Imagine estar à beira de um penhasco, o vento sibilante carregando sussurros de impérios há muito desaparecidos, a terra árida sob seus pés tremendo com o peso de uma história que ainda está por se desenrolar por anos a fio. Sid Meier’s Civilization 7, lançado em 11 de fevereiro de 2025, é como aquele penhasco, um ponto de vista emocionante sobre o caos expansivo da ambição e evolução humana, mas onde o chão ocasionalmente, e infelizmente, desmorona sob seus pés.
Desenvolvido pela Firaxis Games e lançando pela primeira vez simultaneamente nos PCs e consoles, este sétimo capítulo se atreve a reescrever as regras de uma franquia que tem sido uma referência dos jogos de estratégia 4x (eXplorar, eXpandir, eXploitar e eXterminar) por mais de 30 anos. É um experimento ousado, bagunçado e belo, um que me deixou igualmente encantado e frustrado após várias horas perdidas em seu abraço hexagonal.
Se aconchegue e vem ler o nosso review de Civilization 7!
Jornada flexível entre as eras
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O coração do jogo pulsa em seu novo sistema de divisões de civilizações: contemplando as eras Antigas, Exploratórias e Modernas, uma trindade que fragmenta a linha do tempo tradicional de Civ em cortes distintos. Você não mais conduz uma civilização fixa desde suas humildes origens até ás implementações de mísseis atômicos; em vez disso, escolhemos um líder (digamos, o famoso Napoleão Bonaparte) e os guiamos através de uma porta giratória de culturas, trocando nações como fantasias a cada ato final de uma peça de teatro.
Comecei minha primeira partida assumindo as rédeas do Egito com pirâmides perfurando o céu do deserto. Depois mudei para os Normandos, meus grandes navios cortando mares carregados de névoa em busca de novas terras, antes de terminar como a América e suas cidades zumbindo com modernidade.
É um devaneio maluco de sequências históricas, e que, surpreendentemente funciona (na maior parte do tempo). Cada transição parece um renascimento, uma chance de se livrar da bagagem de um império em declínio e buscar um novo destino. A rotina maçante e previsível do final dos jogos dos títulos anteriores? Desapareceu, substituído por um ritmo que te mantém faminto, curioso, sempre à beira do que vem a seguir.
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Mas há um custo para essa reinvenção. As ligações entre as Eras são ásperas, sempre acompanhadas de um dilúvio de escolhas que podem incomodar. Eu terminava uma Era vitorioso e totalmente equilibrado, apenas para passar vários minutos recalibrando meu império, designando novas cidades, atualizando unidades, reorientando meu Caminho de Legado (Militar, Cultura, Ciência ou Econômico). É uma ideia brilhante, mas a execução parece inacabada, como se a Firaxis tivesse ficado sem tempo para completar 100% essa parte do jogo.
Lindo como uma pintura, prazeroso como uma ópera
Visualmente, Civ 7 é uma revelação. Ao aproximar o mapa, você verá cidades florescerem como flores silvestres, aquedutos romanos ao lado de bazares persas. A pluralidade cultural é sem dúvidas um dos maiores atrativos do jogo.
Perdi umas boas horas apenas observando meus comerciantes remando mercadorias rio abaixo, seus pequenos barcos diminuídos por uma paisagem que parece viva, respirando, ou vendo o volutear de moinhos pelas planícies esverdeadas. O visual dos lideres também mescla com perfeição as feições realistas de Civ V com o aspecto cartunesco de Civ VI, resultando numa apresentação incrível e charmosa.
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A narração de Gwendoline Christie, atriz famosa pelo seu papel de Brienne em Game of Thrones, é severa, mas calorosa, como uma professora contando lendas, casando com perfeição na proposta do jogo. A trilha sonora orquestral também ajuda muito na imersão desse mundo em constante mudança. Civilization 7 representa um mundo que você quer habitar, não apenas conquistar, uma sensação inédita na franquia.
No entanto, a beleza não é o suficiente para mascarar as rachaduras. A IA, embora destemida em uma luta, tropeça na visão mais ampla, com colonizadores as vezes não se movimentando pelo mapa e inimigos oferecendo-me tratados de paz recheados de cidades ricas e poderosas que eu nem sabia que existiam, facilitando além do normal as interações de guerra.
A diplomacia, simplificada com uma moeda de influência, parece rápida, mas superficial; senti falta das tramoias de bastidores de antigamente e isso sem falar da Religião, passando de uma sistema absurdo de influencia mundial para apenas um mini-game de debuffs e caça às relíquias. E a interface, é um labirinto de erros. O HUD é caótico e informações vitais se escondem atrás de muitos cliques.
Passei boa parte de uma campanha adivinhando o que a estatística de Felicidade fazia, se era parecida com as “comodidades” de Civ VI ou algo diferente.
Quanto mais direto, melhor?
O que diferencia a franquia Civilization pra mim não é especificamente seus sistemas, afinal, mecanicamente falando eu prefiro jogos como Stellaris e Crusader Kings 3, contudo, as histórias que o jogo sussura nas campanhas possuem um dom mágico de continuar com a gente mesmo ao desligar a tela.
Em uma partida, eu era José Rizal, tecendo uma teia de intrigas da Grécia à Espanha, apenas para vacilar na Era Moderna enquanto meus rivais lançavam satélites enquanto eu me agarrava a fuzis semiautomáticos. Outra vez, eu persegui uma Vitória Econômica, minhas cidades gerando ouro até que o mundo se curvasse à minha vontade, sem nenhuma gota de sangue derramado.
Porém os pontos inconvenientes também eram constantes, a remoção de construtores e comerciantes, substituídos por melhorias automatizadas nas cidades, elimina o trabalho repetitivo, mas também um pouco da alma e “sentimento” que o jogo oferecia.
Passamos menos tempo em customizações pequenas, o que é algo benéfico, mas em troca temos menos intimidade com o povo do nosso império. A diplomacia, parte integral do gênero, se encontra num estado anêmico e praticamente inexistente. O combate, reforçado por Comandantes que agrupam unidades em exércitos vagantes, parece mais grandioso, mais cinematográfico, só que muito mais confuso, bagunçado de entender.
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Eu entendo que essas mudanças podem ajudar a atrair novos jogadores para a franquia, contudo, para veteranos como eu, essas alterações apresentam um sabor doce e azedo ao mesmo tempo.
É como se a franquia que eu amo fosse como aquele amigo distante, que a gente revê após anos. As histórias permanecem entre a gente mas existe uma camada de desconhecido que nos repele um pouco.
Review de Civilization 7: Vale a pena?
Depois de dezenas de horas, Civilization VII parece um manuscrito em rascunho com passagens brilhantes manchadas por margens rabiscadas. Não é a evolução triunfante que sonhei, com mecânicas profundas e sistemas melhorados, nem o desastre absurdo que algumas avaliações na Steam lamentam.
É um jogo com potencial, que oscila entre a grandeza e a frustração, implorando por patches e expansões para suavizar suas arestas. A Firaxis tem um histórico de transformar gemas ásperas em joias reluzentes.
O próprio jogo anterior, Civilization 6 floresceu após o seu lançamento e eu acredito firmemente que vai acontecer o mesmo aqui. Por enquanto, é uma odisseia imperfeita, uma carta de amor à história que tropeça em sua própria ambição e mudanças não desejadas.
Pontos Positivos
- Visuais e som estão excelentes
- Novo sistema de eras está ótimo
Pontos Negativos
- Interface inacabada e confusa
- Jogabilidade muito simplificada
- IA muitas vezes irresponsiva
- Narrativa e Lore
- Jogabilidade
- Desempenho
- Visuais
- Som