Review: Hogwarts Legacy (PS5)

Atire a primeira pedra quem nunca fantasiou em ir pra Hogwarts. É raro encontrar alguém que não teve a infância impactada pelas aventuras de Harry Potter. Com atores fantásticos e um mundo feito com maestria, os filmes da saga ajudaram a eternizar o legado que começou nos livros. Apesar do sucesso em outros formatos de mídia, o universo de Harry Potter nunca conseguiu emplacar nos games. Bom, isso até agora. Fico feliz em cravar que Hogwarts Legacy é o jogo dos sonhos de todo fã do bruxo, sendo uma adaptação suprema que, se a justiça for feita, será o vencedor do prêmio Game of the Year 2023. Parece exagero, não é? Vem comigo nesse review pra eu te mostrar por que o jogo me encantou tanto!

Uma nova Desventura

Numa tentativa de aumentar a imersão, Hogwarts Legacy não apresenta um protagonista definido. O jogo permite que cada pessoa crie seu próprio Bruxo ou Bruxa e (finalmente) realize o sonho de longa data de adentrar nos muros de Hogwarts. A história não poupa tempo e já no começo mostra pra que veio. Após um ataque quase letal de um dragão, descobrimos que o protagonista é capaz de ver rastros de magia ancestral.

Por ser uma grande fonte de poder, um grupo nefasto liderado pelo temido Ranrok também está atrás da magia ancestral. É diante de todo esse contexto que começamos como um aluno do quinto ano de Hogwarts, decisão inteligente por parte da equipe! Apesar de apresentar tutoriais didáticos, o game não perde tempo pegando na mão de quem joga e consegue engatar rapidamente. A linha narrativa da campanha principal é excelente e apresenta tanta qualidade quanto a história principal de Harry Potter e cia. Temos até missões envolvendo Salazar Slytherin, um dos quatro fundadores de Hogwarts, e menções a uma serpente adormecida numa câmara secreta…

A narrativa é extremamente satisfatória e é notável que cada trecho foi feito por um time apaixonado pelo universo em questão. Os personagens principais e secundários são cheios de personalidade e seus motivos são muito bem explorados ao longo da trama. A construção do mundo é fantástica e a cada novo detalhe acrescentado por meio dos colecionáveis ou missões secundárias é significativo. Por falar nas missões secundárias, não temos as odiadas fetch quests aqui! O conteúdo tem valor e, além de fornecer recompensas que ajudam na progressão de personagem, amplificam a imersão no universo esculpido pela Portkey Games/Avalanche Software.

O amado Castelo de Hogwarts atua quase como um protagonista na trama. Repleto de segredos, aulas, atividades recreativas como duelos, enigmas a serem resolvidos, portas escondidas e uma avalanche de eastereggs, prepare-se pra gastar dezenas de horas percorrendo cada canto do lugar e se maravilhando a cada passo! Voltando a falar dos personagens secundários, o tratamento dado em Hogwarts Legacy foi magnífico. Sebastian em sua nobre missão pela família, nosso adorado Professor Fig que atua como o Dumbledore do protagonista, a compaixão da professora Garlick, o vil Diretor Black.. Os personagens secundários da trama irão ficar comigo pra sempre e são tão marcantes quanto nosso querido trio – Harry, Rony e Hermione. A construção dos personagens é amplificada pela dublagem primorosa em nosso idioma local, fazendo com que Hogwarts Legacy se torne ainda melhor. Os diálogos foram escritos de maneira impecável e parecem ter sido retirados diretamente dos livros e filmes.

O tropeço na narrativa fica em dois setores: a sincronia labial nas cenas poderia ser melhor, assim como as expressões faciais dos personagens. Apesar de seus modelos serem belíssimos e passarem a sensação de nova geração, o mesmo não pode ser dito das expressões, que dão um aspecto plastificado nas cenas e remove muito do impacto pretendido! Felizmente, todo o resto beira a perfeição e proporciona um nível insano de imersão que esses dois problemas mal são sentidos.

Andar no carrinho de mina do Banco Gringotes, visitar Hogsmeade, conhecer um hipogrifo pela primeira vez, ter nosso primeiro contato com a Mandrágora.. Cada cena e trecho foi feito com muito carinho para os fãs e para jogadores novatos. Quem ainda não é apaixonado por esse universo mágico, certamente saíra rendido da experiência!

Defesa contra Artes das Trevas

Hogwarts Legacy funciona como um RPG de ação nos moldes de Assassin’s Creed mas claro que aqui usamos feitiços e uma varinha. Podemos aprender 21 feitiços ao todo, contudo, uma parte deles não possuem uso prático no combate. Expelliarmus, Incendio, Wingardium Leviosa.. Os fãs do bruxo já sabem o que esperar aqui. Os embates são fluídos e o jogo conta com uma boa quantidade de inimigos, porém, achei a distribuição péssima. Nas 20 primeiras horas de game você vai enfrentar os mesmos tipos de inimigos a todo momento, o que causa um senso de repetição que não é bem vindo.

Podemos levitar inimigos para incapacita-los, usar Expelliarmus para tirar a arma deles e usar Protego para defender e, claro, deferir contra ataques. A progressão lembra outros RPGs onde mudamos de nível com experiência e adquirimos pontos de talento que amplificam os efeitos dos feitiços. Um elemento interessante e novo aqui é a capacidade de usar Magias Ancestrais. Esses feitiços, que são letais, gastam um Medidor Arcano que demora um tanto para ser preenchido. É possível aumentar esse Medidor após desbloquear a tarefa secundária relacionada a ele.

Com golpes letais, as Magias Ancestrais rendem animações engraçadas e belíssimas que invocam raios do céu, transformam inimigos em galinha ou simplesmente faz com que eles evaporem. Usar e abusar do sistema é vital para vencer grupos poderosos de inimigos. O sistema de equipamentos é idêntico ao de Assassin’s Creed onde os itens possuem raridades distintas e atributos como Força e Defesa. Os sistemas se conversam bem e são um tanto quanto simples. Se você espera um RPG mais complexo, com sistemas de builds e uma variedade enorme de opções, você não vai achar aqui. Hogwarts Legacy é um “Light RPG” e funciona muito bem dessa forma. Os feitiços proibidos, como o icônico Avada Kedavra, também se fazem presentes e podem ser usados livremente. O jogo não possui um sistema de Karma, contudo, os personagens que estiverem ao redor reagem ao uso desses feitiços proibidos. Os inimigos ficam tremendo de medo após o uso da Avada Kedavra. E não pense que você vai usar eles livremente, visto que o tempo de recarga é bem longo!

A Herbologia e a Alquimia foram incorporadas de maneira magistral no combate. Podemos usar repolhos furiosos para causar dano nos inimigos e puxar uma Mandrágora para deixar os adversários confusos.. Também temos boas opções no campo das poções, onde a Poção do Trovão pode ajudar a limpar grandes grupos de inimigos, já a Poção da Invisibilidade pode tirar o jogador de situações perigosas. Considerados consumíveis, os itens podem ser usados com o uso de um único botão, o problema é se lembrar de fazer isso em meio ao belíssimo e frenético combate do game.

Muitos jogadores se preocupam com a dificuldade do combate. Hogwarts Legacy possui diversas opções de dificuldade. Experimentei toda a aventura na Dificuldade Normal e não tive muitos problemas. O jogador só vai precisar ficar atento ao timing da defesa e na quantidade de poções de cura.

Um mundo realmente mágico!

É na exploração que Hogwarts Legacy brilha e muito! No maior estilo Elden Ring, se prepare para gastar dezenas de horas nesse belíssimo universo esculpido com maestria. Como mencionei mais acima, as missões secundárias são muito bem escritas e revelam detalhes fantásticos sobre a mitologia de HP e, claro, sobre os personagens do game. Auxiliar Nérida em sua missão para se tornar uma embaixadora das sereias é fantástico. Além das missões secundárias, temos tarefas extras passadas pelos professores que nos ensinam novos feitiços. A cereja do bolo são as missões de personagens. São três questlines diferentes ao todo que duram quase que a campanha inteira, abordando diversos elementos do mundo bruxo. Recomendo fazer todas, algumas estão profundamente entrelaçadas com os filmes e livros da franquia!

Duelos, desafios convocatórios, corridas de vassouras, masmorras, ninhos de aranhas, cavernas, salas trancadas… o jogo não economiza no conteúdo e a cada momento vai lançar alguma atividade inédita ou algum puzzle muito bem estruturado pra você resolver. Por falar em puzzles, as Provas de Merlim são desafios que testam o raciocínio lógico do jogador e servem para aumentar o espaço de inventário. Para contabilizar essa “maratona” de atividades, temos acesso a uma espécie de diário chamado de Guia do Campo reunindo todos os desafios disponíveis e seus requisitos. A navegação nos menus poderia ser mais veloz e menos burocrática, mas não chega a incomodar tanto. Ao concluir os desafios, como eliminar 10 Trasgos, podemos resgatar itens cosméticos que irão alegrar os fashionistas.

O conteúdo secundário é vasto e, em similaridade com Elden Ring, ele recompensa muito o jogador. Cada trecho alternativo percorrido e tempo dedicado para missões secundárias é recompensado com novos loots, informações valiosas sobre alguém ou experiência. A frequência foi muito bem dosada levando em conta o tamanho de cada região e a variedade é boa o suficiente para afastar o senso de repetitividade. O melhor de tudo? Percorrer as regiões usando uma Vassoura ou o Grifo. Inclusive podemos aumentar a velocidade da vassoura através de uma pesquisa envolvendo corridas! Finalmente podemos voar livremente pelas terras que cercam Hogwarts e, bom, é um sonho virando realidade!

Por falar em voar, o quadribol faz uma falta tremenda e sua ausência é justificada assim que pisamos na Escola. Um aluno teve ferimentos graves e o Diretor Black decidiu interromper a prática do esporte. Felizmente a capacidade de voar foi mantida no jogo e temos um gostinho da adrenalina do quadribol através das já mencionadas corridas. Além disso, os apaixonados pelo esporte poderão testar suas habilidades explodindo balões espalhados pelo mapa. Os jogadores complecionistas terão muito trabalho pela frente e devem gastar em torno de 80 a 100 horas para concluir 100% do jogo. Cada detalhe foi pensado e construído de fãs para fãs, portanto, o tempo investido é instantaneamente recompensado com o sentimento de que estamos vivendo nossa própria aventura no mundo do bruxo mais querido de todos os tempos. Fique atento para os diversos segredos e enigmas do castelo. Puzzles matemáticos, portas trancadas, entradas secretas… Cada passo reserva uma nova surpresa! Por sinal, os colecionáveis do jogo dão gosto de ler e muitos carregam ensinamentos sobre esculturas, objetos ou personalidades famosas.

Para resolver muitos dos puzzles ou abrir as portas trancadas de Hogwarts será necessário feitiços específicos, portanto, não fique tentando forçar as coisas. Progrida na história e volte depois quando aprender novas magias. O conhecido Alohomora será vital para abrincar as trancas. Outro aliado importante na caça aos itens e colecionáveis será o Revelio. O feitiço funciona como um sensor que faz com que os baús brilhem na cor dourado e os colecionáveis brilhem na cor azul. Fique ligado que alguns colecionáveis não possuem indicador visual, apenas sonoro. Você vai ouvir uma espécie de tintilar indicando que existe alguma página do guia de campo por perto.

A Taça das Casas retorna, contudo, ela não é destacada como nos jogos prévios da franquia, o que pra mim é uma falha tremenda e ao mesmo tempo compreensível. Em Hogwarts Legacy, nossa jornada nos catapulta mais pra fora da Escola do que para o seu interior, logo, dá pra entender o motivo do estúdio não ter dado tanto foco para o evento. Outro ponto que me decepcionou um pouco foram as aulas e as tarefas extras dos professores. Elas mais funcionam como um tutorial de sistemas básicos e intuitivos do game do que como um mecanismo de imersão no mundo do jogo.

Hogwarts Legacy até tenta se aprofundar um pouco com sistemas de gestão envolvendo a Sala Precisa. Podemos decorar a sala ao nosso gosto e as opções são extremamente vastas. A Herbologia também apresenta um sistema interessante com vasos de tamanhos distintos para cultivar diferentes espécies de plantas com efeitos variados. A pegadinha? As plantas levam tempo real pra crescer, logo, o jogador precisa priorizar sua necessidade no momento ou planejar antecipadamente seus suprimentos para a próxima missão. Também temos referências diretas ao filme Animais Fantásticos e Onde Habitam. Podemos domar diversos tipos de criaturas e colocar as mesmas em um viveiro no interior da Sala Precisa. Ao cuidar dos bichanos, conseguimos materiais preciosos que são usados para melhorar nosso equipamento. E sim, você pode até fazer com que elas procriem, gerando filhotes adoráveis que ficam brincando no novo lar!

Parte Técnica

Tecnicamente falando, Hogwarts Legacy é quase perfeito. Padrão nos jogos de PlayStation 5, o game conta com diversos modos gráficos que irão atender todos os jogadores. Temos o modo de qualidade bruto, que prioriza os visuais no lugar do FPS, o modo de qualidade com ray tracing e o modo de desempenho. Joguei toda a aventura no Modo de Desempenho e essa é a minha recomendação. Como o combate é bem ágil e sempre coloca o jogador para duelar contra várias criaturas, priorizar o FPS é a melhor solução para o game. Não tive nenhum bug, contudo, tive notáveis quedas de FPS em embates contra muitas criaturas, principalmente na seção contra dois Trasgos. O pop in em certos trechos com muitos detalhes no cenário também é visível.

Independente disso, os visuais são maravilhosos e a modelagem de personagens ficou incrível. Ver pontes sendo construídas em nossa frente, reparar estátuas e elevadores, visitar Gringotes, Hogsmeade, voar livremente pelo mapa com vassoura ou grifo… Tudo flui muito bem e muitas paisagens são memoráveis. A direção artística apresenta muita identidade, tanto na arquitetura quanto no vestuário! Outro elemento digno de nota é a trilha sonora que parece ter saído diretamente dos filmes. O trabalho tanto das músicas e efeitos sonoros quanto da dublagem é impecável e impressiona muito. Ao percorrer uma área pantanosa por exemplo, conseguimos ouvir toda a fauna do lugar e a imersão é amplificada!

Outro ponto que impressiona é o controle. O DualSense brilha e se torna um elemento imprescindível no aumento da imersão. Temos a resistência dos gatilhos no lançamento de feitiços, sons saindo diretamente do alto falante do controle e sensações sendo transmitidas através do feedback háptico.

Por fim, mas não menos importante, o game conta com dezenas de pontos de viagem rápidas aqui chamados de Chamas de Flu. O tempo de carregamento é bem veloz, o que facilita e muito na locomoção pelo mapa que é gigantesco.

Hogwarts Legacy vale MUITO a pena!

De fãs para fãs. Essa frase resume bem o trabalho feito em Hogwarts Legacy. Cada trecho e detalhe do jogo exala a paixão que o estúdio apresenta pelo projeto e, no fim, quem é recompensado somos nós. Não somente o melhor jogo baseado no universo de Harry Potter, Hogwarts Legacy é mais um exemplo de um jogo de mundo aberto que beira a perfeição.

PS: Este review foi feito com uma chave do jogo para PS5 cedido pela assessoria da Warner Games.