Após ser muito elogiado no PC e levar a premiação de Melhor Jogo de Estratégia/Simulação no The Game Awards, Frostpunk 2 ganha um novo lar e finalmente fica disponível para ser jogado nos consoles.
A desafiadora experiência que marcou o primeiro título da série retorna com tudo, mas ainda mais brilhante e profunda. Agora, o poder das decisões está aprimorado, diante de uma compensação: a adição de alguns elementos torna a aventura essencialmente desafiadora e satisfatória. Um baita paradoxo.
Definitivamente você não está pronto para sobreviver a mais uma geada. Mas pelo bem de seu povo, vale a pena tentar.
A colônia como um grande organismo vivo
Frostpunk 2 chega ao PS5 como uma rara combinação de simulador de cidade, estratégia de sobrevivência e drama político. A sequência amplia a escala do primeiro jogo, mas muda o foco: menos micromanagement, mais decisões macro sobre rumo econômico, conflitos de facções e sobrevivência coletiva.
Essa versão, disponível desde 18 de setembro, inclui interface adaptada, textos em PT-BR e recursos específicos do ecossistema PlayStation, o que ajuda bastante na curva de entrada para quem vem do PC.

O desenho sistêmico é onde Frostpunk 2 chama a atenção. 30 anos após o colapso climático, você atua como Steward e deve mediar interesses em um Conselho que vive em atrito constante. As facções disputam modelos de futuro e você legisla, executa e lida com crises em cadeia.
Essa ênfase em política pública transforma a cidade em um organismo social que reage às suas escolhas, mais do que um tabuleiro para otimização. O resultado é uma experiência de estratégia que frequentemente se mostra como um RPG de liderança, com consequências de médio e longo prazo após cada decreto.
Experiência totalmente adaptada
A principal dúvida em ports de RTS sempre recai sobre controle e legibilidade. No PS5, o esquema com controle funciona melhor do que se imagina, ainda que exija uma adaptação nas primeiras horas.
Já a navegação por camadas, atalhos contextuais e escalonamento de interface deixaram o fluxo coeso o bastante para sessões longas no sofá. Depois que os comandos viram “memória muscular”, a experiência flui sem fricção relevante e mantém uma experiência agradável em sua maioria do tempo, apesar de desafiadora.

Em performance, o jogo oferece múltiplos modos que priorizam nitidez ou fluidez. No PS5 base, a apresentação é estável e completa, e apresenta um pacote técnico sólido, especialmente quando a câmera recua para mostrar a expansão urbana sob a nevasca.
Realismo que impressiona
A direção de arte continua impressionante. Frostpunk 2 troca o frio físico do primeiro jogo por uma espécie de frio moral: o verdadeiro inimigo são as pessoas, seus interesses e as renúncias que você cobra delas.
Quando a cidade cresce, o jogo força você a sacrificar pureza ideológica em prol de resultados. É aqui que o texto e a montagem sonora deixam tudo mais dramático: avisos de crise, murmúrios do Conselho e a trilha que cresce nas votações críticas criam um senso de espetáculo raro no gênero e sustentam o peso de decisões que não têm a resposta “perfeita”.

Se a ambição narrativa é consistente, a filosofia de design pode dividir. O sistema reduz parte do micromanagement clássico, simplificando rotinas que veteranos costumam apreciar. Em compensação, a camada estratégica e as colisões entre facções ficam mais legíveis, com picos de tensão que lembram um filme de suspense.
Para quem gosta de “apertar parafusos” em relação aos detalhes, a mudança pode parecer uma grande concessão. Mas para quem deseja testar macrodecisões com impacto nítido, é um avanço que dá ritmo e identidade própria.

Outro ponto que surpreende positivamente é a sensação de cinema sistêmico: a narrativa de Frostpunk 2 nasce do fluxo da cidade e dos seus votos, não de cutscenes extensas ou de longas linhas de diálogos.
Muitas informações… Para o bem e para o mal
O jogo no console preserva essa dramaturgia emergente e a traduz bem por meio do DualSense. Em vários momentos, Frostpunk 2 parece um drama de prestígio disfarçado de algo relativamente superficial, com crescendos que você mesmo orquestra ao aprovar uma lei mais arriscada para salvar o amanhã e arriscar tudo no hoje.
A progressão visual acompanha o crescimento urbano com boa legibilidade, e a leitura de informações melhora ao longo das horas, quando você internaliza padrões da UI. Ainda assim, existe sobrecarga cognitiva em picos de crise, e alguma repetição de eventos pode surgir nas campanhas mais longas.

Mesmo assim, a experiência geral em Frostpunk 2 mantém pegada de “um turno a mais” típica dos grandes títulos de estratégia em tempo real, só que aplicada a uma espécie de fantasia política baseada na sobrevivência extrema.
Frostpunk 2 é mais um excelente trabalho da 11 bit studios
No PS5, Frostpunk 2 mantém a alma da série e a traduz com competência para o controle. É um jogo de estratégia que entende que estatística só importa quando dói em alguém e que toda lei tem um preço humano.
O port acerta na legibilidade e oferece opções técnicas honestas, com adaptações bem-vindas para quem já está acostumado a jogar no PC. Há ressalvas claras: curva de adaptação altíssima, redução do micromanagement e momentos de sobrecarga de informações. Porém, o conjunto entrega um city builder que poucos estúdios se arriscam a fazer.
Para quem busca decisões difíceis, narrativa com muito potencial multimídia e um verdadeiro laboratório de ética social, a versão de PS5 é uma aposta segura e, em muitos aspectos, a melhor porta de entrada para o universo gelado da franquia.
Ainda mais desafiador e profundo, Frostpunk 2 é um dos melhores RTS dos últimos anos — mas exige muita paciência.
- Narrativa
- Jogabilidade
- Desempenho
- Visuais
- Som
- Diversão