Bright Memory: Infinite é mais um exemplo excelente do enorme potencial dos desenvolvedores chineses. O jogo nasceu graças ao fruto do trabalho de um único dev: Zeng “FYQD” Xiancheng. Zeng usava o tempo livre que tinha para produzir o jogo. Em março de 2020 os jogadores finalmente puderam colocar as mãos em Bright Memory: Chapter 1. Graças ao combate e os visuais impressionantes do game, Zeng decidiu lançar uma versão mais robusta com mais capítulos, gerando Bright Memory: Infinite.
Lançado originalmente como um exclusivo de Xbox (e no PC), a publisher Playism juntamente com o agora estúdio FYQD resolveram lançar uma versão para o PS4, PS5, Nintendo Switch e Xbox Series que chega no dia 21 de Julho. A pergunta que não quer calar é, o projeto idealizado por um único dev merece uma chance ou é melhor deixar passar? Vem comigo neste review pra saber a resposta!
A história de Bright Memory: Infinite
Diferente dos demais jogos do gênero, Bright Memory: Infinite é um FPS focado na narrativa. Isso mesmo, o título não possui um modo multiplayer, apenas a campanha. A jornada é protagonizada por Sheila Tan, uma agente da SRO (Science Research Organization, ou, Organização de Pesquisa Científica). Uma anomalia surgiu no planeta e cabe a Sheila ir investigar o local. O problema? A SAI, uma organização paramilitar brutal, também envia tropas para a cena.
É diante deste contexto que temos uma premissa interessante que mescla militarismo, com ocultismo e futurismo. Por pertencer a uma organização científica, Sheila faz uso de habilidades especiais graças a sua exosuíte. Sim, Crysis é uma inspiração forte do jogo e você já deve imaginar o que te espera aqui. Graças a sua parte mitólogica, a campanha entrega momentos bem legais que apresentam seres do folclore do país, o que traz um charme interessante para o título.
Em muitos momentos a história me lembrou as campanhas de Call of Duty. O jogo é bem linear e é completamente focado na ação frenética. Apesar da história ser interessante, as expressões faciais terríveis removem o impacto das cenas, fazendo com que o jogador não se conecte tanto com a urgência que a narrativa tenta passar. E coloca urgência nisso, completei o jogo em 90 minutos, o que foi um tanto decepcionante. A curta duração faz com que as coisas aconteçam de maneira apressada, mal dando tempo para o jogador se familiarizar com o que está acontecendo e ter uma imersão no universo do game.
Um elemento que chama bastante a atenção são os visuais dos cenários. Alguns trechos rivalizam fácil com muitos AAAs no mercado. Um toque especial é que algumas localizações foram inspiradas em lugares reais de Guangxi, cidade sede do estúdio.
Outro ponto que vale a pena ser mencionado é que alguns momentos da campanha são bem frenéticos e lembram filmes de ação mirabolantes. Perseguição de veículos, lutas em cima de aviões em chamas.. A história apresenta momentos memoráveis pra quem curte ação desenfreada.
Tiro, porrada e bomba
O combate de Bright Memory: Infinite é, de longe, a estrela do jogo. Ele funciona tão bem e proporciona tanta diversão que é difícil acreditar que apenas um desenvolvedor foi responsável por isso. Inspirado em Crysis, DOOM e até Titanfall, o título se apoia na exosuíte para entregar uma variedade interessantíssima no quesito gameplay.
Ao longo da aventura Sheila vai coletando diferentes armas para abater os inimigos, são elas: Rifle de Assalto, Espingarda, Pistola e Rifle de Precisão. Cada arma possui um modo de disparo alternativo que usa munições especiais. E acredite, você vai precisar desses modos de disparo para abater os chefes. O gunplay é extremamente responsivo e divertido, lembrando bastante a jogabilidade de Titanfall. Graças a exosuíte, Sheila é capaz de esquivar rapidamente, elemento vital para permanecer vivo no jogo. Um detalhe que não deve agradar a todos é que o aim assist do jogo é bastante agressivo, mirando quase que automaticamente na cabeça dos inimigos. Logo, vale desligar a função caso você queira uma experiência mais natural no game.
Além do combate com as armas de fogo, Sheila conta com uma Katana que serve tanto para atacar quanto para se defender. Ao segurar o botão de bloqueio, podemos repelir tiros e, caso o jogador acione a defesa com o timing correto, a Katana reflete os tiros, acertando os inimigos. Esse sistema de parry funciona de maneira magistral e me lembrou bastante a responsividade que vimos em Sekiro: Shadows Die Twice. Com as melhorias da espada, podemos montar combos alucinantes, o que ajuda a derrotar os inimigos do jogo que possuem armadura.
Por fim, mas não menos importante, o combate também se baseia em habilidades especiais provenientes da exosuíte. Podemos puxar os inimigos até a personagem, explodir um campo PEM causando dano e dar um soco foguete bem poderoso. Essas habilidades só tornam os embates ainda mais ricos e cheios de opções. Falando especificamente sobre as melhorias, elas podem ser realizadas ao obter Relicários, o único sistema de progressão de Bright Memory: Infinite.
Ao derrotar os inimigos e destruir caixotes obtemos uma bola azul chamada de relíquia. Ao coletar 10 dessas reliquias, formamos automaticamente um Relicário que basicamente funciona como um ponto de habilidade. Esses relicários também podem ser coletados nos cenários e possuem um formato de um dragão de jade. Graças a extrema linearidade do jogo, não existe muito o que se explorar e o item é facilmente encontrado pelos mapas.
Deslizes inevitáveis
Bright Memory: Infinite foi orquestrado por um único desenvolvedor. Em virtude disso, é fácil de imaginar que o jogo apresenta algumas falhas. Como mencionei lá em cima, as expressões faciais do título são terríveis, o que é um ponto negativo enorme para um jogo focado na narrativa. Ao longo das minhas três horas com o título, também sofri alguns problemas técnicos. Em certos trechos, o áudio deu uma estourada ou simplesmente sumiu sem explicações.
Em lutas com muitos inimigos, os FPS dão uma engasgada, o que prejudica um pouco a experiência. Mas, felizmente, o problema é raro. Por fim, mas não menos importante, se você gosta de platinar os jogos, saiba que alguns troféus estão com os contadores bugados, o que gera um pouco de frustração.
Ao analisar o todo, os problemas não são graves e podem ser facilmente resolvidos com patches pontuais. Ele tem aspectos “crus” mas que não deixam a desejar, ainda mais quando levamos em consideração o escopo da obra.
Bright Memory: Infinite – Vale a Pena!
Com um combate primoroso que me divertiu muito, uma trilha sonora que funciona para a proposta e visuais que não devem nada a muitos AAAs do mercado, Bright Memory: Infinite é a experiência FPS que eu queria ter sem nem fazer ideia disso. As ideias presentes no game funcionam bem e se conversam, além de apresentar um pouco da cultura da China, mesmo que de forma rudimentar. Se você é um fã do gênero, dificilmente vai se arrepender de dar uma chance ao jogo. Só recomendo esperar um tempinho para que o título receba updates que consertem os problemas citados acima.
Review feito graças a um código de PlayStation 5 cedido pela assessoria da publisher.