Quando Dave the Diver foi anunciado pela primeira vez, eu fiquei feliz e triste. Feliz por que o jogo parecia fantástico e triste por que ele não havia sido anunciado pra única plataforma que eu possuo – o PlayStation 5.
Veja a versão em vídeo:
Os meses passaram e a Nexon fez a “boa”, finalmente anunciando o game para a plataforma da Sony. E o melhor de tudo: ele chegará Day One nos tiers Extra e Deluxe da PS Plus.
Com o lançamento super perto, a Mintrocket me deu a feliz oportunidade de jogar o título antes do seu lançamento no dia 16 de Abril. Portanto, se aconchegue e leia esse review de Dave the Diver pra descobrir se o jogo vale a pena!
Paixão pela Comida
Falar que os desenvolvedores da Mindrocket são geniais seria um eufemismo. A equipe realmente fugiu do óbvio para cozinhar uma história muito bem temperada, cheia de ingredientes dosados nas proporções perfeitas.
A narrativa de Dave the Diver é repleta de momentos engraçados, contemplativos, críticos e até com carga emocional pesada. O jogo tem de tudo, mesmo!
Mesmo não se levando a sério na maior parte do tempo – Dave é um mergulhador obeso – a narrativa se expande de uma forma completamente inesperada, desenvolvendo seus personagens em um ritmo maravilhoso.
Chegar ao fim da história de Otto e seu filho foi um momento que me pegou de surpresa. O mesmo pra descobrir o segredo de Momo, a gata do restaurante (e algo que é completamente opcional). A obsessão de Bancho pelo seu ofício de chef é inspirador e aos poucos vamos entendendo a visão dele sobre a comida.
Eu já esperava um jogo com um excelente sistema de gerenciamento e um loop de gameplay divertidíssimo, mas não esperava encontrar uma história tão completa e engenhosa, levando o jogador para diversos cenários.
E não é só a história principal que apresenta um excelente nível de qualidade. As missões secundárias garantem um brilho adicional ao jogo, tornando-o ainda mais especial. Dave the Diver respeita o tempo que o jogador dedica a ele, algo que está se tornando cada vez mais raro hoje em dia!
A duração da campanha também é surpreendente, você vai levar entre 15 a 20 horas para concluir a campanha e por volta de 30 horas para fazer o 100%. O game é riquíssimo em conteúdo e consegue entregar um senso de progressão maravilhoso que deixa o jogador sedento por mais “runs”.
Ah e não se preocupe, todos os textos estão localizados em nosso idioma!
Dave o Pescador
Dave the Diver pode ser dividido em dois grandes jogos – o de pesca e o de gerenciamento do restaurante. Calma, as duas partes estão totalmente conectadas, mas, pra deixar o review mais didático, optei por separar essas duas vertentes.
São dezenas de sistemas interconectados que tornam o jogo ainda melhor. No mar, usamos um arpão, faca, armas de fogo, armas brancas e consumíveis para coletar/matar os peixes.
Sim, na maior parte do tempo estaremos matando os animais mas a forma de coleta afeta integralmente a qualidade da carne que vai de 1 até 3 estrelas. Existe a opção de usar armas tranquilizantes, fazer o animal dormir e depois chamar um drone de coleta (que tem uso limitado) para vir buscar o bichão e garantir uma bela quantidade de carnes e com excelente qualidade.
Mas, como mencionei acima, o uso do drone é limitado e isso nem sempre é uma opção. Na maior parte das vezes, Dave vai precisar filetar o animal, causando um impacto na qualidade da carne. Essa é apenas uma das dezenas de escolhas que precisamos fazer ao explorar o mar. Todos os peixes coletados são registrados em uma espécie de “Peixedex”, inclusive os chefes.
Dave não possui um HP propriamente dito. Cada run é governada pelo nível de O2 no tanque. Podemos recarregar nosso oxigênio abrindo conchas, tanques fixos nos cenários ou encontrando tanques em baús dourados. Os animais agressivos, como o Tubarão-Martelo, vão nos perseguir vorazmente e quando golpeiam Dave, reduzem brutalmente o O2.
Ai já temos outra decisão – o que melhorar primeiro? Com o ouro que ganhamos com o restaurante, podemos abrir o aplicativo iDiver e melhorar coisas como o Arpéu usado para capturar os bichos, o tanque de oxigênio, o traje (permitindo descer em profundidades maiores), o baú de itens e por aí vai.
O jogo constantemente atira novos sistemas na direção de quem joga e isso torna o senso de progressão fantástico. Após cada ciclo de dia, a evolução é palpável – caso você tenha mandado bem no restaurante a noite.
Pois é, pra mandar bem no restaurante, você vai precisar coletar muitos peixes de manhã e à tarde. Até metade do game, você sempre vai ter a possibilidade de descer no mar duas vezes antes de chegar a hora de abrir o restaurante e atender os clientes.
Ai que entra o aspecto punitivo do jogo. O baú de itens de Dave tem um limite de peso. Caso seu O2 acabe sem que você consiga extrair em segurança, você desmaia e só consegue escolher um único item para ser salvo. Esse sistema gera uma sensação de urgência fantástica quando os níveis de O2 estão baixos e tornam Dave the Diver mais estratégico.
Você vai precisar bolar uma estratégia imediatamente e decidir entre procurar por mais O2 ou tentar encontrar um telefone para pedir a extração. O problema é que você nunca sabe o que tem pela frente ou em qual distância está um telefone, tornando o “ciclo” emocionante.
Na medida que você progride, uma variedade de sistemas serão desbloqueados para tornar as runs mais fáceis. Abrimos o armeiro, capaz de melhorar as armas de fogo e criar armamentos especiais (no final do jogo), o dono do restaurante começa a vender consumíveis que facilitam um pouco o ciclo e abrimos um sistema de sopas que garantem benefícios temporários como aumentar o dano causado pelo Arpéu.
Por falar em benefícios, Dave pode ser equipado com Amuletos que possuem bônus passivos diferentes. Um deles permite que você sobreviva por alguns segundos a mais após o tanque de O2 ser esgotado, o que ajuda bastante no processo de escapar. Outro ajuda com a resistência elemental e por aí vai. Os amuletos são obtidos nas missões principais e secundárias.
Mesmo estando embaixo d’água, os elementos são importantíssimos no jogo e seus efeitos podem ser aplicados no Arpéu – quando obtemos pontas do arpéu “encantadas” – ou nas armas de fogo.
Eletricidade, explosão, veneno… os efeitos são bem divertidos e geram QTEs diferentes ao capturar os peixes. Rodar a alavanca, pressionar botões no momento certo.. Isso torna o gameplay mais diverso e divertido.
Por falar em diversidade, o layout do mapa se altera em cada ciclo, algo padrão nesse tipo de jogo. Mas mais do que isso, o senso de progressão é fantástico. No começo, você vai tentar interagir com diversas coisas e nada vai acontecer. A medida que a história progride, obtemos novas bugigangas, como as Luvas, que permitem que o jogador pegue Ouriços por exemplo.
Logo o jogador vai se ver coletando coisas como madeiras, vidros, os próprios ouriços, camarões e cavalos marinhos usando a rede e até rações para gatos. Todos os itens encontrados estão ligados a progressão de Dave e aos ganhos no restaurante à noite. Nada fica sem utilidade!
Tudo isso está integrado na história e sempre de maneira muito criativa. No fundo do mar, faremos muito mais do que pesca. Alguns NPCs pedem que a gente tire fotos de criaturas especiais, outros vão pedir que a gente use um maçarico pra entrar em um navio naufragado e por aí vai.
Quando você pensa que o jogo não vai mais adicionar nada novo, ele começa a permitir que você explore o mar a noite, adicionando novas espécies exclusivas desse período e os redemoinhos – “portais” especiais que nos levam para batalhas épicas contra chefes.
Sim, Dave the Diver tem dezenas de chefes com um design fantástico. Enfrentaremos um tubarão branco cheio de cicatrizes, um caranguejo gigantesco cheio de detritos nas costas, uma lagosta com luvas de boxe e por aí vai. No geral, não senti dificuldade alguma nessas batalhas mas eles são bem divertidas.
Dave o Restaurateur
Eu vou começar esse pedaço do review com a definição de Restaurateur:
“Um restaurateur é uma pessoa que abre e gerencia profissionalmente restaurantes. Embora, ao longo do tempo, o termo tenha passado a designar qualquer proprietário de restaurante, ela se refere tradicionalmente a um profissional altamente capacitado, que domina todos os aspectos do negócio.”
A definição já entrega o que esperar dos sistemas de gerenciamento do jogo. Pela noite, você vai usar todos os ingredientes coletados pra fazer receitas e vender pros clientes. No começo, é um martírio.
Como Dave está acima do peso, sua mobilidade é propositalmente reduzida e isso faz com que diversos clientes fiquem sem atendimentos, o que reduz nosso score no final. Mas na medida que progredimos na história, desbloqueamos uma Headhunter que ajuda na contratação de funcionários. Esses funcionários podem ser alocados na cozinha ou no serviço, onde o bicho realmente pega!
Como eles possuem atributos, o jogador deve ficar atento onde alocar cada funcionário. Existem NPCs que são melhores na cozinha e outros servindo os clientes. O clima a noite é tão caótico quanto de dia pescando. Precisamos ficar atentos as quantidades de receitas no menu para não desperdiçar pratos caros.
Não somente isso, muitos clientes pedem bebidas como chás e cervejas e somente Dave consegue atender esses pedidos por conta do minigame envolvido (que são bem divertidos por sinal!)
Para apimentar as coisas, o jogo constantemente lança mecânicas inéditas no restaurante. Convidados VIPs com pedidos inusitados começam a aparecer no lugar e o jogador acaba tendo um tempo limite para coletar os ingredientes inusitados e entregar pra Bancho preparar a receita.
Aos poucos também desbloqueamos os Eventos Temáticos, onde pratos de animais específicos recebem um boost enorme de valor (momento ideal pra farmar uma boa grana!). Com o restaurante indo bem, o jogo começa a tornar o empreedimento mais autossuficiente com as adições do Viveiro, permitindo que você crie e reproduza os peixes, a Fazenda, possibilitando o cultivo de ingredientes que não são encontrados no mar e a Granja. Sim, dá pra criar várias galinhas.
O Viveiro é uma peça central para a progressão do jogo. Você consegue enviar os animais criados para a cozinha, obtendo mais carne ou pode vender os bichos para o fazendeiro, servindo como um excelente sistema de farm de moedas.
Por falar em farm de moedas, todos os pratos servidos nos restaurantes possuem níveis, indo do 1 até o 10. Com exceção dos pratos de chefes que possuem nível único. Toda vez que você aumenta o nível dos pratos, a quantidade de ouro por vender o prato aumenta, assim como o Nível de Sabor.
O Nível de Sabor é um elemento importantíssimo por conta do Cooksta. O Cooksta é basicamente uma rede social dos cozinheiros. Temos diversos níveis que vão desde o Bronze até o Diamante. Para chegar no Diamante, precisamos de 700 fãs (clientes que amaram os pratos servidos), um prato de 375 de sabor (vai precisar ser uma receita bem complexa) e 32 receitas pesquisadas. As receitas são pesquisadas com o uso das Chamas de Artesão, recurso conquistado no final de cada expediente no restaurante.
Todos esses sistemas conversam muito bem entre si e demandam atenção por parte de quem joga – é como se fosse um jogo inteiramente novo dentro de outro. Mas felizmente todo o processo é intuitivo e ágil. O foco de Dave the Diver é a diversão e não que você fique horas gerenciando a Fazenda ou o Viveiro até pular na água novamente.
O loop foi estabelecido com maestria e na maior parte do tempo você vai estar na água! Caso você fique esgotado do ciclo, você pode brincar em diversos minigames no celular (incluindo uma versão do lendário Tamagotchi) ou até ir no cassino no Vilarejo do Povo do Mar.
“Master Devs”
A Mintrocket fez um trabalho impecável com Dave the Diver. Os visuais são belíssimos e possuem um charme a mais graças ao pixel art muito bem aplicado. Os personagens são cheios de identidade e as cutscenes são irreverentes.
Dave the Diver é um jogo coreano e a cultura do país é palpável em vários momentos do game. A qualidade das animações impressiona e o level design é criativo, lançando novos layouts, puzzles e mecânicas em um bom ritmo.
Para a minha feliz surpresa, a integração do jogo com o DualSense também foi absurda. O feedback háptico é acionado constantemente, assim como os gatilhos e o microfone embutido do DualSense. Mas tudo de maneira que faça sentido, aprimorando e MUITO a experiência sensorial com o jogo.
E por falar em sensações, se as nossas mãos sentem as ações de Dave, o som complementa o todo de maneira magistral. Tanto a trilha quanto os efeitos sonoros foram muito bem construídos e garantem uma bela imersão ao universo do jogo.
Sério, Dave the Diver é daqueles projetos que você fala: só vou jogar uma “run” e quando se dá conta já está na vigésima. E felizmente a qualidade do conteúdo é acompanhada pelo desempenho formidável. Eu não tive nenhuma oscilação nos frames, bugs ou crashes, entregando uma otimização fantástica por parte dos desenvolvedores.
Review de Dave the Diver: Vale MUITO a pena!
Eu concluo esse review de Dave the Diver atestando o óbvio: o game é uma obra preciosa, com uma direção de arte fantástica e um conteúdo super robusto que respeita o tempo de quem joga. Apesar dos dezenas de sistemas diferentes presentes, todos são intuitivos e divertidos, facilitando na imersão de quem joga. Apesar da roupagem de indie, muito pelos visuais em pixel art, o projeto é robusto e faz parte de uma publisher gigantesca que elencou desenvolvedores geniais para construir o projeto.
Pertencente ao catálogo da PS Plus Extra e Deluxe, não existe nenhuma desculpa pra não dar uma chance ao jogo, você dificilmente vai se arrepender!
Dave the Diver é um jogo magistral que respeita o tempo dedicado pelo jogador. Com uma quantidade enorme de conteúdo de qualidade excelente e um loop extremamente viciante, é difícil não ser fisgado pelo anzol da Mintrocket.
- Narrativa e Lore
- Jogabilidade
- Conteúdo Secundário
- Visuais
- Desempenho
- Som