Um movimento ainda tímido mas que cresce a cada lançamento novo que acontece é o de jogos de RPG de turnos que tornam o combate, outrora considerado desinteressante, um pouco mais dinâmicos. Sejam em jogos de orçamento maiores, como por exemplo Monster Hunter Stories 2 que implementa um sistema de pirâmide de fraquezas e Quick Time Events durante as batalhas, ou mesmo, seja um indie como o recente Worldless que implemente um sistema de RPG por turnos em que o jogador precisa desferir combos e defender no momento exato para ter vantagens durante o combate.
O fato é que RPGs por turno vêm tendo uma nova leva de títulos que estão fazendo sucesso e esse gênero que outrora estava quase que desacreditado, em 2023 retoma seu fôlego com grandes e pequenos jogos que trazem um frescor merecido para esse gênero tão importante para a indústria de games. E com Born of Bread não é diferente, pois aqui temos um jogo majoritariamente de aventura com um combate em RPG de turno, desenvolvido pela Wild Arts Studios e publicado pela Dear Villagers (Mesma de Nocturnal), Born of Bread exala não apenas bom humor, mas também aventura, diversão, doses de desafio e cheiro de pão quentinho!
Se aconchegue e me acompanhe nesse review de Born of Bread!
Enredo lúdico
Born of Bread tem um enredo bem infantil, porém isso não é dito como um descrédito, na verdade, boa parte da magia do jogo está no fato dele se utilizar dessa nuance para criar um clima fantasioso que envolve todos os aspectos do jogo, desde menus, diálogos, enredo e até mesmo sua batalha por turnos.
Nesse jogo você é Loaf, um golem nascido de… um pão! Exatamente, assim como na mitologia judaica, em que golens são associados a animação de materiais inanimados a partir de intercessão divina, em Born of Bread, Loaf nasce do amor de seu pai, o Padeiro real, com a intercessão de um objeto mágico durante o preparo de um pão para a rainha.
Acontece que arqueólogos encontraram tal objeto mas também despertaram um mal secular que estava submerso em catacumbas, agora cabe a Loaf, nosso improvável herói sem glúten explorar esse reino mágico, fazer amigos e derrotar as forças do mal. Simples assim!
Uma arte fabulosa!
Essa abordagem lúdica do enredo alcança também sua estética: Born of Bread é um RPG com gráficos em 2.5D, ou seja, os personagens são feitos em 2D, desenhados de fato, e a maior parte do cenário é feita em 3D, permitindo uma movimentação tridimensional. Um estilo artístico que apesar de interessante não é mais tanta novidade assim, porque foi popularizado em RPGs por Octopath Traveler, lançado em 2018 e que atualmente possui também outros expoentes como Star Ocean: The Second Story R, se tornando uma tendência.
Porém aqui, além de combinar com a proposta lúdica, faz sentido também. Loaf é uma criança com espírito de criança, então a cada novo amigo que faz (novos membros para a party) ele faz um desenho desse encontro, e seu diário também é todo colorido, assim como o Mapa Mundi do jogo, que também é desenhado e tudo isso combina muito bem com os cenários do jogo, cheios de cores vibrantes e muito bem escolhidas.
É uma estética que funciona muito bem para com a proposta do jogo que resulta em um visual que apesar de simples, é de encher os olhos!
Uma ótima porta de entrada para os RPGs!
Born of Bred, como já dito é um jogo infantil, tanto no seu enredo e estilo de arte, mas isso também se estende para a sua jogabilidade. Pessoas de todas as idades serão aptas a jogar esse jogo porque não há muita complicação aqui, o sistema é simples e mesmo que quem vá jogar não saiba ler inglês é possível entender tudo pela identidade visual.
Sendo um combate por turnos, naturalmente, você escolherá suas ações e depois será a vez de seus inimigos e em todas ações ofensivas haverá um Quick-Time Event (QTE) bem simples que geralmente pede para que você aperte um determinado botão em um moento exato, porém nada muito difícil e para defender também é possível apertar um determinado botão logo antes do inimigo desferir um ataque, possibilitando a redução ou mesmo anulação do dano. O que tira aquela monotonia criticada por quem não é adepto de RPGs por turno, há sempre algo em tela para fazer.
No combate é possível atacar, defender, usar habilidades, itens, golpes especiais e fugir, cada opção sendo representada por uma cor, o que facilita a identificação visual e também a criar familiaridade.
Já fora do combate é importante dizer que a exploração é recompensadora, existem várias interações com o cenário e normalmente itens quebráveis, além de serem fáceis de serem identificados, sempre rendem dinheiro ou algum item consumível, além do fato de alguns itens mais escondidos rederem upgrades interessantes, como a expansão da bolsa de itens, além de uma side quest que acontece logo nos primeiros momentos do jogo em que você pode encontrar um tipo específico de colecionável que serve para conseguir novas habilidades em uma árvore de habilidades própria dos integrantes da party que não sejam Loaf.
Explorar, além de ser importante, é recompensador. Nunca é tempo perdido. E por falar em explorar, o jogo vai apresentando naturalmente novos cenários a medida que o enredo avança, então é como se cada bioma do jogo fosse uma parte da história, e em cada parte um novo integrante se une a equipe, e cada integrante possui uma habilidade única que possibilita uma nova forma de exploração, seja de cavar buracos, revelar “pontes” sobrenaturais, ou causar pequenos incêndios.
O fato é que a cada novo personagem, e cada nova possibilidade de interação com o cenário é possível retornar nos biomas já visitados para explorar áreas ou seções do mapa que claramente o jogador percebe que eram inacessíveis anteriormente, logo, existe aqui um backtracking que se revela bem orgânico e bem-vindo, pois aumenta a duração do jogo de maneira positiva.
Quem nunca se aventurou por RPGs ou mesmo quem não gosta tanto assim do gênero mas quer saber por onde começar, Born of Bread é uma excelente opção!
O som da infância
Como já dito, existem diferentes biomas no jogo, e além da parte estética que muda de acordo com a área visitada, a parte sonora também. Cada bioma possui uma música característica, assim como cada vila, cada dungeon. As músicas são ponto muito positivo no jogo, pois combinam muito bem com a estética proposta.
Em um determinado bioma, por exemplo, o enredo se desenrola para uma espécia de torneio de artes marciais, logo, nesse trecho a música é muito mais dinâmica e forte. Já em um outro que é mais no início do jogo, que se localiza em uma floresta em que apresenta a base da jogabilidade para o jogador, já é uma música mais acolhedora, porém sem deixar de ser animada.
A parte de design de som também é bastante operante coaduna bem com a proposta lúdica do jogo. É difícil enjoar dessa trilha sonora aqui, ela parece que já esteve presente na sua infância, parece algo familiar, o que é muito bom!
Desempenho retificável!
Rapadura é doce mas não é mole e nem tudo são flores. Existem algumas questões técnicas que precisam de reparo.
Vale destacar que joguei a versão de PlayStation 5, então não sei se esses bugs estão presentes em outras versões, além disso, e também de extrema importância que se saliente: joguei antes do lançamento oficial, então é possível que o que eu vá apontar aqui vá ser corrigido em algum momento no futuro e na verdade a possibilidade de correção é bem grande.
Sofri com alguns bugs de cenário, por exemplo, fui salvar o jogo e meu personagem ficou preso no check-point. Porém, como eu tinha acabado de salvar, apenas retornei ao menu inicial do jogo e o problema foi sanado.
Em alguns lugares específicos do mapa a câmera chegou a bugar, e ficava alternando seu posicionamento de maneira muito rápida. Porém basta sair da sessão do mapa que isso para, chegou a acontecer em dois locais, ambos no canto de uma sala do jogo.
Em outro momento as letras do menu de opções do jogo chegou a sumir, eu não conseguia, por exemplo mudar de categoria no menu ou mesmo ler o que estava escrito na categoria que estava sendo mostrada. Porém, também ao recarregar o jogo isso foi sanado.
Então, frise-se que são problemas contornáveis, que podem ser facilmente corrigidos com patchs de atualização e que não comprometem a experiência como um todo, apesar de serem nuances que precisam ser ditas e levadas em consideração.
Outro ponto a se destacar é a ausência de legendas em português. Mesmo que seja um jogo indie, é um RPG de turnos, então a história é algo muito presente aqui. Born of Bread tem diversas janelas de textos, muitos diálogos, descrição de item, tutorias, tudo com bastante texto e mesmo como já dito anteriormente: a identidade visual do jogo ajuda, mas não resolve o problema e a experiência pode sim ser comprometida pra quem não tem domínio da língua inglesa.
Além disso, um último ponto a se destacar é que um fast travel fez muita falta no jogo. Como dito anteriormente é possível fazer um backtraking, tendo em vista que novas iterações com o cenário vão sendo liberadas, contudo é preciso ir “à pé” à área desejada, sem a possibilidade de viagem rápida a pontos específicos do mapa. Isso em um RPG faz bastante falta e de fato compromete a experiência da jogabilidade.
Review de Born of Bread: Sabor de “Quero mais!”
Born of Bread é uma experiência lúdica, muito bonita, agradável aos olhos e ouvidos e que serve como uma excelente porta de entrada para o mundo dos RPGs. Quem gostou desse jogo possivelmente procurará por jogos semelhantes, porque essa é uma experiência, acima de tudo, cativante em diversos aspectos. Suas questões técnicas podem ser facilmente corrigidas e o jogo se encerra deixando um gosto muito agradável para quem se aventurar por esse reino mágico.
É um jogo muito recomendado tanto para amantes de RPG quanto para novos jogadores pois oferece uma experiência que possui todas as nuances que grandes RPGs possuem: uma história interessante ou boa de se acompanhar, uma parte visual agradável, ótima trilha sonora, uma boa jogabilidade, progressão e exploração do mapa. É uma ótima opção!
- Enredo
- Visual
- Jogabilidade
- Som
- Desempenho