Os videogames funcionam como verdadeiras máquinas de empatia. Ao contrário do cinema, eles nos colocam ativamente no lugar do outro, oferecendo uma experiência imersiva que nenhuma outra forma de arte consegue reproduzir da mesma forma. Desse modo, não é exagero afirmar que obras como What Remains of Edith Finch tocaram tantas pessoas justamente por entenderem — e respeitarem — as convenções do meio interativo. Portanto, nesta review de Copycat, analisamos uma tentativa semelhante de despertar sentimentos profundos por meio de uma narrativa sensível e centrada em um fenômeno social doloroso: o abandono animal.
Copycat é uma produção independente que nasceu da necessidade de provocar empatia pelo ponto de vista dos animais de estimação, especialmente gatos, que muitas vezes são deixados para trás. Assim, o jogo nos convida a viver na pele — ou melhor, no pelo — de um felino em busca de um lar e de afeto.
No entanto, apesar da premissa promissora, a execução revela os desafios de transformar uma boa ideia em uma experiência realmente marcante. Além disso, o jogo mostra que criar uma narrativa envolvente e interativa exige mais do que boas intenções: é preciso domínio técnico e sensibilidade artística em igual medida.

Confundindo gato com lebre
A narrativa de Copycat é simples e, à primeira vista, breve. Nos primeiros minutos, assumimos o papel de Olive, uma senhora idosa que perdeu seu último gato e busca um novo companheiro em um abrigo de animais. Após a adoção, a perspectiva muda: passamos a viver como o próprio gato, chamado de Dawn, explorando o novo lar e expressando pensamentos por meio de um monólogo interno.

Essa alternância de câmeras entre primeira e terceira pessoa, no entanto, prejudica a imersão. Em experiências tão intimistas, manter uma perspectiva consistente é essencial. Cada transição nos distancia da conexão emocional que o jogo tenta criar.
Um narrador felino e seus instintos
A comunicação do gato protagonista ocorre de maneira curiosa. Seus pensamentos aparecem em forma de texto flutuando no cenário, e, em certo ponto, são acompanhados por uma narração ao estilo de documentários de vida selvagem.
Por exemplo, quando Olive deixa a televisão ligada, o narrador inicialmente surge como som diegético. Porém, em seguida, torna-se uma extensão dos instintos do gato. Essa escolha estética representa o conflito central do personagem: seus impulsos selvagens contra o desejo de se adaptar à vida doméstica.
Ainda assim, embora a ideia seja interessante, a execução é por vezes ingênua. A boa notícia é que, mesmo com simplicidade, a abordagem é bem apresentada.
Jogabilidade: minimalismo com limitações
No que diz respeito à jogabilidade, Copycat oferece mecânicas básicas. Podemos andar, correr, pular, escalar e, ocasionalmente, derrubar objetos específicos. Também realizamos algumas variações simples de Quick Time Events (QTEs) para avançar na história.

Diferente de títulos como Heavy Rain ou Detroit: Become Human, os QTEs aqui não impactam diretamente os rumos da trama. No entanto, nossas decisões — ainda que binárias — influenciam o temperamento do gato, tornando-o mais próximo da nossa própria interpretação.

Uma fórmula que poderia funcionar
É importante destacar que esses elementos, se bem utilizados, poderiam compor uma narrativa envolvente. Afinal, o tema central — abandono e a busca por um lar — tem apelo emocional universal. E é justamente esse o objetivo de Copycat.
Contudo, como veremos ao longo deste review de Copycat, a execução falha em manter o equilíbrio entre ritmo, interatividade e emoção.
Um ritmo que derruba o impacto
Experiências narrativas como esta exigem ritmo. Seja um andamento cadenciado que incentive a exploração, seja uma progressão direta e bem estruturada. Copycat, infelizmente, não encontra nenhum dos dois caminhos.
Durante boa parte do jogo, percorremos cômodos repetitivos, derrubamos objetos, buscamos comida… e repetimos o processo. Quando finalmente saímos da casa, o cenário externo pouco acrescenta à narrativa. Assim, o ambiente torna-se apenas um pano de fundo vazio.
Dessa forma, se a história fosse contada em metade do tempo, o impacto seria maior. A repetição acaba minando o envolvimento do jogador.
Um jogo com tom confuso
Além das questões de ritmo, há um problema claro de tom. Copycat parece querer atrair jogadores de todas as idades, inclusive crianças. No entanto, seus temas são abordados de forma inconsistente.

As reviravoltas narrativas parecem arbitrárias e, ao invés de enriquecer a história, criam confusão. Pior ainda, o jogo termina sem resolver os conflitos apresentados. Isso pode causar frustração, até mesmo em adultos apaixonados por gatos, que poderiam se sentir desconfortáveis com certas mensagens implícitas.

Conclusão: boas intenções, execução falha
Nesta review de Copycat, fica evidente que criar uma experiência narrativa imersiva é mais difícil do que parece. Apesar do carinho visível da equipe de desenvolvimento e do tema sensível, o resultado final deixa a desejar.

Além disso, os problemas de ritmo, a jogabilidade limitada e o tom desequilibrado impedem que Copycat atinja seu objetivo com força. O jogo tem potencial, mas ainda é um produto bruto, que carece de refinamento para realmente tocar os corações dos jogadores.
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Copycat começa com uma proposta tocante sobre adoção, mas termina transmitindo uma mensagem ambígua que pode magoar os mais sensíveis. Ver Dawn ser rejeitada pelos humanos, somado ao desfecho que, de certa forma, normaliza o abandono, pode frustrar quem ama os animais. Apesar da boa intenção, o jogo falha ao equilibrar emoção e narrativa.
São poucos, mas existem
- A ideia de abordar o abandono animal é relevante
- A direção de arte é charmosa e transmite leveza.
Um jogo que incomoda e não diverte
- A jogabilidade se torna monótona rapidamente.
- A mensagem final é contraditória e até incômoda.
- Vai desagradar jogadores que amam animais.
- Pode provocar
- História
- Jogabilidade
- Gráficos
- Trilha Sonora
- Desempenho