Hell Pie é um dos jogos mais insanos que eu já joguei na vida. Bom, o que é que eu esperava se ele mesmo se identifica como um game de plataforma obsceno inspirado nos clássicos? Desenvolvido pelo estúdio Sluggerfly, o “motto” do estúdio já indica o que falaremos aqui neste review: “Tentamos criar jogos com personalidade, personagens que você possa lembrar e achamos que sombrio e engraçado funcionam bem juntos. Somos inspirados por uma ampla gama de influências, desde entretenimento bobo até arte significativa, e queremos que isso apareça em nossos produtos.“
Hell Park ou South Pie?
Antes de continuarmos neste review, gostaria de deixar uma coisa clara: Hell Pie é um jogo para pessoas acima dos 18 anos. O próprio projeto se declara como um game de plataforma obsceno, logo, aviso dado! Nossa jornada é protagonizada por dois personagens: Nate e Nugget. Nate é um demônio de baixo escalão que trabalha em um escritório numa vida monótona. Já Nugget é um Cupido obeso que se encontra no Inferno e acaba sendo acorrentado em Nate como um bicho de estimação.
Me lembrando muito South Park, o jogo não se leva nem um pouco a sério. Nosso objetivo é encontrar os ingredientes mais nojentos do mundo para preparar uma super torta. A torta será dada como um presente de aniversário para Satã, o chefão do submundo. Os ingredientes estão espalhados nos hubs (mundos) do jogo e vão desde sangue de virgem até os restos de um entregador de pizza.
O estúdio abraçou bem a temática e toda a loucura envolta dela, entregando personagens realmente memoráveis e trechos mirabolantes que reforçam a genialidade da equipe no level design. Cheio de referências a outras obras do entretenimento, o game usa bastante o humor ácido em seus diálogos. Infelizmente, o título não foi localizado para o nosso idioma, falhando em apresentar legendas em PT-BR. Em relação a longevidade, em alguns momentos achei o game grande até demais. Levei 11 horas pra zerar a aventura e mesmo assim dezenas de colecionáveis ficaram para trás. Estimo que um jogador em ritmo normal deva levar entre 15 a 17 horas para concluir 100% do jogo.
Doses diabólicas de genialidade
Hell Pie é confortavelmente um dos jogos de plataforma mais inovadores que eu já tive o prazer de jogar. Apesar da estrutura ser similar ao de outros games – visitamos um hub, coletamos um item ou realizamos uma tarefa e voltamos – o jogo inova muito através de seus elementos de gameplay. Um dos principais aspectos de um game do gênero é a responsividade de seus comandos e, pra minha felicidade, a jogabilidade dele é extremamente responsiva.
A verticalidade, outra peça chave nos títulos desse tipo, também se faz presente e de um jeito bem inusitado. Como mencionei acima, Nugget, nosso querido Cupido, está acorrentado no protagonista. É daí que a verticalidade do game acontece. Podemos nos lançar pro ar usando a corrente e o anjo. Também é possível balançar no ar no bom estilo Homem-Aranha através do uso da corrente. Graças a presença de uma árvore de habilidades, podemos aprimorar diversas ações. Em virtude do seu peso (ele é obeso), Nugget não consegue segurar Nate no ar por muito tempo, demandando que ele recarregue as forças após um tempo. Isso resultou num mecanismo de cargas para o uso das asas. Iniciamos com uma carga e a quantidade pode ser expandida para até 4 usos. Também é possível aprimorar o tempo de recarga.
Além da louca interação entre Nate e Nugget, o jogo usa os chifres do protagonista como um elemento crucial no gameplay. Um dos colecionáveis, as Unilambs (cordeiros com chifres de unicórnio), podem ser sacrificados em altares espalhados pelos Hubs. Isso dá ao jogador acesso a um portal para outra dimensão desbloqueando um novo tipo de Chifre. As funções dos chifres variam bastante. Um deles serve para quebrar paredes fracas, outro serve como um turbo acelerando a corrida, outro como lâmpada. O chifre padrão serve como bússola, mostrando pontos de interesse nos hubs.
Ainda falando sobre os colecionáveis, temos quatro tipos ao todo, totalizando mais de 300 colecionáveis diferentes. Boa parte deles estão em lugares óbvios e bem vísiveis, contudo, outros estão extremamente bem escondidos e darão bastante trabalho ao jogador. Malditos gatinhos dourados.
O charme do submundo
Ao todo o jogo conta com 5 Hubs diferentes. Eles trazem consigo uma excelente diversidade no level design. O primeiro Hub que visitamos é o prédio que abriga os funcionários do Inferno. Com uma linha bem corporativista, os corredores são um elemento predominante desse Hub. Após ele visitamos uma ilha, com cenários mais abertos e cores vibrantes, ressaltando o clima de férias. Esses hubs são desbloqueados mediante a coleta dos ingredientes para as tortas.
Dentro desses mundos, temos cenários contidos que adicionam ainda mais genialidade no conjunto da obra. Um restaurante chinês, uma balada, a mansão do Scarface, uma prisão.. Os cenários se alteram a todo momento, afastando qualquer sensação de repetição. O feito é impressionante para um game indie.
Apostando num estilo cartoonesco, até pra quebrar um pouco as cenas grotescas e nojentas que são bem frequentes, os visuais são bem charmosos e reforçam a homenagem aos games clássicos do gênero. A trilha sonora cumpre seu propósito mas senti que ela poderia ser mais presente e um pouco menos genérica. Como experimentei a versão de PlayStation 5, os loadings quase não existem, contudo, esta é a única vantagem que pude observar. O DualSense não foi aproveitado e, como joguei de maneira antecipada, não vi nenhum sinal da presença do Game Help. No quesito técnico, só tive problemas após derrotar o último chefe do jogo. O game crashou duas vezes, algo que pode ser facilmente resolvido com um patch!
Hell Pie: Vale MUITO a pena!
Hell Pie é um dos melhores jogos de plataforma que eu já joguei na vida. Com humor ácido e uma jogabilidade recheada de elementos criativos, me diverti demais nas 11 horas que passei fazendo os preparativos para o aniversário do chefão do Submundo. Apesar de não ter sido polido até a perfeição, o indie entrega muita qualidade e não vai decepcionar nenhum fã do gênero. Mas fica o reforço no aviso: ele não se segura nas piadas de péssimo gosto e na violência. É uma pena que ele não tenha legendas em PT-BR
Review feito com um código de PlayStation 5 gentilmente cedido pela assessoria da publisher.