Esse review de Black Myth: Wukong está saindo deveras atrasado e, por conta disso, tentarei trazer diferentes prismas nessa análise.
O jogo, o “primeiro” da Game Science, fez um sucesso estrondoso, vendendo 10 milhões de cópias em pouquíssimos dias após o lançamento.
Impactante desde o seu anúncio, nesse review de Black Myth: Wukong, irei defender minha tese de que o game pode virar um benchmark para a indústria por completo em certos aspectos.
A história
A narrativa de Black Myth: Wukong engana. Em primeiro momento, temos uma definição clara do nosso objetivo.
Diferente do que se pensava, jogamos com o Predestinado e não com Sun Wukong. Nosso objetivo é reunir as seis relíquias perdidas do Rei Macaco.
Existe uma relíquia para cada capítulo, totalizando seis ao todo. E é aí que entra a “enganação” da narrativa. Após o começo bem definido, a história se apoia fortemente na subjetividade e alegorias do folclore chinês e do budismo.
A Jornada ao Oeste, um dos principais contos da China, serve como fonte de inspiração direta mas NÃO é uma reprodução 1:1 do livro.
Como não temos um contato próximo com essas culturas e graças aos diálogos que se aproximam de parábolas, entender as nuances de Black Myth: Wukong e os anseios de cada um de seus personagens secundários é uma tarefa difícil.
A fidelidade do time ao tema é tão grande que até os troféus do jogo contam com descrições que lembram provérbios chineses!
Em uma próxima aventura da Game Science, seria interessante ver o estúdio ciente desse aspecto, tornando a história um pouco mais acessível para os jogadores do Ocidente.
Temos um diário bem rico em informações e que ajuda a contextualizar um pouco os inimigos e personagens, mas isso ainda é insuficiente.
Em termos de duração, Black Myth: Wukong certamente vale o investimento, proporcionando entre 50 a 60 horas de diversão na primeira ida. O jogo tem um fator replay considerável através da mecânica de NG+.
Jogabilidade
O combate é o pilar central de Black Myth: Wukong e, ciente disso, a Game Science esculpiu um gameplay altamente responsivo.
A esquiva do Predestinado pode ser aprimorada e é acionada na hora, cada golpe tem peso e, graças a física dos inimigos, podemos até derrubar eles no chão.
Graças às magias dos espíritos, das transformações e dos combos do cajado e da lança, o título oferece um leque diverso de builds e habilidades afastando a sensação de repeteco.
Eu só senti que essa evolução poderia acontecer um pouco mais rápido. Leva cerca de 15 horas para conseguir uma quantidade boa de transformações e magias.
Em jogos com estrutura de RPG, o senso constante de progressão é fundamental pra tecer um loop viciante e isso acontece aqui. A evolução é visível e prazerosa.
O sistema de equipamentos é simples mas funcional. Precisamos coletar materiais pra fabricar e aprimorar armas e armaduras. As “receitas” são desbloqueadas ao derrotar chefes e avançar na história.
Também temos uma árvore de habilidades extensa que permite o respec a qualquer momento, incentivando a experimentação com builds diversas.
Por falar em diversidade, a quantidade de inimigos comuns e únicos impressiona. São centenas de tipos diferentes e todos com um pedaço de lore pra aprimorar a experiência!
Sapos que explodem, ratos atiradores, morcegos bombados, carruagens, monges gigantes com cabeções. Os designs são sublimes!
Um dos aspectos que mais me surpreendeu foi o sistema de magias do Predestinado. Temos feitiços insanos como o de Imobilizar e o de gerar Clones. As animações das magias estão maravilhosas e elas realmente ajudam a determinar o desfecho de um embate contra chefe!
Exploração
A exploração é o calcanhar de Aquiles de Black Myth: Wukong. Ela recompensa bem o jogador, contudo, a navegação pelos cenários é péssima.
Temos uma presença gigantesca de paredes invisíveis e o jogo não conta com nenhum sistema de mapa. Isso torna o ato de explorar uma espécie de game de tentativa e erro que quebra o loop da jogabilidade.
Somado a isso, temos cenários muito abertos com poucos indicativos visuais, o que faz com que o jogador se perca várias vezes. O estúdio deveria ter trabalhado nesse aspecto.
Não ter um mapa não é um problema, afinal, é quase uma marca registrada do gênero. Contudo, a exploração em certos capítulos não é nada intuitiva. Tirando esse aspecto de “confusão visual”, o jogo brilha em sua proposta.
Temos uma quantidade absurda de conteúdo secreto que demanda que o jogador faça missões secundárias e outras ações específicas. Além de conseguir boas recompensas, abrimos áreas totalmente novas e algumas delas adicionam novas mecânicas na aventura.
Surpreendentemente, a maioria das missões secundárias são fáceis de se compreender e concluir.
Ao perambular pelo mundo do jogo, podemos encontrar novos chefes, que desbloqueiam armas e armaduras, obter materiais de aprimoramento e até upgrades permanentes pra vida, mana e vigor.
Apesar dos percalços com a navegação, o game conseguiu replicar a sensação causada por Elden Ring e descobrir seus segredos é muito prazeroso!
Fazendo jus ao Science
Como o nome indica, os desenvolvedores da Game Science devem realmente ser cientistas. O estúdio parece ter estudado, religiosamente, as principais mecânicas de várias obras adoradas pelos jogadores.
Muita gente chamou, erroneamente, Black Myth: Wukong de um jogo boss rush, o que não é bem verdade. A quantidade de chefes é enorme mas ainda temos um loop de progressão e exploração.
Contudo, o jogo não esconde que seu principal atrativo são os chefes e as mecânicas das lutas. O design da maioria esmagadora deles impressiona e os embates são mecanicamente ricos. Temos vários movesets, estratégias e habilidades distintas.
Em muitos deles, a escala me fez lembrar de God of War na mitologia grega e de Asura’s Wrath. A direção das cutscenes torna tudo ainda mais grandioso!
A qualidade nesse departamento é tão assustadora que ele com certeza deve servir de estudo até pra FromSoftware, a maior referência desse departamento hoje.
As disputas são aprimoradas graças a trilha sonora épica que conta com sons e efeitos de instrumentos muito usados na música chinesa. O trabalho com as vozes é impecável e a dublagem chinesa concede uma imersão ótima no game!
No lançamento, os problemas técnicos como a presença de artefatos e quedas de frames eram notáveis, contudo, esses detalhes estão sendo corrigidos gradualmente com patches e a performance como um todo já está muito melhor.
Eu fiquei com a sensação de que o DualSense poderia ser mais integrado na experiência, elevando as sensações dos golpes e da exploração, mas o uso tímido dos recursos do controle é compreensível. O estúdio é novato, mesmo não parecendo ser.
Um detalhe curioso é que temos várias entradas do diário que ainda estão sem tradução mas o estúdio teve cuidado pra colocar um aviso e pedir desculpas por isso!
Review de Black Myth: Wukong – Vale a Pena!
Black Myth: Wukong é como a rosa turca. É uma obra que só podia ter sido construída em um lugar específico do mundo e após passar por condições especiais. É aquele tipo de jogo que gera uma rara comoção capaz de mobilizar uma indústria inteira. Se você gosta de RPGs de ação com uma pitada de Souls, nem pense duas vezes!
Esse review só foi possível graças ao apoio da Nuuvem. Caso queira nos ajudar, considere comprar o jogo através de um dos links abaixo:
Black Myth: Wukong representa um marco importante não só para a indústria de games da China, como no mundo inteiro.
- Narrativa/Lore
- Jogabilidade
- Conteúdo Secundário
- Desempenho
- Visuais
- Som