O ano é 1993, e este que vos fala cursava a 2ª serie do primário em uma escola a 40 minutos de caminhada de distancia de onde eu residia. No caminho de volta, como era costume nessa época, havia algumas locadoras de videogames repletas de SNES e de crianças, e era comum que eu parasse por uns 10 minutos para assistir, através do portão gradeado, as pessoas jogando os mais variados títulos, e os jogos de luta eram, então, a febre do momento.
Foi neste ano que, em uma semana como outra qualquer, eu me deparei pela primeira vez com um personagem tão carismático quanto os do jogo mais popular entre as crianças da minha idade. Um cara com cabelo longo e loiro, um boné, calça jeans, jaqueta rasgada e um par de tênis surrado: Terry Bogard. E o jogo que me apresentou a ele, em sua versão doméstica, foi Fatal Fury 2.
Nesse mesmo período, ou em algumas semanas mais a frente, em uma tarde cotidiana, estava eu a assistir os programas infantis vespertinos, com destaque para o Clube da Criança, apresentado por Angélica, na extinta TV Manchete. E nesse episódio, algumas crianças competiam em um breve torneio de Fatal Fury 2, e o estagio do trem, aliado a figura do protagonista Terry, formam as minhas primeiras memorias em relação a essa franquia e com a empresa responsável por ela, a saber: SNK.

Um breve resumo sobre como tudo começou em South Town
A SNK veio a conquistar os corações dos aficionados por jogos fliperama no Brasil nos anos seguintes. Afinal, em um país como o nosso, consoles domésticos eram (e ainda são) artigos de luxo, fazendo com que os jogos de arcade se tornassem muitíssimo populares. E como estamos falando da cultura de fliperama dos anos 90, logicamente precisamos falar sobre jogos de luta, gênero onde a SNK se tornou referência com títulos de grande sucesso como o épico Samurai Shodown e o inovador e dinâmico The King of Fighters – este ultimo se tornou o carro chefe da empresa por vários anos.
Porém, o carro abre alas foi Fatal Fury. Inicialmente capitaneado por Takashi Nishiyama – que havia trabalhado na Capcom, com destaque para seu trabalho no primeiro Street Fighter. E antes disso, ele trabalhou no clássico titulo Kung-Fu Master, da Irem.
Na SNK ele idealizou enquanto diretor, produtor ou produtor executivo, várias franquias que se tornaram grandes sucessos: Fatal Fury, Metal Slug e The King of Fighters. Vários anos depois, em 2018, ele foi o produtor executivo de Soulcalibur VI, na Bandai Namco.

Nishiyama é a pessoa responsável pelo golpe que é o estandarte de um gênero inteiro: o Hadouken. Não apenas o aspecto estético, como o conceito e o movimento se tornaram padrões na indústria.
Voltando para quando eu tinha, então, 10 anos de idade, em 1995, Fatal Fury 3 viu a luz do dia. Até hoje, sempre que vejo ou jogo-o, eu lembro do sentimento de seriedade que esse titulo imprimiu em mim na primeira vez que o vi em uma maquina de fliperama.
O próximo jogo da franquia que me divertiu por muitas horas foi o Real Bout Fatal Fury Special. Tudo estava indo como um cruzeiro em translado no alto mar: em 1999, Garou: Mark of the Wolves, fui um sucesso entre a comunidade ao lado de um titulo bem reverenciado da Capcom. Porem, a vida é uma caixinha de surpresas, e, infelizmente, um monstro tão cruel quanto o mitológico Kraken espreitava o navio da SNK: a saber, a falência.
Esse é o principal motivo do hiato de vinte e seis anos nos lançamentos da relevante franquia Fatal Fury, ou como os japoneses falam: Garou Densetsu. Então, após essa longa introdução, convido você, estimado leitor, a acompanhar o que tenho a falar sobre esse novo e animador capitulo da Lenda do Lobo Faminto.

E essa tal de Cidade dos Lobos?
Fatal Fury: City of the Wolves é um jogo de luta desenvolvido pelo KOF Studio e publicado pela SNK. É o sétimo título da franquia, sucedendo Garou: Mark of the Wolves, encerrando um hiato de 26 anos. O jogo está disponível para Playstation 4, Playstation 5, PC e Xbox Series X e S.
Gráficos e Elementos Visuais
Um dos primeiros aspectos que chamaram a minha atenção de maneira positiva é a direção artística. A ideia principal é ter como norte o movimento Pop Art. O que, para mim, se adequa e muito a proposta de Fatal Fury: City of the Wolves. Funciona, e muito bem, para criar a ideia de uma história em quadrinhos em movimento. Com contornos grossos e sombras proeminentes.

Os cenários são bem trabalhados, porém, quando há algum tipo de movimento constante ao fundo, a escolha foi de manter a taxa de quadros em 30, contrastando como os 60 quadros por segundo da luta. Isso, no entanto, não apresentou incomodo. E, com o tempo, acabamos acostumando.
Ainda dentro desse quesito, é permitido que edições nas cores dos trajes, cabelos, cor dos olhos e etc., dos personagens. O que resulta em uma abordagem mais pessoal que os jogadores podem dar aos seus personagens favoritos.

Jogabilidade
City of the Wolves oferece uma jogabilidade 2D tradicional, aliada a novos elementos com a introdução do Rev System (em alusão ao acelerar de um motor). Graças a este sistema, podemos cancelar golpes especiais EX em outro, ao custo do aumento da barra de Rev do nosso motor. Se a barra atingir 100%, entramos no estado de overheat (superaquecimento), impedindo, assim, o acesso aos cancelamentos de golpes EX, ou o mero uso deles. Há outras limitações também quando atingimos o máximo de utilização da barra Rev.
Essencialmente, a jogabilidade do novo titulo continua com a abordagem estabelecida em Mark of the Wolves com as fintas e os freios como dois elementos principais para que possamos manter a pressão no ataque e fazer com que o adversário abra a defesa. E falando em defesa, temos o retorno da mecânica introduzida no titulo anterior: Just Defense. Que é uma espécie de aparamento realizado no momento exato em que um golpe acertaria a nossa guarda. Aliado ao Just Defense, agora temos o Hyper Defense, que funciona como a mecânica anterior, porem para ataques com acertos múltiplos.

Os desenvolvedores, não satisfeitos, acrescentaram mais uma mecânica defensiva ao jogo, dessa vez realizada ao pressionar de um botão: Rev Defense. Este, por sua vez, serve para evitar danos a barra de vida enquanto defendemos, além de ser bastante útil em situações onde o adversário cruze por cima, evitando assim uma confusão sobre para qual lado devemos defender.
As mecânicas defensivas não param por aí! Ainda há quatro formas de rolamento que podemos lançar mão ao cair no chão para recuperação rápida. Podemos, então, perceber que os idealizadores deste jogo prezam por oferecer aos jogadores opções defensivas, e não apenas ofensivas – o que tem sido a tendência dos jogos de luta contemporâneos. E falando em legado, há a opção de jogar em um estágio em especifico onde temos disponíveis a faixa alternativa de cenário, onde a luta pode acontecer, tal como em quase todos os títulos anteriores.
Modos de Jogo
Fatal Fury: City of the Wolves disponibiliza algumas opções para jogadores que se enquadram mais no perfil casual, tal como os entusiastas do competitivo.
Para este último grupo, é ofertado três tipos de modos online: ranqueado, casual e sala. Acredito que estes sejam modos de jogo bastante conhecidos e que, a essa altura, não se faz necessário falar muito sobre eles.
Vale ressaltar, entretanto, que o netcode e o sistema de pareamento do jogo estão funcionando de maneira muito eficiente. Acha-se partida muito rapidamente em diferentes momentos ao longo do dia. Entretanto, os menus do jogo são um tanto quanto confusos e não muito intuitivos. Criar salas para jogar com amigos pode não ser uma experiencia simples como podemos encontrar em outros jogos que estão no mercado.

Algo interessante, também presente em alguns jogos do gênero, é o modo Clone. Aqui, um modelo de IA estuda o seu estilo de jogo enquanto você enfrenta outros jogadores online, e, automaticamente, cria um clone seu e do resto da base de jogadores. É algo interessante, de fato, para que possamos praticar novas estratégias para evitar a previsibilidade.
Também há opções para quem não queira se aventurar na selva que é o modo online dos jogos de luta, permanecendo, assim, offline. O tradicionalíssimo modo Arcade está disponível. É nele que os aficionados pela história de Fatal Fury saberão dos rumos atuais e vindouros para os personagens da franquia. Aqui, neste modo, o jogador enfrentará 7 oponentes controlados pela “CPU”. Se o jogador se sentir corajoso o suficiente, há uma recompensa para quem chegar até o ultimo oponente na dificuldade mais alta, mas sem perder uma luta sequer. Será que você é capaz de afirmar “aqui tem coragem!”?

Ainda falando sobre modos offline, o estúdio KOF apresenta um modo novo chamado Episódios de South Town. Aqui temos algo que tenta se assemelhar a um RPG dentro de um jogo de luta. Aqui, escolheremos um personagem do elenco principal para desbravar os mistérios da cidade de South Town. Cada lutador tem uma trama singular, embora algumas intercalem entre si. Ganhamos experiencia a medida que enfrentamos e vencemos nossos oponentes. Não é algo nada difícil de ser feito.
São três áreas no mapa. E após a conclusão de todas essas áreas, o jogo nos oferece a oportunidade de jogarmos o NG+ desse modo. E aqui, sim, devo admitir, é um pouquinho mais desafiador. O ultimo desse modo, no NG+, é um pesadelo. Se é que vocês me entendem 😉
O jogo apresenta uma singela lista de 8 desafios de combos. Nada mirabolante em termos de dificuldade de execução. Muitíssimo tranquilo mesmo para os aventureiros iniciantes.

(Captura de Tela: Cleovan Gois)
Miscelânea
Podemos, também, ouvir as musicas de toda a franquia Fatal Fury, como também de Art of Fighting. Além disso, nesse modo Jukebox, podemos criar listas de músicas. Eu, particularmente, gosto muito que os jogos ofertem essa opção para os jogadores.
Os vídeos, ilustrações e demais peças de arte que podemos desbloquear jogando os modos Arcade e EdST, podem ser conferidos no modo Galeria. Aqui também podemos ouvir as vozes de todos os personagens disponíveis, tanto em inglês como em japonês.

Review de Fatal Fury: City of the Wolves – Vale a pena!
A SNK não apenas entrega um novo capitulo da saga Fatal Fury, como também eleva o patamar de suas produções autorais. A qualidade deste jogo, em seus mais variados quesitos, honra o legado criado em 1991, assim como enche de orgulho e esperança os assíduos fãs da empresa em relação ao seu futuro breve. Os elementos visuais são bem executados e bonitos. Há uma gama de opções para os mais variados tipos de jogadores. E, acima de tudo, a jogabilidade está um primor de diversão. Após 26 anos, os Lobos Famintos estão de volta em um retorno em grandíssimo estilo!
A SNK não apenas entrega um novo capitulo da saga Fatal Fury, como também eleva o patamar de seus jogos.
Após 26 anos, os Lobos Famintos estão de volta em um retorno em grandíssimo estilo!
- Jogabilidade
- Gráficos e Elementos Visuais
- Efeitos Sonoros e Musica
- Desempenho
- História