Em termos de jogos first-party, o 2024 da Nintendo está sendo preenchido em sua maior parte por títulos de escopo menor, como foi o caso de Princess Peach: Showtime!, e alguns remakes de títulos de menor relevância, tal qual Mario vs. Donkey Kong e Another Code: Recollection. Seguindo uma toada similar, mas lançando um novo título de uma franquia extremamente nichada, eis que o inesperado Endless Ocean Luminous chega para oferecer uma experiência pacata e evocativa.
Anunciado na Nintendo Direct: Partner Showcase de fevereiro de 2024, muitas pessoas foram pegas de surpresa ao descobrir que Luminous é na verdade o terceiro título da franquia Endless Ocean, cujo primeiro jogo foi lançado inicialmente no Nintendo Wii, lá em 2007. Embora seja uma franquia com mais de 10 anos, a obscuridade de Endless Ocean justifica-se pela sua proposta e escopo: a ideia aqui é oferecer ao jogador um certo tipo de simulador de mergulho bastante simples e direto ao ponto. Com objetivos amplos e um foco grande em oferecer uma experiência singela e contemplativa, Luminous é um jogo que pode agradar entusiastas da vida marinha, mas que dificilmente possui muito apelo para além disso.
É hora de segurar o fôlego e mergulhar
As aventuras subaquáticas de Endless Ocean Luminous são divididas em quatro modos distintos (sendo que um desses modos só fica disponível por tempo limitado, durante eventos especiais): Shared Dives, onde você pode mergulhar simultaneamente com até 30 amigos (ou 30 desconhecidos) online; Event Dives, que são mapas temáticos nos quais determinadas criaturas raras podem aparecer com mais frequência; Solo Dives, que é basicamente o modo offline do jogo, onde você tem o mapa todo para si, sem interações virtuais; e o modo Story, que é dividido em diversos capítulos curtos, durante os quais você acompanha uma narrativa envolvendo os mistérios do Veiled Sea.
Embora à primeira vista Endless Ocean pareça oferecer uma grande variedade de conteúdo graças aos seus diferentes modos de jogo, a verdade é que boa parte dessas modalidades são muito parecidas entre si. O modo história é facilmente a modalidade mais única e, em certos aspectos, funciona como tutorial e introdução ao jogo. Com capítulos extremamente curtos, que podem durar de 5 a 15 minutos, o modo história apresenta uma inteligência artificial que te acompanhará durante os mergulhos, bem como um mistério envolvendo o “World Coral”, um grande coral que está à beira da extinção.
Avançar no modo história de Endless Ocean, contudo, demanda muito mais tempo e dedicação do que você possa imaginar, já que o jogo coloca alguns pré-requisitos para o desbloqueio de cada capítulo. Basicamente, o jogo mantém um contador com a quantidade de criaturas que você escaneou. Conforme você avança na história, novos capítulos passam a pedir um número cada vez maior de criaturas. Consequentemente, é basicamente impossível concluir o modo história em uma tacada só. Você precisa ir constantemente aos mergulhos solos e/ou online para escanear novas criaturas, e aí sim liberar novos capítulos da trama.
Por um lado, é possível compreender que essa é uma maneira de Endless Ocean Luminous incentivar o jogador a testar todos os modos de jogo, explorando as diferentes possibilidades, para aí sim conseguir avançar na história. Contudo, isso gera um efeito indesejado, já que torna o avançar na narrativa muito mais lento e potencialmente tedioso. Como consequência, após terminar um dos curtíssimos capítulos da história do jogo, mesmo que você esteja interessado em descobrir mais sobre o World Coral, você precisa ir para outro modo de jogo, explorar durante um bom tempo até escanear mais algumas centenas de criaturas, para aí sim voltar à narrativa.
Esse mar está pra peixe?
Como eu comentei anteriormente, os modos de Shared Dives, Event Dives e Solo Dives são bastante parecidos entre si. Dentro de cada um deles, você consegue acessar um mapa subaquático bastante expansivo, que é sempre gerado aleatoriamente para você (ou, caso já tenha começado a explorar um mapa anteriormente, você pode optar por dar continuidade e revisitar o mesmo ambiente). Diferente do modo história, não há qualquer objetivo fixo dentro desses modos. Isso significa que você fica livre para explorar como quiser, escaneando criaturas, coletando tesouros perdidos e (com sorte) encontrando pontos de interesse únicos e potencialmente interessantes.
Se tratando de mecânicas, toda essa exploração subaquática acontece com controles extremamente simples. Endless Ocean Luminous não é um jogo de sobrevivência como Subnautica, então você não precisa se preocupar com o seu oxigênio, temperatura, nem mesmo com potenciais ataques de criaturas. Pelo contrário, mesmo os mais ferozes predadores marítimos ignoram a sua presença (por motivos explicados durante o modo história). Você nem tampouco pode interagir com eles de maneiras mais diretas. Luminous é um jogo mais interessado em propiciar um cenário onde o jogador pode explorar e observar.
Isso não significa que o jogo esteja inteiramente ausente de objetivos e desafios. Tudo o que você faz dentro do jogo é recompensado com pontos. Explorou parte do mapa? Escaneou novas criaturas? Recolheu tesouros perdidos no fundo do oceano? Você será então recompensado com pontos, que aumentarão o seu nível de mergulhador, que também podem ser utilizados para liberar novos itens na loja do jogo.
Além disso, existem dois macro-objetivos que podem guiar os jogadores mais complecionistas. O primeiro deles seria a catalogação de todas as criaturas e tesouros disponíveis no jogo — um tipo de “Pokédex” onde você consegue visualizar informações e curiosidades sobre as mais de 500 criaturas disponíveis no jogo. O segundo grande objetivo está ligado ao Mystery Board, uma lista de 99 tesouros especiais que podem ser encontrados espalhados pelos diversos modos de jogo. O jogo também possui uma lista interna de achievements, com recompensar para desafios específicos.
Inconstante como as ondas do oceano
Embora esses elementos possam nortear aqueles que busquem aproveitar o máximo de Endless Ocean Luminous, eu preciso destacar um fato: mesmo isso não será o suficiente para manter o interesse de alguns jogadores. No final das contas, Luminous é um jogo bastante simples e contemplativo. Boa parte das horas que eu passei me aventurando por esses oceanos foram preenchidas com… “nada” (nos dois sentidos da palavra). Mergulhar, observar as criaturas aquáticas e encontrar (ou não) coisas únicas é o que preenche a maior parte da experiência de Endless Ocean.
Como resultado disso, a experiência de jogar Endless Ocean é um tanto quanto inconstante, e isso também está refletido nos visuais do jogo, que são simplórios na maior parte do tempo. Veja bem, há momentos em que Luminous se sobressai bastante, principalmente quando o jogo oferece a oportunidade de mergulhos mais profundos. Explorar um ambiente cavernoso, escuro, e encontrar criaturas abissais em meio a um navio afundado é uma experiência memorável. Todavia, nem sempre o jogo é assim. Na maior parte do tempo, você vê um azulão sem fim, com alguns cardumes e outros peixes esparsos.
Existe sim muita coisa interessante a ser vista e descoberta em Endless Ocean, e o jogo traz uma variedade interessante de conteúdos. Cada vez que um novo mapa é gerado, com ele vem a possibilidade de encontrar ambientes únicos como barcos náufragos, ruínas submersas, cavernas profundas, bem como criaturas raras e gigantescas. Algumas dessas coisas mais únicas, inclusive, aparecem como recompensas ao completar pequenas quests que aparecem de quando em quando durante suas explorações. O grande porém, contudo, é que esse tipo de acontecimento é um tanto quanto raro durante as dezenas de horas que você pode passar jogando.
Sem ironia alguma, essa exata experiência vai agradar enormemente entusiastas da vida marinha. Ou seja: se você tem interesse em conhecer as mais diversas espécies, incluindo também algumas criaturas mais bizarras e consideradas extintas, Endless Ocean Luminous com certeza te agradará. Porém, acredito que não seja exagero dizer que esse talvez seja um dos jogos mais “de nicho” que a Nintendo lançou nos últimos anos. Ele faz relativamente bem aquilo a que ele se propõe — porém, é uma proposta com um apelo bastante limitado.
Review de Endless Ocean Luminous — Mais nicho que isso, impossível!
De verdade, eu acho extremamente válido que jogos como Endless Ocean Luminous existam — experiências menores, que entregam algo mais focado a um nicho específico; um tipo de jogo que foge totalmente do padrão que encontramos tão frequentemente no mercado de games. Todavia, embora Endless Ocean Luminous não esteja precificado a $60/R$300 como a maior parte dos títulos first-party da Nintendo, o valor de $50/R$250 faz com que esse seja um jogo extremamente difícil de se recomendar. Ainda mais, quando consideramos o fato de esse ser outro jogo que (infelizmente) não está localizado na nossa língua.
No final das contas, Endless Ocean Luminous é um daqueles jogos que cada indivíduo possivelmente já saberá se vai gostar ou não após ver um simples vídeo de gameplay. Afinal, se você não está disposto a embarcar em uma experiência tranquila e pacata, onde você passará a maior parte do tempo explorando a esmo, observando o ambiente e curtindo as “vibes” do jogo, bem, então esse jogo não é pra você. Por outro lado, se a ideia de um “documentário de vida marinha” jogável tem algum apelo para você, talvez então você consiga tirar um bom proveito de Endless Ocean Luminous, pois ele não é necessariamente um jogo ruim — só é um jogo com um escopo e proposta bastante específico e limitado.
PS: A análise foi feita em um Nintendo Switch através de uma cópia cedida pela Nintendo.
Com sua proposta descompromissada de gameplay focado em exploração e observação, Endless Ocean Luminous é um dos jogos mais nichados lançados pela Nintendo nos últimos anos. Definitivamente não é um título para qualquer tipo de jogador, mas pode oferecer uma experiência calma e agradável para aqueles que busquem por isso — e, claro, estejam dispostos a pagar o elevado valor de entrada.
- Narrativa
- Jogabilidade
- Progressão
- Desempenho
- Visuais
- Trilha Sonora