Quando fui convidado a produzir esta review de The Alters, eu jamais imaginava que ele iria me causar tantos sentimentos como ele me proporcinou, afinal jogos assim só aparecem de tempos em tempos para mexer com a gente por dentro.
The Alters, da 11 Bit Studios, mesma produtora do ótimo “This War is Mine”, é exatamente esse tipo de experiência. Um jogo de sobrevivência sci-fi que não apenas desafia sua habilidade de gerenciar recursos e tomar decisões rápidas, mas também testa sua estabilidade emocional.
Fazia muito tempo que eu não jogava algo tão imersivo, impactante e difícil — daqueles títulos que te fazem ficar pensando nele mesmo horas depois de desligar o videogame, portanto, confira minha review de The Alters e saiba o que me fez ter esses sentimentos!

Uma história densa e cheia de nuances
Primeiramente, a trama de The Alters é simplesmente magnífica. Acompanhamos Jan, um operário solitário que sobrevive à queda de uma nave. Isolado em um planeta hostil, ele descobre o poder do Rapidium — um elemento radioativo e raro, com propriedades de manipulação temporal. Com ele, Jan pode criar versões alternativas de si: os Alters.
Esses clones representam o que ele poderia ter sido, caso tivesse feito escolhas diferentes em sua vida. Cada Alter revisita arrependimentos, desejos e talentos esquecidos. Assim, a história cresce, e nos vemos mergulhados em uma teia emocional intensa.

A Ally Corp, empresa que enviou Jan à missão, quer o Rapidium para si. Seus interesses corporativos sombrios adicionam uma camada de tensão narrativa. Nada é simples. Nada é seguro.
Uma jornada solitária… com você mesmo
A premissa é original e brilhantemente executada. É fascinante ver como esses “eus alternativos” não são apenas cópias, mas indivíduos com vontades, sentimentos e traumas próprios.

Esses Alters ajudam a construir, consertar, pesquisar e minerar. Mas não pense que é só mandar e pronto. Eles exigem atenção, comida, descanso, entretenimento e até acompanhamento psicológico.

Em alguns momentos, a pressão emocional se torna tão grande que vi Alters entrarem em depressão profunda ou até se rebelarem — o que, para minha frustração, causou vários Game Over durante a campanha.

Rapidium: a chave para a sobrevivência — e a tragédia
O Rapidium é o recurso mais valioso e perigoso do jogo. Ele emite radiação e afeta o planeta. Ao mesmo tempo, é essencial para a criação dos Alters. Portanto, o jogador precisa tomar decisões delicadas: criar mais clones para ajudar na base, ou preservar a estabilidade?

Produzir Alters não é apenas uma questão prática. É emocional. Você pode criar um cientista que possui vasta inteligência e vai te ajudar a “upar” seu traje, base, melhorar sua economia e exploração, entretanto, seu ego é gigante e ele odeia ser contrariado e adora receber elogios e ser o centro das atenções. Poucos jogos alcançam tamanha profundidade.

Decisões duras e escolhas morais
Uma das coisas que mais me chamou a atenção para a produção desta review de The Alters foi o peso das decisões. Não existe tempo suficiente para fazer tudo, então cada decisão importa. Evoluir a base ou evoluir seu traje? Minerar titânio ou pesquisar novos módulos? Criar um clone especialista em metais ou um psicólogo para salvar os outros? As perguntas vêm em avalanche, e você tem pouco tempo para pensar. Pior: se você estiver trabalhando dentro da base, o tempo passa ainda mais rápido. É cruel, porém brilhante.
Em uma noite de jogo, fiquei encarando a tela por minutos, sem saber o que fazer. Se escolhesse errado, perderia horas de progresso. Escolhi criar um clone engenheiro… ele se rebelou. Tive que voltar o save.
Gameplay complexo que encanta, mas também pode afastar

Construção e gerenciamento da base
O jogo também traz elementos de “Construção de Base”, onde módulos como laboratórios, salas sociais e redes de extração são construídos conforme se adquire recursos. A comparação mais forte pode ser feita com Fallout Shelter, mas sem microtransações e com um viés narrativo mais forte.
O jogo é altamente complexo e não tem medo de ser cruel com o jogador. Tudo está ligado a tempo e decisões críticas. Você precisa decidir se vai construir um novo módulo ou explorar fora da base, se deve evoluir equipamentos ou minerar um recurso raro, se cria um clone refinador de recursos ou um clone mecânico que vai ajudar na reconstrução da base.

Pior: tudo consome tempo, e enquanto você toma decisões, o sol está se aproximando para carbonizar tudo.

Mesmo parado, refletindo sobre o que fazer, o tempo corre. Essa urgência é boa no início, mas pode se tornar extremamente estressante. Confesso que, em alguns momentos, o nível de pressão que o jogo impõe foi mentalmente exaustivo para mim. Isso me tirou o prazer e me deixou desconfortável — e digo isso com sinceridade.

As tempestades magnéticas são injustas e desanimadoras

Entre os eventos mais frustrantes do jogo estão as tempestades magnéticas. Elas surgem de tempos em tempos, e você até consegue prever sua chegada construindo um equipamento de monitoramento. Mas mesmo totalmente preparado, a tempestade simplesmente destrói tudo.

Módulos da base entram em pane, clones ficam doentes por radiação, e você precisa correr para a enfermaria — se tiver construído uma. Caso contrário, o dano se estende e a situação só piora. Durante o tratamento, os Alters não trabalham, o que aumenta ainda mais o consumo de tempo, aproxima o sol e gera mais estresse emocional para todos. É um ciclo cruel.
Não digo que a desenvolvedora deva remover a tempestade, mas definitivamente ela precisa ser menos punitiva. A sensação de ser injustamente punido mesmo com boa preparação é desanimadora.
Inimigos e ameaças vivas: as anomalias
As anomalias espalhadas pelo planeta funcionam como os “inimigos” do jogo. Elas causam radiação, aceleram o tempo ou deixam o personagem lento. Algumas chegam a perseguir você. Felizmente, é possível combatê-las com o Luminador. Ao destruí-las, você coleta um recurso especial que pode ser refinado e convertido em materiais úteis.

Uma direção artística arrebatadora
A primeira coisa que salta aos olhos ao iniciar The Alters é a beleza estonteante de seus cenários. Cada planeta, cada ambiente externo ou interno, é construído com uma atenção quase obsessiva aos detalhes. A superfície do planeta onde Jan luta para sobreviver exibe paisagens que misturam desolação e beleza de forma sublime. As rochas desgastadas, o céu repleto de tempestades radioativas, o brilho ameaçador do sol que se aproxima — tudo compõe uma atmosfera de tensão visual que impressiona e envolve.

Outro ponto notável é como a iluminação desempenha um papel dramático. As sombras dinâmicas, o reflexo da luz nas superfícies metálicas e os efeitos de névoa e poeira espacial intensificam o clima de isolamento. Há momentos em que você simplesmente para e observa o horizonte, mesmo sabendo que o tempo está correndo. Poucos jogos conseguem evocar essa sensação de maravilhamento em meio à tensão.

Não estamos falando apenas de fidelidade gráfica — embora o nível de detalhes técnicos seja impressionante. Estamos falando de uma direção artística coesa, que transforma cada segundo jogado em uma experiência cinematográfica.

É como se o planeta fosse um personagem por si só, em constante transformação e ameaça. Isso reforça o senso de urgência e reforça a narrativa emocional do jogo com maestria.

Dublagem de altíssimo nível: cada voz, uma alma
Outro aspecto que merece destaque absoluto em The Alters é sua dublagem — simplesmente brilhante. Jan, o protagonista, é interpretado com profundidade emocional rara. Sua voz transmite desespero, frustração, esperança e medo de maneira sutil, mas poderosa. No entanto, o verdadeiro triunfo está nos Alters.
Cada Alter — clones do próprio Jan, mas com histórias de vida distintas — possui não só uma personalidade única, como também uma entonação vocal totalmente diferenciada. Há Alters que falam com segurança e otimismo, outros com sarcasmo, tristeza ou até mesmo apatia. Essa variedade impressionante cria um vínculo mais íntimo com os personagens, pois você sente que está lidando com pessoas reais, com bagagens distintas, e não apenas cópias robóticas do protagonista.

As conversas, apesar de obrigatórias em alguns momentos, são bem escritas e entregues com atuação digna de séries de TV. Não há exagero, nem tons forçados — o realismo das performances ajuda a imersão e aprofunda o impacto das decisões. Em um jogo onde relações emocionais têm peso mecânico real, uma dublagem competente faz toda a diferença.
Além disso, os efeitos vocais em momentos de estresse, como durante tempestades ou brigas entre Alters, são espetacularmente bem sincronizados com os acontecimentos na tela. O som de vozes cortando interferência, gritos abafados por alarmes e mudanças na cadência durante discussões mostram o cuidado absurdo da equipe de som.
Se The Alters é uma montanha-russa emocional, é graças à qualidade da atuação de voz que essa viagem se torna tão inesquecível. É raro ver um jogo onde até a modulação vocal colabora diretamente para a construção do drama — e aqui, isso é feito com perfeição.
Lições que moldam sua personalidade e gameplay
Um dos sistemas mais fascinantes do jogo está nas missões secundárias dos Alters. Ao completá-las, você não apenas avança a história desses clones, como também aprende Lições. Essas lições alteram seu comportamento e suas opções no jogo. Por exemplo, ao concluir a jornada emocional de um Alter, você pode aprender a Confiança, Assertividade, Pragmatismo, entre outras qualidades. Isso afeta decisões futuras e a forma como você interage com os demais.

Entretanto, há um dilema brutal: o tempo. Fugir do planeta antes da chegada do sol pode ser uma questão de sobrevivência. Mas se fizer isso, perderá as missões dos Alters — e as Lições. Pior: ignorar essas missões pode causar rebeliões, levando ao game over. Cabe a você decidir: fugir rápido ou investir tempo em criar laços profundos?

Nada é coletável por acaso
Em The Alters, não existem colecionáveis descartáveis. Cada item tem um propósito narrativo. Filmes, por exemplo, aparecem próximos aos locais onde fragmentos da nave caíram. Eles podem ser assistidos junto dos Alters, gerando empatia e reflexão.

Objetos do passado também têm importância vital — devolvê-los aos Alters é uma forma de deixá-los mais felizes e emocionalmente estáveis, o que impacta diretamente na jogabilidade.
O jogo é maravilhoso, mas exige ajustes
Não tenho receio de afirmar nesta review de The Alters é que ele é espetacular. A proposta é inovadora, a execução é ousada e a experiência é inesquecível. No entanto, há ajustes que a desenvolvedora precisa fazer para encontrar o ponto ideal entre desafio e diversão.
A pressão do tempo, por exemplo, embora traga realismo, poderia ser mais equilibrada. Talvez dar ao jogador a opção de personalizar a intensidade da radiação, ou ao menos o ritmo das tarefas internas, ajudaria bastante.
Também senti falta de um sistema mais claro de priorização. Quando você está no meio de dezenas de tarefas e seus Alters estão deprimidos, é difícil entender o que vem primeiro. Uma interface mais intuitiva ajudaria a evitar frustrações.
Relações com os Alters precisam de ajustes
Um ponto que precisa ser revisto são as interações com os Alters. Por exemplo, um deles me pediu para construir uma academia. Gastei tempo e materiais, mas ele nunca a utilizou. Além disso, as conversas são obrigatórias. Ignorar pode gerar rebelião, queda de produtividade ou até game over. O problema é que, mesmo escolhendo as melhores respostas, eles ainda se irritam.
Portanto, a desenvolvedora precisa ajustar melhor essa mecânica.
Desempenho decepcionante no PS5
Apesar do visual impactante e da direção de arte belíssima, o desempenho técnico deixa a desejar. Joguei no modo qualidade no PlayStation 5, esperando 30 FPS estáveis, mas enfrentei quedas de desempenho com frequência. Em alguns momentos, o personagem ficou preso em pedras ou partes do cenário, flutuando sem sentido enquanto o tempo passava implacável.
Outro problema sério: por várias vezes, meu PS5 apresentou superaquecimento enquanto jogava The Alters. Não posso afirmar com certeza que foi exclusivamente por causa do jogo, mas fato é que isso nunca aconteceu com outros títulos, mesmo mais pesados. Fica o alerta para quem for jogar.
Sistema de mineração falho e sensores irritantes
A mineração é vital no jogo, mas a mecânica de encontrar pontos de escavação profundos é extremamente mal elaborada. Você precisa usar sensores para detectar o local ideal de perfuração, mas o processo é chato, impreciso e cansativo. Falta clareza e feedback visual — muitas vezes, coloquei os sensores no lugar certo, mas o sistema não reconheceu.

Esse tipo de frustração, somado à pressão constante do tempo, torna a exploração algo desgastante. Você sabe que precisa daquele minério para seguir, mas o jogo te coloca um obstáculo técnico que atrapalha mais do que desafia.
Muito mais do que esta review de The Alters mostra
Mesmo com tudo que já foi dito, este texto revela apenas a superfície. O jogo oferece muito mais mecânicas, sistemas e reviravoltas. Optei por omitir parte delas para não estragar o fator surpresa.
Descobrir essas novidades foi uma das partes mais emocionantes da jornada. Por exemplo: aprender novas habilidades como “Confiança” ou “Pragmatismo” ao completar a história de um Alter foi algo surpreendente. Criar um clone “Guarda” e ele achar que meus outros clones estavam roubando comida e exigir que eu criasse uma bancada de vigilância e instalasse câmeras de segurança, foi surreal de surpreendente.
Portanto, a dica é: jogue The Alters e se surpreenda a cada nova mecânica adicionada ao seu extenso Tutorial, mas cuidado, não se perca no gameplay, afinal, o tempo em The Alters nunca está a seu favor.
Dicas Importantes que o Jogo Apresenta
Você não verá tudo em uma única jogada
The Alters foi claramente pensado para ser rejogado. Algumas cenas, decisões e desfechos mudam com base nas escolhas do protagonista Jan, no estado emocional dele e dos Alters presentes. A boa notícia é que, ao revisitar uma cena, as opções de diálogo já escolhidas aparecem marcadas. Isso facilita bastante seguir pelo mesmo caminho ou tentar novos rumos em outras partidas.
Use a dificuldade a seu favor
Se você está enfrentando dificuldades para manter a produção, administrar os recursos ou mesmo só quer focar na história e nas diferentes ramificações narrativas, o próprio jogo recomenda diminuir a dificuldade econômica. Isso não afeta o impacto da narrativa, o que é uma ótima opção para quem quer explorar o enredo sem tanto estresse logístico.
Fale com seus Alters quando for solicitado
Sempre que um ícone surgir ao lado do retrato de um Alter, isso significa que ele quer conversar. Essas interações não são apenas cosméticas: elas aprofundam os vínculos emocionais, revelam informações importantes e influenciam no desempenho. Ignorá-los pode levar a conflitos ou queda de produtividade — e isso, como já vimos, pode ser fatal.
Suas escolhas importam, mesmo no início
Apesar de parecerem pequenas, as decisões que você toma desde os primeiros minutos afetam profundamente os rumos da narrativa. O jogo reforça isso constantemente: as escolhas iniciais fazem parte da base de toda a experiência, então vale a pena pensar bem desde o começo.
Considerações finais: Um salto da 11 Bit Studios
Finalizo esta review de The Alters afirmando que ele é um jogo maravilhoso, sem dúvida. Ele consegue unir narrativa sci-fi, gestão de recursos e psicologia de forma única. É imersivo, denso e cativante. Poucos jogos me prenderam tanto nos últimos anos — tanto que me vi pensando nele mesmo longe do console.
No entanto, é altamente complexo, difícil e, por vezes, frustrante. O tempo curto para tarefas, os sistemas sobrepostos, os bugs, o desempenho instável e as decisões implacáveis tornam a experiência estressante, e não no bom sentido. A desenvolvedora acertou em cheio na ideia, mas a execução ainda precisa de ajustes finos para encontrar o equilíbrio ideal entre desafio e prazer.
Se você gosta de jogos de sobrevivência exigentes, com foco em decisões morais, psicologia e gestão intensa, The Alters é uma experiência imperdível. Mas esteja preparado para muito estresse, decisões duras e um gameplay que exige atenção plena o tempo todo. E fique de olho no tempo, ele sempre estará contra você!
Agora é sua vez, amigo leitor! O que achou desta review de The Alters? Pretende se desafiar no título? Conta para a gente nos comentários!
The Alters é uma das experiências mais poderosas que o mundo dos games já me proporcionou. Ele mistura ficção científica com drama humano de forma tocante. Cada mecânica, cada detalhe visual e cada linha de diálogo reforçam o tema central: quem somos e quem poderíamos ter sido.
Para jogadores que buscam apenas algo rápido e casual, este jogo pode ser difícil. Mas para quem ama desafios, narrativas densas e experiências transformadoras, The Alters é obrigatório.
Você não verá o tempo passar
- Narrativa profunda e impactante
- Sistema de clones original e emocional
- Visual deslumbrante e atmosfera envolvente
- Dublagem excelente
- Decisões com impacto real no gameplay
- Alta rejogabilidade com múltiplos caminhos
- Trilha sonora que amplifica a imersão
Senso de urgência pode estressar muito
- Curva de aprendizado alta pode afastar novatos
- Interações com alguns Alters são mal calibradas
- Quedas de FPS e superaquecimento ocasional no PS5
- Pequenos bugs e travamentos em certos momentos
- Complexidade pode desanimar
- História
- Jogabilidade
- Desempenho
- Visuais
- Som
- Fator Replay