Focus Entertainment une o que o estúdio sabe fazer de melhor: contar boas histórias com uma ambientação pouco explorada nos jogos.
Será que vale a pena comprar uma “passagem” para o Novo Mundo e conhecer a história de Antea e Red? É isso que você vai descobrir nesse review de Banishers: Ghosts of New Eden.
Uma história de amor
Banishers se passa em Junho de 1695. O ano aqui é importante pra se entender o contexto social da época. Os europeus estavam migrando de maneira massiva para as colônias na América, buscando liberdade religiosa, política ou boas oportunidades econômicas.
Esse contexto é levado ao pé da letra pelo estúdio, que fez uso da história real como alicerce para a construção de seus personagens e das missões secundárias. Nossa dupla de protagonistas, Antea e Red, são banidores. A profissão mescla habilidades de investigação com alquimia visando resolver conflitos do mundo espiritual.
O casal é convocado pelo mentor de Antea, uma banidora experiente, para ir até a colônia de New Éden investigar um caso grave que tem castigado o povo da região. A história não se desenrola tão rápido quanto poderia, mas, felizmente, o elenco de personagens e as atuações estão excelentes, mantendo o jogador engajado na narrativa. Fazia tempo que não via um jogo explorar tão bem seus personagens secundários.
A Don’t Nod fez um trabalho formidável na ambientação e no roteiro. Os diálogos e colecionáveis possuem ótima qualidade e fazia tempo que um jogo narrativo não me fazia pensar tanto nas minhas escolhas. E sim, aqui elas de fato apresentam um impacto real na narrativa. Cada trecho dos cenários realmente nos faz acreditar que estamos no Novo Mundo.
O sistema de “teia” das escolhas lembra bastante Vampyr, jogo da Don’t Nod que também teve a Focus como parceira. É nítido que Banishers é uma evolução encorpada de quase tudo que vimos no game com temática de vampiros. Para definir bem Banishers: Ghosts of New Eden, posso dizer que ele é uma mescla de GreedFall com Vampyr.
Um dos charmes diferenciais aqui é que se trata de uma história de amor. É um conto sobre Antea e Red e como a relação deles se desenvolve e sobrevive em um mundo cheio de hostilidades e escolhas difíceis. Poucos estúdios sabem como invocar a humanidade de seus personagens de maneira tão sublime como a Don’t Nod. Um fator que ajuda demais a tornar o game melhor é o nível de atuação dos protagonistas: Amaka Okafor e Russ Bain fizeram um trabalho impecável, concedendo um tom realista para seus personagens.
Falando de aspectos técnicos da narrativa, a história dura entre 20 a 25 horas, isso fazendo atividades secundárias e explorando um pouco. E sim, temos diferentes níveis de dificuldade pra quem não se importa tanto com o combate. O quesito narrativa sofre com dois pontos negativos: por muitas vezes a trama se arrasta mais do que deveria e em alguns momentos as expressões faciais ficam estranhas, muito pela sincronização labial inexistente, concedendo um ar plastificado aos personagens e diminuindo o impacto das cenas.
Os Caça-Fantasmas do Novo Mundo
O que mais me encantou em Banishers: Ghosts of New Eden foi a sua lore. O ocultismo, por motivos óbvios, é um elemento constante e fortíssimo no jogo. Banidores, bruxas, demonologistas, caçadores de bruxas.. O jogo desenha as diferentes linhas de pensamento de cada grupo com maestria.
Na época do Novo Mundo, os elementos desconhecidos eram explicados sob a ótica religiosa e isso gerou uma ambientação fantástica para o jogo. Muito pela expertise da Don’t Nod.
Quem acompanha o estúdio desde os seus primórdios sabe que o forte deles sempre foi a escrita e construção de lore e isso se repete aqui. O roteiro impecável permite que personagens secundários cheios de identidade floresçam na trama e nos casos de assombração que nos deparamos.
Nesses casos, precisamos coletar pistas para descobrir por que um determinado espírito está atormentando um ou mais humanos. Graças a genialidade do estúdio nesse quesito, boa parte dos casos são cheios de reviravoltas e com dilemas morais que causam reflexão.
Banishers é o primeiro jogo em muito tempo que me fez parar e pensar nas escolhas e nas consequências delas. Eu mataria pessoas, até inocentes, em prol do meu objetivo? Tiraria uma vida, sem escrúpulos, de pessoas culpadas? A Don’t Nod é mestre na arte de nos fazer pensar.
As reflexões são reforçadas pela natureza combativa entre Red e Antea. Apesar de serem companheiros, eles possuem formas bem diferentes de enxergarem a vida. Essas diferenças geram embates incríveis que enriquecem a jornada de quem joga. Red é mais compassivo e Antea, marcada pelas durezas da vida, é mais direta ao ponto.
Minha ressalva com o sistema de escolhas é que em alguns momentos ele parece ser limitado. Precisamos tomar uma única decisão que envolve o espírito obsessor e o/os colonos afetados pelo espírito. Em alguns casos, senti que o espírito tinha razão e escolhi ascender ele.
Como eu escolhi ascender o espírito, a opção de punir o colono não foi marcada e ele acabou saindo praticamente impune pelas suas atitudes. Essa sensação de impunidade mexe com o jogador e só torna as decisões ainda mais impactantes e permitem que Banishers fique na mente do jogador, mesmo após desligar o console!
Expurgando o Mal
O combate de Banishers: Ghosts of New Eden é por muitas vezes o seu “Calcanhar de Aquiles”. Demora algumas horas pro jogador obter habilidades suficientes pra tornar o gameplay mais fluído.
Outro problema é a falta de variedade de inimigos, que torna todo o processo bem repetitivo. Ao longo da jornada, os inimigos começam a surgir com resistência aos ataques físicos de Red, demandando que o jogador faça combos com Antea para despachar os adversários de maneira mais ágil.
Esse mecanismo torna os encontros mais diversos e praticamente forçam o jogador a usar os dois protagonistas nos embates. Como mencionei acima, após algumas horas de jogo, desbloqueamos diversas habilidades que permitem a construção de combos altamente destrutivos e divertidos, mesclando tiros de fuzil, com ataques espirituais e espadadas comuns.
No campo da responsividade, os golpes não possuem tanto peso quanto poderiam e a janela do parry é bem curta, demandando um timing extremamente preciso por parte do jogador.
A árvore de habilidades é básica e destaca que uma das principais fragilidades da Don’t Nod é o combate. Os embates contra inimigos elite e contra chefes são pífios, com pouca variedade de golpes e o hitbox é extremamente impreciso.
Uma das mecânicas que mais gostei no combate é que as vezes um espírito tenta assumir algum corpo próximo ao local, tornando-se um adversário mais forte. Essa mecânica de “incorporação” pode ser interrompida ao golpear o espírito. Isso gera um senso de urgência interessante nas lutas. Uma pena que o combate contra vários inimigos simultâneos não funciona bem.
Admirável Mundo Novo
Banishers: Ghosts of New Eden é dividido em áreas enormes que funcionam como um mundo semi-aberto. Isso ajuda demais a exploração que não chega a ser linear, mas tampouco aquele padrão checklist de games de mundo aberto.
Visitar cada canto das regiões sempre recompensa o jogador com equipamentos novos ou com recursos essenciais para realizar os rituais ou melhorar os equipamentos. O único ponto negativo nesse processo de coleta de itens é que o ícone de indicação poderia ser mais chamativo. Por muitas vezes ele passa praticamente despercebido.
As habilidades de cada personagem são um elemento importante na exploração. O jogo flerta com metroidvanias e temos diversas passagens que só podem ser destruídas em um momento posterior, após aprendermos habilidades específicas.
Somado a isso, Antea pode acessar o mundo espiritual, revelando corpos com espólios, novas pistas dos casos e até baús. Essa mecânica de transitar entre os dois “mundos” reforça a química do casal, onde um colabora com o plano astral do outro.
Para encurtar as andanças, temos viagens rápidas entre acampamentos. O recurso facilita bastante o processo de concluir as atividades secundárias. Eu senti que faltou um pouco de criatividade nesse quesito.
As atividades seguem o padrão de RPGs narrativos. Temos ninhos de monstros, inimigos elites, baús, mapas do tesouro, esferas que podem ser destruídas.. Nada que já não tenhamos visto em outros games.
O maior trunfo de Banishers: Ghosts of New Eden é manter o jogador recompensado constantemente. Você sente que não está desperdiçando seu tempo e isso é fantástico!
Review de Banishers: Ghosts of New Eden – Parte Técnica
Seguindo o padrão dos jogos atuais, Banishers: Ghosts of New Eden tem dois modos gráficos: o fidelidade e o desempenho. Achei o fidelidade completamente inviável, mesmo se tratando de um jogo narrativo, logo, recomendo totalmente o modo desempenho.
Os visuais fazem jus a um jogo da atual geração de consoles. E as técnicas de iluminação aplicadas pelo estúdio concedem um charme a mais à ambientação do game. Também podemos perceber um leve flerte com os recursos do DualSense, apesar de ainda não chegar ao ponto de ser um diferencial de destaque.
Para a minha feliz surpresa, o game tem um modo foto robusto, algo que só costuma chegar após o lançamento. No campo da infelicidade, o jogo apresenta congelamentos constantes ao pressionar o botão pra abrir o menu e o mapa. E esse é um problema bem irritante.
Também temos quedas notáveis de FPS em cutscenes e durante os combates contra grupos de inimigos. Vale destacar que recebemos a chave de review muitos dias antes do lançamento e esses problemas podem ser corrigidos com o patch Day One.
Review de Banishers: Ghosts of New Eden – Vale seu tempo!
Banishers: Ghosts of New Eden é um passo largo na direção certa para a Don’t Nod. Apesar de não ser perfeito, o jogo tem muita qualidade e identidade própria, entregando um frescor bem vindo em um mercado saturado por propostas similares.
É um ótimo jogo para o portfólio do estúdio e da Focus Entertainment e eu torço pra que o game não pare por aí. A IP tem um potencial enorme de se tornar uma franquia.
Se você gosta de RPGs de ação com um foco maior na narrativa, vale colocar o game em sua lista de interesse!
- Narrativa e Lore
- Jogabilidade
- Conteúdo Secundário
- Desempenho
- Visuais
- Som