Antes de eu começar de fato esse review de Dragon’s Dogma 2, eu preciso deixar claro uma coisa: eu praticamente não joguei o primeiro game. Joguei o antecessor por cerca de 5 horas a muitos anos atrás e foi isso. Mas assisti o anime completo da Netflix antes de começar a minha aventura nesse segundo jogo.
Achei importante destacar isso pois a sequência deve ser o primeiro contato de milhões de jogadores e, caso esse também seja o seu caso, espero que esse review de Dragon’s Dogma 2 te ajude a decidir se vale ou não a pena dar uma chance ao jogo.
Uma história sobre caminhos
Dragon’s Dogma 2 é bem único em sua proposta narrativa. Temos uma campanha tradicional que conta uma história pré-definida, mas a parte comum meio que para por aí.
O jogo meio que trata sua campanha como um aperitivo e não um prato principal. O peso narrativo se concentra no caminho até você enfrentar o dragão. As missões que você fez, as pessoas que ajudou e o mais importante: os caminhos que você trilhou.
Cada andança pelo mapa do jogo é tão significativa que ela meio que gera uma história por si só. Por exemplo: eu decidi desbravar o mapa até chegar em uma cidade nova. Lá, eu recebi uma missão de um mercador idoso que me pediu para resgatar o seu neto das garras de lobos.
Simulando a realidade, na medida do possível, o mercador me pediu para ser rápido, afinal, o neto dele poderia acabar sendo morto. Essa é uma das missões com tempo no game (existe um ícone indicativo no menu).
Eu prontamente colhi as pistas e sai atrás do covil do Lobo. Cheguei no local, despachei os animais e chegou o momento de escoltar o garoto de volta. No meio do caminho teríamos que passar por um túnel escuro e suspeito – dito e certo. Fomos emboscados por goblins e harpias.
Logo após o embate, saímos do túnel e outra surpresa surgiu no caminho: um grifo imponente pousou bem em nossa posição e começou a nos atacar. Conseguimos causar um bom dano nele e ele levantou voo. Andamos mais um pouco e encontramos um NPC pedindo ajuda para sobreviver a um ataque de goblins.
Após tantos percalços, estávamos perto do destino final, mas aí anoiteceu. Na etapa final do caminho, encontramos fantasmas e um ogro com armadura completa. E é nesse relato que reside a magia de Dragon’s Dogma 2. Na sua vez de jogar, você pode escolher uma rota totalmente diferente. Você pode ser emboscado por outros inimigos ou acabar nem sendo emboscado.
Cada minuto gasto no mapa respeita o jogador e rende uma bela história para ser contada. Outro aspecto maravilhoso é o quest design engenhoso da equipe. Eles meio que advinham com muita precisão qual será o próximo passo do jogador.
E o melhor de tudo – as missões respeitam a inteligência de quem joga. Você deve coletar pistas, conversar com as pessoas e usar um pouco a caixola para saber o que deve ser feito. Nem todas as quests recebem marcadores tradicionais no mapa.
No geral, a experiência deve durar cerca de 60 horas. Isso para concluir a campanha tradicional e também fazer o final verdadeiro. Uma jogatina focada no 100% leva tranquilamente cerca de 80 horas.
Simulando a Idade Média
Toda vez que eu inicio uma sessão de Dragon’s Dogma 2, eu me sinto sendo transportado para a Idade Média. E isso em muitos sentidos da coisa. O jogo não segura seu “ar” de simulador, o que enriquece a experiência.
Viu um baú em um penhasco e não consegue pular pra pegar? Que tal arremessar um de seus peões em direção a ele? Ou quem sabe você pode ter a sorte de ter um peão mago capaz de levitar até o lugar e obter o item.
Em cada visita nos vilarejos e cidades de grande porte, podemos nos deparar com pessoas que irão nos parar e pedir favores para o Nascen. Em muitos casos, temos pouquíssimos indícios do que deve ser feito e o jogo não coloca um marcador gigante no mapa.
Resta apelar para o tradicional – se fosse na “vida real” o que seria feito? Então partimos para conversar com os NPCs ao redor e coletar informações sobre o ocorrido para só então tomar alguma atitude.
Vale destacar que o jogo tem um sistema próprio de “macetes”. Alguns peões possuem a capacidade de servir como Guias de Missões e eles vão te contar diferentes maneiras de como concluir o objetivo.
Por falar neles, o sistema é muito criativo e eu diria até que um pouco revolucionário. A IA é inteligente a ponto de transformar eles em personagens únicos dentro da história, perpassando a ideia de meros ajudantes.
E isso influencia muito no combate. No começo eu estranhei demais as coisas. Não existe lock-on e a proposta é bem única. Mas na medida que você vai se habituando com os sistemas e aprende a usá-los, despachar criaturas em DD2 se torna algo extremamente viciante.
Podemos subir nos bichos enormes e enfiar a espada em seus olhos, usar golpes pesados em suas pernas para deixar eles desequilibrados e causar quedas… é possível até segurar a perna de um Ogro e tentar empurrar pra fazer ele cair. Esse flerte com jogos do tipo immersive sim é muito bem vindo e torna a experiência do combate algo único no mercado atual dos games.
Temos uma variedade de vocações que seguem o caminho tradicional de um bom RPG mas que apresentam diversidade o suficiente para garantir identidade ao jogo. Ilusionista, Lanceiro Místico, Arqueiro Mágico, Guerreiro, Lutador.. existem opções para praticamente cada tipo de player.
Um lado negativo é a distribuição de inimigos pelo mapa. Enfrentamos constantemente lobos e goblins, o que gera um senso de repetição após jogar muitas horas. O jogo tem dezenas de criaturas mas devido a essa má distribuição, em 90% do tempo estaremos enfrentando goblins, lobos, esqueletos e bandidos e com pouca variação visual.
Outra coisa que incomoda é o sistema de vigor do jogo, totalmente afetado pelo peso carregado pelo nosso personagem. Se você estiver pesado, a exploração se torna quase impossível e cada passo dado consome muito vigor. Eu entendo que o sistema foi concebido para gerar uma sensação maior de realismo no jogo, mas ele pode ser facilmente contornado, o que acaba tirando o sentido do mesmo.
Eu simplesmente transfiro todos os meus itens não essenciais para os peões, ficando sempre com o peso “Muito Leve ou Leve”. O estúdio poderia ter se modernizado um pouco mais nesse sentido e tornado a barra infinita em momentos fora do combate. O mapa é bem vasto e temos que lidar com a ausência de cavalos e uma barra de vigor limitadíssima.
A aproximação com os immersive aims também acontece no aspecto narrativo do jogo. Podemos falsificar itens, gerando duplicatas, nossas vestimentas influenciam em como NPCs de certos locais irão nos tratar, falar com elfos sem um tradutor impossibilita a comunicação e por aí vai.
O peso das decisões
Esse review está saindo após vários dias do lançamento do jogo e uma série de correções já foram aplicadas. Incluindo um patch que permite travar o game em 30 FPS.
O desempenho melhorou consideravelmente mas ainda fica aquém do que poderia e deveria ser. Dragon’s Dogma 2 é bom demais pra rodar apenas em 30 FPS e ficarei na torcida para que uma atualização que acrescente a opção de 60 FPS seja implementada.
No estado atual do game, o desempenho ainda chega a incomodar. Felizmente eu não tive nenhum bug de progressão ao longo da minha jornada ou fechamentos abruptos, mas o receio de ter já diz muita coisa.
O sistema de saves do jogo é propositalmente arcaico para gerar um senso de consequência, fazendo o jogador agir com prudência (ou não), o que eu entendo e acho plausível. Mas penso que isso deveria ser uma opção e não uma imposição.
No campo do design, Dragon’s Dogma 2 é imersivo e impressiona. As armaduras e vestes estão excelentes, assim como as armas. Os visuais dos monstros, principalmente os raros como a Medusa e o Grifo, estão excelentes, gerando um excelente senso de perigo.
A exploração é abrilhantada pela presença constante de vegetações dos mais diversos tipos. Algumas texturas, como as de chãos de terra e as paredes de minas, não estão tão boas mas não chega a ser algo que gera incomodo.
As duas capitais e os inúmeros vilarejos fazem uma representação fiel da Idade Média na medida do possível, mas senti falta de um comportamento mais orgânico no que diz respeito às rotinas dos NPCs. O ciclo de dia/noite afeta os personagens mas eles sempre estão envolvidos em ciclos repetidos de atividades.
O maior trunfo visual de Dragon’s Dogma 2 é oriundo das técnicas de iluminação aplicadas pela equipe. As armaduras ganham um aspecto maior de polidez, os efeitos das magias são belíssimos e a incidência da luz nos monstros ajudam a tornar cada embate inesquecível.
Por falar em senso de perigo, a trilha sonora orquestrada é intensificada nos embates, dando um leve impulso na adrenalina. O todo funciona muito bem e nos transporta diretamente para o universo do game. Dragon’s Dogma 2 foi meticulosamente montado para ser uma espécie de simulador de fantasia e ele consegue fazer isso com maestria.
Review de Dragon’s Dogma 2: Vale a pena?
Em uma indústria que se apoia cada vez mais em remakes e trends, Dragon’s Dogma 2 se mune de coragem para entregar um RPG único. O título derrapa na parte de desempenho mas entrega excelência em todo o resto, tornando-se facilmente um dos melhores jogos da geração atual.
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Dragon's Dogma 2 nos transporta para seu mundo fantasioso com maestria, fazendo com que cada jogador escreva sua história como um Nascen. Apesar dos percalços técnicos, o RPG é excelente e trás um merecido frescor para a indústria.
- Narrativa
- Jogabilidade
- Conteúdo Secundário
- Visuais
- Desempenho
- Som