Bom, você muito provavelmente já leu, ouviu e viu muitas coisas sobre Forspoken, o mais recente RPG de ação da Square Enix. Desenvolvido pela Luminous Productions, o exclusivo temporário de PS5 teve uma recepção negativa e acabou virando motivo de chacota nas redes sociais. Enquanto alguns jogadores criticaram os diálogos, outros falaram mal dos gráficos. É diante de todo esse contexto que nosso review vai ser um pouco diferente do habitual. Nele, iremos responder a seguinte pergunta: Forspoken mereceu tanto hate ou as pessoas exageraram a dose?
Mergulhando na toca do coelho
A nossa jornada é protagonizada por Frey, uma jovem que não teve uma vida nada fácil. Abandonada quando recém-nascida, nossa heroína improvável passou sua vida inteira pulando entre orfanatos e depois teve que se virar nas ruas. Foi graças ao abandono e sua longa experiência com delitos nas ruas que a personalidade de Frey foi moldada. Uma millenial com M maiúsculo, Frey xinga bastante e é extremamente reativa. Isso explica muitos dos diálogos do jogo e seu comportamento explosivo na porção final da história.
Essa caracterização da personagem fez com que muita gente criticasse os diálogos. Eu particularmente gostei deles e, como mencionei acima, acredito que os roteiristas acertaram em cheio na construção da personagem. O jeito de agir, pensar e falar da jovem é quase um retrato fiel de pessoas com background similar na vida real, logo, considero um ponto positivo.
O desenvolvimento da trama e seu desfecho segue um número bem grande de clichês e simulam a já conhecida jornada do herói. Uma heroína improvável que não quer o “fardo” que o destino joga em sua direção. Já vimos e revimos isso. Infelizmente, a qualidade das cutscenes não é a melhor possível e alguns trechos que eram pra ter grande peso emocional acabam passando sem impacto algum. Também achei os capítulos mal distribuídos, onde alguns são bem mais longos que outros que não chegam a durar nem 5 minutos. No fim, a história de Forspoken é proveitosa, contudo, sua duração curta e qualidade técnica pífia não a torna imperdível para os gamers.
Prepara a lista!
As atividades secundárias de Forspoken são chamadas de Tarefas. E bom, para o meu grande desgosto, elas funcionam de maneira similar ao que vimos em Final Fantasy 15 em 2016. O problema é justamente esse. As estruturas das missões não foram alteradas, mesmo após 7 anos. Temos paredes invisivéis, diversos momentos de interrupções, trechos de furtividade obrigatórios.. Dois grandes problemas dessas tarefas é que muitas não fazem o menor sentido e já outras não acrescentam em nada no jogo.
Perseguir gatos atrás de bonecos de brinquedo, completar “labirintos”.. Fazer tudo isso enquanto o mundo literalmente está acabando não faz muito sentido. Fora que as recompensas muitas vezes não valem nem um pouco a pena. Eu concluí a história e obtive quase tudo do jogo usando uma capa e um colar do começo do game. O sistema de loot simplesmente não funciona aqui.
Pra piorar a situação, o mundo do game é completamente desinteressante. Extremamente cinzento, gigantesco, repleto de inimigos e de atividades repetidas. Novamente, parece que estamos jogando algum tipo de spin-off de Final Fantasy 15. As ideias e defeitos são bem similares, o que é preocupante quando observamos que ambos os títulos foram criados pela mesma equipe. Separa pelo menos 40 horas caso queira concluir 100% do game. Similar a jogos como Far Cry e Assassin’s Creed, temos cavernas, fortes e ruínas para limpar, torres para fazer o reconhecimento, desafios de tempo e pontuação e monumentos que envolvem o parkour mágico. A variedade é até ótima no começo, contudo, após poucas horas começa a se repetir demasiadamente.
Combate: A alma de Forspoken
Com muito parkour e uma árvore de feitiços repleta de opções, o combate de Forspoken ajuda muito a segurar muitos dos problemas do game. Extremamente divertido, belo e fluído, a Luminous conseguiu criar algo fantástico que certamente deveria virar um estudo de caso para outras equipes. Temos feitiços relacionados à Terra, Água, Raio e Fogo, mesclando opções de combate, apoio e controle de área.
Cada uma das magias pode ser melhorada através de uma série de desafios bem simples de serem concluídos. O problema é que é um processo extremamente burocrático. Só podemos equipar 3 desafios por vez e temos que visitar uma estante de livros para fazer isso. Essa ida e vinda acaba tirando todo o ritmo alucinante dos combates e acredito que não foi algo bem pensado por parte dos desenvolvedores.
O fim da magia
Forspoken até apresenta diversos modos gráficos mas já adianto: vá direto no modo Desempenho. O modo de qualidade é triste no PlayStation 5, causando uma sensação de que estamos jogando em câmera lenta. Os visuais lembram muito um game do meio da geração do PlayStation 4, contudo, é durante o combate que temos a grande justificativa do título ser um exclusivo temporário de PlayStation 5. Os efeitos de partículas são intensos e ocupam a tela quase inteira, gerando um show pirotécnico que lembra uma virada de ano. Infelizmente, o primor visual acaba aí. As expressões faciais deixam a desejar e o mundo cinzento não enche em nada os olhos de quem joga.
O uso do DualSense se faz presente nos gatilhos, nos diálogos da Algema que saem pela saída de som do controle e pelo feedback háptico, trazendo sensações e melhorando a imersão em Athia. A trilha sonora é o outro grande destaque do jogo além do combate. A Square Enix raramente decepciona nesse quesito e a trilha de Forspoken é magnífica!
Forspoken: Boas ideias lançadas tarde demais
A sensação que fica é a de que Forspoken é um bom jogo se fosse lançado 4-5 anos atrás. Suas estruturas e “carcaça” técnica já estão defasadas demais para 2023, ainda mais após o lançamento de Elden Ring. Em um jogo de mundo aberto, o mundo precisa ser tratado com tanta importância quanto o personagem e isso não acontece aqui. Espero que o sistema de combate seja aproveitado em um projeto que esteja mais emparelhado com os dias atuais.