Quando Dordogne foi anunciado, um sorriso surgiu rapidamente em meu rosto. O jogo apresentava três elementos que me agradaram muito! Uma temática intrigante, uma direção de arte super original e, claro, uma de minhas publishers prediletas estavam assumindo a função de publicar o título. Meses depois, tive a oportunidade de colocar às mãos no jogo e, bom, o sorriso continuou no rosto. Vem comigo conhecer uma parte da França pouco explorada nas grandes mídias!
Em busca de si
Nossa jornada é protagonizada por Mimi, uma jovem determinada a buscar respostas sobre sua infância. Quando garota, a personagem passava o verão na casa de sua avó, Nora, na região da Dordonha, uma zona rural na França. Com o passar do tempo, muitas memórias de Mimi sobre esse período de sua vida se perderam e, com o falecimento de sua avó, ela decide ir até o local com a finalidade de resgatar algumas de suas lembranças. É diante desse contexto que jogamos com a Mimi do presente e a do passado para “ligar” as lembranças.
Logo no começo do jogo descobrimos que Nora e o pai de Mimi, Fabrice, tinham uma relação conturbada e mal se falavam. Os motivos do relacionamento conturbado entre os dois são apresentados aos poucos ao longo das 2 horas de duração de Dordogne. Preciso destacar que para ter um entendimento completo da história é necessário explorar bem os cenários. Muitas das informações estão compactadas em cartas que estão espalhadas pelos cômodos da casa.
Confesso que eu esperava um pouco mais da conclusão do jogo, contudo, a jornada até o fim é o que é digno de nota aqui. Poucos jogos me fizeram refletir sobre minha infância e na minha relação com as minhas avós como Dordogne. Similar a Mimi, também tenho uma avó que mora em outra cidade e também passei pedaços da minha infância visitando ela. Sem surpresas, também não lembro quase nada do meu tempo lá. Um pouco assustador, mas minhas duas memórias mais fortes são o barulho de um trem que passava bem próximo à casa e o cheiro das fezes do gado que morava na fazenda da família. É nesses pontos que Dordogne consegue se conectar com quem joga e, claro, manter o jogador interessado pela trama!
Uma aquarela jogável
A direção artística de Dordogne lembra demais uma aquarela, estilo de pintura que usa água. O estúdio UN JE NE SAIS QUOL fez uma escolha perfeita para representar essa parte mais bucólica da França. Com rios, vilarejos pitorescos e florestas, cada minuto que passei no jogo ajudou a criar uma vontade enorme de visitar a cidade real. A exploração dos cenários é incentivada através da presença de colecionáveis como as já mencionadas cartas, palavras que podem ser usadas para compor poesias, fitas de som, adesivos para personalizar o fichário e locais para capturar sons e registrar fotos das belíssimas paisagens do jogo.
Por sinal, o sistema do fichário é maravilhoso. Mimi pode montar páginas do fichário usando fotografias, sons da fauna e flora do game, adesivos e escrever poesias que geram uma reflexão profunda no jogador. Esse mecanismo me agradou demais e serviu como um excelente ponto de conexão com o game. Cada poesia criada atuou como um convite ao meu interior, fazendo com que eu resgatasse memórias antigas ou enxergasse lembranças sobre um ângulo inédito.
No quesito jogabilidade, Dordogne muito se assemelha a um walking simulator. Para tentar diversificar um pouco a experiência, o game apresenta minigames constantemente que envolvem algum tipo de atividade do cotidiano como pintar um barco, escovar os dentes, preparar uma refeição. Como a duração do jogo é curta, ele não chega a ficar monótono em nenhum momento.
Dordogne: Vale a Pena!
O longo debate sobre jogos x arte certamente ficaria ainda mais interessante se levasse Dordogne em consideração. O propósito aqui não é divertir ou viciar, mas fazer sentir e refletir e o game consegue isso com maestria. Mesclando diversas mídias, principalmente a pintura, o indie consegue fazer com que os jogadores mergulhem dentro de suas próprias memórias em busca de sentido e ressignificações. Contudo, preciso deixar claro: a proposta não é pra todos ou pra qualquer momento. A mensagem só vai ressoar se você entrar em contato com ela no período certo de sua vida. Se você busca por uma experiência mais comercial, mais “gamística”, recomendo deixar o título pra depois.
Dordogne cativa, intriga e faz refletir. Muito mais do que um jogo, é uma obra artística necessária dentro desse meio eletrônico.
- Narrativa
- Jogabilidade
- Conteúdo Secundário
- Direção de Arte
- Som (Trilha Sonora e Efeitos Sonoros)
- Desempenho